O negócio de sexo tornou-se uma das principais actividades de sobrevivência para algumas famílias na cidade de Nampula. Grande parte de mulheres que abraçam a prostituição invoca argumentos relacionados com a pobreza, a violência doméstica e o desemprego. Porém, Argentina Luís é uma excepção, pois não enveredou por aquela que é considerada “vida fácil”, apesar de sofrer frequentemente agressões físicas perpetradas pelo seu marido.
Rabia*, de 35 anos de idade, é chefe de um agregado familiar constituído por três pessoas, dois dos quais seus filhos. Vive no bairro de Carrupeia, arredores da cidade de Nampula. Natural do distrito de Chiúre, província de Cabo Delgado, ela chegou a Nampula em 1990 a convite de um grupo de amigas que a encorajaram a usar os seus atributos físicos para ganhar dinheiro.
Na considerada capital do norte, Rabia começou por viver em casa de uma amiga e, posteriormente, quando passou a ganhar algum dinheiro, arrendou o seu próprio espaço, uma modesta residência nos subúrbios de Nampula. Ela desconhece o ano em que abraçou a prostituição, mas recorda-se de que na altura era uma adolescente e vivia na vila sede do distrito de Chiúre.
“Nessa altura, a estrada principal estava em reabilitação e os meus clientes eram maioritariamente os trabalhadores envolvidos nas obras e, mais tarde, mudei-me para Nampula em busca de uma oportunidade de emprego”, conta. Na cidade de Nampula, Rabia frequentava as khangalas – como são conhecidos os locais de venda de bebida tradicional – onde conseguia alguns clientes.
“Mais tarde, enveredei pelo fabrico e venda de cabanga”, diz. Quando comercializava aquela bebida de fabrico caseiro, ela recebia por parte dos compradores promessas de casamento todos os dias, tendo acabado por se envolver com um deles. A relação, da qual resultou uma menina, foi sol de pouca dura. O sonho de formar uma família ruiu. Sem emprego, Rabia voltou a abraçar a prostituição para garantir o seu sustento diário e da sua filha. “Não tive outra escolha. Durante o dia vendo petisco de galinha e, no período da noite, vou para a rua porque o dinheiro nunca chega para suprir todas as necessidades”, afirma.
O seu “posto de trabalho” era a esquina da Pensão Nampula, tendo passado pelo Clube de Ténis e, presentemente, lidera um grupo de prostitutas que frequenta uma casa de pasto, vulgarmente conhecida por “Bar da Liga”, no prolongamento da Avenida Eduardo Mondlane. “Em todas as esquinas existem alguns grupos. Uma vez que a profissão tem vindo a arrastar um número crescente de mulheres, optámos por organizar-nos em turnos”, disse a fonte. Os valores cobrados são fixados pelas prostitutas, sendo que o mais baixo é 200 meticais. “Há vezes que somos obrigadas a cobrar abaixo da tabela estabelecida, mas isso ocorre nas segundas-feiras, visto que o movimento tem sido fraco.
Nos fins-de-semana, chegamos a amealhar pouco mais de dois mil meticais”, frisou. Volvidos alguns anos, Rabia considera-se uma mulher realizada, porque já vive em casa própria e garante o sustento dos seus dois filhos. A nossa interlocutora afirmou que o negócio de sexo é uma “profissão bastante dura e arriscada”, uma vez que as mulheres passam por diversos constrangimentos, nomeadamente agressões físicas, injúrias, entre outras situações. “Não aconselho as mais novas a abraçarem esta vida, disse.
Violência doméstica: um drama para o resto da vida
Contrariamente as mulheres que, durante a noite, se fazem às ruas de Nampula para ganhar o pão passando por várias situações, Argentina Luís, de 34 anos de idade, mãe de três filhos, natural do distrito de Ribáuè, e residente no bairro de Murrapaniua, vive um outro drama. Argentina é vítima de frequentes agressões físicas, protagonizadas pelo seu marido, que responde pelo nome de Benjamim Raul. Desempregado, o esposo ganha a vida vendendo bebidas alcoólicas de fabrico caseiro.
Apesar da violência doméstica por que passa diariamente, ela não pensa em abandonar o seu lar e, muito menos, denunciar o seu cônjuge. O calvário daquela cidadã começou quando em 1990 o casal se aventurou a deixar Ribáuè para morar na cidade de Nampula. Em 1993, quando tiveram o primeiro filho, o esposo começou a ingerir bebidas alcoólicas de forma descontrolada e, todas as vezes que regressava à casa, proferia insultos dirigidos à sua companheira.
Depois do nascimento do primeiro filho, Raul passou a não deixar dinheiro para as despesas da casa e estava sempre ébrio. Com o andar do tempo, o ambiente em casa começou a tornar-se mais tenso e ele passou a agredir fisicamente a esposa. Presentemente, com três filhos, a cidadã diz que não se consegue esquecer do drama que viveu durante a sua juventude e o que vive na actualidade, uma vez que todos os seus filhos já foram vitimas das acções desumanas perpetradas pelo seu esposo.
Em 2012, o casal mudou-se para o bairro de Napipine, depois de ter vendido a casa onde residia, no bairro de Carrupeia, unidade comunal 8 de Março. Naquela circunscrição geográfica, Argentina e os seus filhos continuaram a ser vítimas de violência doméstica. Porém, os residentes daquela zona, constatando o drama por que Argentina e os petizes passavam, decidiram expulsar o esposo.
Sem condições para pagar a renda da casa e sustentar os seus filhos, Argentina decidiu seguir o seu marido que havia comprado uma outra moradia no bairro de Murrapaniua, onde continua a ser vítima de violência doméstica, esperando, pacientemente, que o seu parceiro mude de comportamento.
* Nome fictício