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Gás extraído em Inhambane não serve para cozinhar em Moçambique nem baixa o custo da electricidade

Gás extraído em Inhambane não serve para cozinhar em Moçambique nem baixa o custo da electricidade

O gás natural extraído em Inhambane nunca foi transformado em LPG (Liquefied Petroleum Gas ou GPL Gás liquefeito de Petróleo), e usado para cozinhar em Moçambique. “O gás de cozinha vem de diversas fontes, recebemos da Nigéria, já recebemos do Chile” revelou ao @Verdade o director da IMOPETRO, João Macandja. Apesar de estar a ser usado na produção de energia eléctrica o gás de Pande e Temane também não tem contribuído para a redução da factura que os moçambicanos pagam à Electricidade de Moçambique.

Os moçambicanos não percebem porque razões sendo o país produtor de gás natural, desde 2001, o preço das botijas de gás não se torna mais barato e que motivos ditam a escassez do combustível em alguns períodos.

A verdade é que grande parte do gás natural extraído pela petrolífera Sasol é exportado para a África do Sul e não é o adequado para ser transformado em gás de cozinha. Existe algum gás natural que é canalizado para cerca de 2 mil famílias na Província de Inhambane mas a sua massificação para o resto dos moçambicanos não tem viabilidade económica.

“O gás natural, aquele que é extraído em Temane, chama-se LNG” começou por esclarecer ao @Verdade o director da Importadora Moçambicana de Petróleos (IMOPETRO), explicando que “é completamente diferente do gás usado nas botijas, nós estamos a usar o liquefeito, que é derivado de petróleo, um sub produto das refinarias de crude”.

João Macandja clarificou que o LPG/GPL usado em Moçambique é uma mistura de probano e butano, “é a nossa especificação, tem a ver com o tipo de equipamentos que temos aqui, tem a ver com as temperaturas de África”.

Foto de Adérito CaldeiraO director da IMOPETRO revelou que até 2012 o gás de cozinha era importado da África do Sul, “vinha da refinaria da Engen ou da refinaria da Sasol, que produzem a partir de carvão” em camiões cisterna.

“Os volumes começaram a subir, hoje é quase impossível pensar que aquilo que Moçambique consome de gás (de cozinha) pode ser importado da África do Sul via camião. Nós estamos com um consumo hoje em dia de 150 toneladas, para as termos deveríamos receber no mínimo 8 camiões cisterna (de 20 toneladas) por dia, o que é um pesadelo, só para descarregar cada um demora 4 horas, e depois era preciso fazer o enchimento das botijas”, disse Macandja.

De acordo com o nosso entrevistado Moçambique deixou de importar gás de cozinha da África do Sul “quando a Petromoc investiu na infra-estrutura de armazenam de cerca de 3 mil toneladas de GPL (na Matola), nessa altura deixamos de importar de camião (…) Na verdade o que nós passamos a ter é o efeito de economia de escala, a partir da altura em que começamos a lançar concursos para segmentos maiores”.

Gás de Pande e Temane também não tem contribuído para a redução da factura que os moçambicanos pagam à EDM

Portanto o gás natural extraído em Temane e Pande não serve as cozinhas dos moçambicanos, salvo uma pequena minoria que em Inhambane recebe-o canalizado, da produção anual que ronda os 185 milhões de gigajoules apenas 6 milhões de gigajoules são destinados ao nosso país e está a ser usado maioritariamente na produção de energia eléctrica pela Produtores Independentes Gigawatt Moçambique, Central Térmica de Ressano Garcia e, desde o ano passado, a Central Termoeléctrica de Ciclo Combinado de Maputo.

Mas a energia produzida por estes Produtores Independentes (IPP, Independent Power Producer) com gás natural de Moçambique é um grande encargo para a Electricidade de Moçambique (EDM) e foi um dos motivos dos sucessivos aumentos dos preços da energia para os moçambicanos.

O @Verdade apurou que quando entraram em funcionamento pleno, em 2016, custaram 238 milhões de Dólares dos 333 milhões que a EDM despendeu na compra de energia eléctrica para revender aos moçambicanos, enquanto a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) o custo foi de 41 milhões. Em 2017 a factura da Electricidade de Moçambique com Gigawatt Moçambique e a Central Térmica de Ressano Garcia subiu para 255 milhões de Dólares norte-americanos, enquanto o custo da HCB reduziu para 30 milhões.

EDM

O @Verdade descortinou que o custo destes IPP´s é muito mais alto do que da Hidroeléctrica de Cahora Bassa. Enquanto a HCB vende cada quilowatt/hora a 3,5 cêntimos do Dólar a Gigawatt Moçambique e a Central Térmica de Ressano Garcia, vendem a 10 e 15 cêntimos do Dólar por quilowatt/hora, respectivamente.

A dúvida que os moçambicanos têm porque motivos a EDM compra energia mais cara a Produtores Independentes se Cahora Bassa “é nossa” desde 2007 foi clarificada pelo Governo, na Assembleia da República.

Eskom compra energia de Cahora Bassa por dez vezes que a EDM

A HCB “foi concebida e desenvolvida exclusivamente para fornecer energia a África do Sul, existindo por isso contratos de longo prazo celebrados no período anterior a independências e cujas bases, mesmo com a reversão ainda se encontram em vigor”, declarou o ministro da Energia e Recursos Minerais, durante a última sessão de Perguntas ao Governo pelos deputados do Parlamento.

“Com a independência nacional foram encetadas negociações que permitiram a alocação de energia do empreendimento de Cahora Bassa para Moçambique e foram estabelecidas as bases para incrementos subsequentes, dentro de uma reserva que foi crescendo mas ainda limitada até aos actuais 300 Megawatts de potencia firme, mantendo-se a África do Sul como o principal tomador com 80 por cento dos direitos. Procuramos assim seguir o mesmo processo e neste quadro que, após a reversão, foram negociadas alocações não firmes estando em curso um processo visando o incremento de potencia firme para mais 200 Megawatts em condições que assegurem mais disponibilidade para Moçambique e a sustentabilidade do empreendimento”, explicou semana passada Ernesto Max Tonela.

O @Verdade sabe que os contratos da HCB com sul-africana Eskom e que remontam ao período anterior a independência nacional duram pelo menos até 2029.

O @Verdade apurou que a Eskom compra a energia de Cahora Bassa a 0,35 cêntimos do Dólar por quilowatt/hora, dez vezes menos do que o preço que vende à Electricidade de Moçambique.

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