Os cientistas sequenciaram o genoma do gorila, última espécie de grandes primatas a ter seu genes descodificados, e disseram que esse trabalho esclarece algumas diferenças entre macacos e humanos, inclusive a sua capacidade de produzir espermatozoides competitivos.
A pesquisa também confirma que o nosso parente mais próximo é o chimpanzé, mas revela que cerca de 15 por cento do mapa genético humano é mais parecido com o do gorila do que com o do chimpanzé.
Mais do que as semelhanças, no entanto, foram as diferenças que intrigaram os cientistas, caso dos genes envolvidos na produção do esperma, segundo Chris Tyler-Smith, integrante do grupo que apresentou as suas conclusões numa entrevista ao telefone.
“Os gorilas vivem em grupos com um macho e muitas fêmeas, então não há muita oportunidade para a competição entre espermatozóides”, explicou ele.
“Foi interessante para nós vermos que alguns genes envolvidos na formação do esperma (…) ou haviam se tornado inactivos nos gorilas, ou diminuíram em termos do número de cópias.”
O estudo foi publicado, Quarta-feira, pela revista Nature. Aylwyn Scally, que trabalha no Instituto Wellcome Trust Sanger, da Grã-Bretanha, e comandou a pesquisa, disse que “o genoma do gorila é importante porque conta-nos sobre uma época crucial em que estávamos a divergir dos nossos primos evolutivamente mais próximos”.
O genoma humano foi desvendado em 2003. Seguiram-se os do chimpanzé (2005) e do orangotango (2011).
“As comparações entre eles podem ajudar-nos a explorar a origem dos humanos, quando nos separamos das grandes espécies de símios na África, entre 6 e 10 milhões de anos atrás”, disse Richard Durbin, que também trabalhou no estudo do Instituto Sanger.
Os genes relacionados à percepção sensorial, audição e desenvolvimento cerebral apresentaram uma acelerada evolução para humanos, gorilas e chimpanzés, mas isso foi especialmente notável nos humanos e nos gorilas.
A equipe concluiu que os gorilas diferenciaram-se dos ancestrais de humanos e chimpanzés há cerca de 10 milhões de anos, e que a sua divisão entre as duas espécies actuais, gorilas do leste e do oeste, foi muito mais recente e gradual.
Eles compararam essa diferenciação à ocorrida entre chimpanzés e bonobos, e entre humanos modernos e neandertais.