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Globalização dos Costumes

O Presidente Jacob Zuma vai casar com Bongiwe Gloria Ngema que o acompanhou recentemente numa visita oficial à China, lhe dará no começo do ano que vem o seu vigésimo segundo filho e será a quarta primeira-dama da África do Sul (em simultâneo).

O vigésimo primeiro nasceu à segunda primeira-dama há menos de três semanas. Alguns outros nasceram fora dos casamentos do pai a namoradas de pouca dura e o Estado não tem obrigações para com eles e respectivas mães – mas tem para com as mulheres legítimas do seu chefe e a prole destas. Serão em breve quatro, embora possam vir a ser mais: Zuma é zulu; os zulus são ciosos dos seus costumes que incluem um rei – Sua Majestade Goodwill Zwelithine, que reina e tem corte num canto da província do Natal da RAS –, vários rituais colectivos e o direito de se casarem com quantas mulheres quiserem (o rei tem seis rainhas).

Se a poligamia vem a rarear no nosso tempo não é por falta de vontade de a praticar devido a influência cristã – é porque sai muito cara. Ora as obrigações do Estado para com a(s) família(s) do seu chefe são também financeiras. Helen Zille, chefe da oposição no Parlamento, considerou exorbitante o “orçamento das esposas presidenciais” que dobrou do ano passado para este ano. O ANC acusou logo Zille de “intolerância cultural”. Assim, é um incómodo orçamental e não qualquer engulho moral manifesto que poderá vir a transformar a poligamia de Zuma num problema político.

Os zulus sempre foram como são; os ingleses bateram-se contra eles e ganharam mas, na prática de “governo indirecto” das colónias, deixaram-nos guardar os seus costumes – desde que praticassem lá na terra deles.

Mutatis mutandis, tal aconteceu em muitos outros lugares. Além disso, homenagear antigos terroristas como o arcebispo Makarios de Chipre ou Nelson Mandela (que pernoitou em Buckingham Palace, hóspede da Rainha, e gostaram tanto um do outro que passaram a falar-se de vez em quando pelo telefone) serviu depois razões de Estado.

Para honrar Samora Machel Portugal devolveu solenemente a Moçambique os ossos de Gungunhana, desenterrados nos Açores. Mas era até agora um dado adquirido que as regras e normas protocolares do Ocidentecentro- do-mundo se impunham às outras. Quase excepções, só diante de grandes poderes: para não ofender um de dois marajás importantíssimos que iam ser recebidos à mesma hora em Londres (qual deles entraria primeiro?) foi rasgada mais uma porta no gabinete do ministro que os recebia entraram os dois ao mesmo tempo.

A “intolerância cultural” acabou. Para os europeus e americanos, lidar com o resto do mundo dá mais trabalho e é mais incerto agora porque compreender o outro custa muito mais do que mandar no outro. E é pior ainda quando da forma se passa ao fundo. Os ocidentais, por exemplo, têm o hábito inveterado de se culpabilizarem – o que não passa nunca pelas cabeças chinesas. Não é bom augúrio para os manoa- mano ao perde-paga que se seguem.

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