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Governo deve parar de ser porta-voz dos aumentos de preços decididos pelos empresários

Na minha explicação, disse-lhe que o que deve estar a levar certas pessoas a acusarem o governo pela elevada carestia da vida em Moçambique, se deve ao facto de ser o Executivo que, invariavelmente, tem assumido o inglório papel de anunciar esses aumentos, emitindo comunicados ou fazendo conferências de imprensa. Esta prática é, a meu ver, o que acaba cimentando, na cabeça de certas pessoas, a convicção de que quem aumenta os preços é o Governo de Guebuza.

Por exemplo, o último aumento do gasóleo foi o Governo que o anunciou, do mesmo modo que o havia feito nos anteriores aumentos. Até o aumento do preço do pão que entrou em vigor no dia 06 deste mês, foi também o Governo que anunciou e não os donos das padarias.

Isto, obviamente, tem levado o comum dos moçambicanos à crendice de que quem decide esses aumentos é o Executivo do Presidente Guebuza, quando, na verdade, quem aumenta os preços são os donos dos produtos que, neste caso, são os comerciantes, os proprietários das padarias, das gasolineiras e de toda a cadeia de comercialização do País.

Julgo que não devia assumir esse papel, porque a continuar assim corre o risco de morrer como peixe que, como todos nós sabemos, morre pela boca. Contei-lhe que uma vez alertei contra este risco um dos ministros, dizendo-lhe que esta coisa de ser o Governo a anunciar os aumentos dos preços, pode ser que um dia sobre mal ao executivo. Este último motim parece que acabou provando que fui profeta.

Disse-lhe que para mim, o governo deveria ser apenas um agente regulador, para que os aumentos a serem feitos sejam os que de facto são inevitáveis, mas nunca ser o porta-voz desses aumentos. O governo devia abster-se desta missão, se bem que deve fazer parte da discussão das margens dos aumentos que se têm de fazer, justamente para impedir que sejam exagerados.

Vinquei que este envolvimento do Governo já evitou várias vezes que os aumentos fossem exagerados, para além de que vezes houve em que teve de bloquear ao constatar que os aumentos não se justificavam. Noutros momentos, teve que optar por arcar os custos desses aumentos para evitar o pior, como o fez nos últimos 24 meses, quando o Executivo gastou quase 200 milhões de dólares a subsidiar as gasolineiras, para que o preço do combustível não se agravasse.

Mesmo agora o está fazendo ainda, se bem que selectivamente, para que o custo dos Chapas se mantenha. Disse-lhe que mesmo o custo do pão devia ser muito mais caro ainda do que passou a custar agora desde esta semana, caso o governo não tivesse tomado a decisão de isentar os direitos alfandegários na importação do trigo. Com essa isenção, o Tesouro está a perder cerca de 50 milhões de dólares por ano. Tudo isto faz parte de um pacote social que visa inibir neste caso o custo do pão.

Adiantei que posto tudo isto, não vejo também outra razão que agora está levando certas pessoas a acreditarem tão convictamente, que quem aumenta os preços e encarece a vida é o governo, senão por causa desse seu papel inglório de ser quem anuncia esses aumentos.

Já a terminar a minha explicação, esse meu amigo diria que pelo que esteve a ver e ouvir dos amotinados e de alguns dos comentadores e analistas que foram falando às rádios e Tvs, ficou com a sensação de que ainda há muitos moçambicanos que estão na letargia do socialismo, porque doutra forma, nunca poderiam atribuir toda a culpa para o governo.

Isso faria sentido se o País estivesse ainda numa economia socialista ou centralizada. Numa economia de mercado, os cidadãos é que dão ao Estado e não este aos cidadãos, como bem dizia o antigo presidente norte-americano, John Kennedy.

Mas para o meu colega Emílio Manhique, o problema não se resume à ressaca socialista, mas ao facto de uma das coisas mais difíceis de identificar correctamente ser a causa real de um problema, porque como sabe, muitos dos problemas são como a Lua, que como sabe, tem sempre um lado oculto que não se pode ver a olho nu.

È o caso dos comerciantes moçambicanos que passam a vida a agravar os preços dos produtos a cada vez que o governo aprova um novo salário mínimo, mas que já não acusam desse mesmo roubo os que o praticam todos os anos.

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