O primeiro-ministro tailandês encarregou esta sexta-feira o exército de restabelecer a ordem em Bangcoc, onde os manifestantes antigovernistas intensificaram os protestos no bairro que ocupam há semanas. O líder do governo, Abhisit Vejjajiva, endureceu suas decisões depois de um novo fracasso das forças de segurança.
Eles tentaram, em vão, argumentar com os líderes dos “camisas vermelhas”, que protestam há mais de um mês para conseguir antecipar as eleições. Os dirigentes conseguiram escapar dos policiais que foram até o hotel onde eles estavam pela manhã. Um deles conseguiu fugir de maneira espetacular, saltando da varanda e descendo pela fachada do prédio com a ajuda de uma corda. Essa operação “não foi bem sucedida, mas o governo continuará tentando”, declarou Abhisit em um discurso transmitido pela televisão, sua primeira intervenção pública depois de quatro dias.
Ele anunciou que o chefe do exército, Anupong Paojinda, irá, a partir de agora, “se encarregar da atual situação” em Bangcoc, no lugar do vice-primeiro-ministro, Suthep Thaugsuban. Thaugsuban havia supervisionado uma tentativa, no dia 10 de abril, quando as forças de segurança foram recuperar o bairro ocupado pelos “camisas vermelhas” na antiga cidade.
Eles tiveram que recuar após confrontos violentos com os manifestantes, que deixaram 23 mortos e mais de 850 feridos. Um porta-voz do exército informou nesta sexta-feira que uma nova operação estava “planejada” para evacuar o único bairro ocupado pelos “vermelhas” no centro comercial e turístico. “Não sabemos quando e como”, disse Sunsern Kaewkumnerd. Enquanto isso, Abhisit reafirmou que as autoridades estão atuando para “retomar a normalidade” em Bangcoc.
“Quando se deixa os militantes tomarem o controle, a situação nunca termina pacificamente”, comentou Pavin Chachavalpongpun, pesquisador do Instituto dos Estudos sobre a Ásia, em Cingapura. O exército desempenha tradicionalmente um papel imprescindível na vida política do reino e alguns observadores não descartam a possibilidade de um golpe de Estado na atual e incontrolável situação.
Sob a perspectiva de uma invasão, os líderes dos “camisas vermelhas” continuaram, nos últimos dias, a reforçar os bloqueios do bairro de Ratchaprasong, que já tem os acessos fechados por caminhões e veículos posicionados estrategicamente. Na perspectiva política, o impasse é total. Os “vermelhas”, considerados aliados próximos do ex-primeiro-ministro exilado Thaksin Shinawatra, “recusam” todas as negociações com o governo. Eles afirmam que não deixarão Bangcoc enquanto não for anunciada a dissolução imediata da câmara baixa do Parlamento, bem como a saída de Abhisit, que chegou ao poder “ilegitimamente”, segundo eles.
O primeiro-ministro, que não cogita renunciar, prevê novas eleições só para o fim do ano. Silenciosos, os partidários do governo lançaram nesta sexta-feira um novo movimento: os “camisas rosas”. Reunindo cinco mil pessoas, eles exigem uma ação concreta para “restabelecer a ordem”. Os “rosas” tomam o lugar dos “camisas amarelas”, que foram às ruas em 2006 contra Thaksin e, dois anos mais depois, contra os partidários dele no poder. A Bolsa de Valores de Bangcoc perdeu 3,25% hoje, afetada pela preocupação dos investidores.