Os auxiliares administrativos de quase todas as escolas da província de Nampula encerraram, na manhã desta quinta-feira (22), os seus postos de trabalho e dirigiram-se à Direcção Provincial da Educação desta parcela do país para exigir o pagamento de seis meses de salários em atraso. O caso, que já teve várias intermediações fracassadas, arrasta-se desde princípios deste ano.
Os grevistas empunharam batuques e panfletos com diferentes dizeres e amotinaram-se defronte da Direcção Provincial da Educação entoando canções. Ao @Verdade contaram que no fim de Outubro passado, os auxiliares administrativos e alguns professores de diversas categorias endereçaram uma carta àquela Direcção, na qual davam a conhecer que iriam se manifestar contra os sistemáticos atrasos no pagamento dos seus ordenados mensais.
A missiva teve como resposta a justificação segundo a qual não se pagava salários por causa da falta de uma autorização da mesma Direcção.
Entretanto, este Novembro os professores começaram a receber os seus ordenados, pagamento este que não abrangeu os auxiliares administrativos das escolas.
Estes, sentindo-se discriminados e cansados de aguardar durante meses a fio sem ver a cor do dinheiro que lhes é de direito, decidiram abandonar os seus sectores de trabalho e amotinarem-se defronte da Direcção Provincial da Educação, como último recurso de exigir o que garante o sustento das suas familiares. Primeiro encerraram as portas desta instituição para garantirem que ninguém trabalhasse.
Escola Secundária de Muatala
Domingos Armando, de 37 anos de idade, é funcionário da Escola Secundária de Muatala, arredores da cidade de Nampula, desde o ano de 2007. Tem sete filhos e conta que não tem como sustentá-los, pois há bastante tempo que não aufere o seu salário.
“A direcção alega que não estou nomeado, por isso o meu salário foi retido. Mas desde 2008 que tento remeter os documentos para a referida nomeação no Aparelho do Estado e não tenho recebido resposta satisfatória. Acho que os meus documentos ficam perdidos, propositadamente, nos cacifos dos que os recebem. O curioso é que alguns auxiliares administrativos também sem nomeação recebem os seus salários mesmo sem cabimento orçamental como alegam. E depois de muito tempo sem a aprovação dos documentos para a nomeação, a Direcção Provincial me informa que já ultrapassei a idade exigida para o efeito no Aparelho do Estado”.
Escola Secundária de Maparra
Antónia Fernando, de 45 anos de idade, é funcionária da Escola Secundária de Maparra. Disse-nos que há muito tempo que está a submeter a sua documentação para nomeação, mas não são despachados.
Entretanto, os seus seis filhos não têm o que comer porque ela é que é chefe da família. Divorciou-se há cinco anos e não mais pensou m casar. “Se não querem que agente continue a trabalhar, que façam as contas e nos indemnizem porque sem os pagamentos não voltarem para os nossos postos de trabalho”, ameaçou.
“Os auxiliares administrativos não submeteram a documentação a tempo” – director provincial adjunto da Educação e Cultura
Abordado pelos jornalistas, o director provincial adjunto da Educação e Cultura de Nampula, José Óscar Chichava, responsabilizou os próprios auxiliares administrativos pelo cancelamento dos seus salários. “Eles não cumpriram com as recomendações emanadas no sentido de remeter os seus documentos para efeitos de nomeação no Aparelho do Estado”.
Entretanto, Chichava não avançou soluções concretas para o problema. Os grevistas prometem não arredar o pé da Direcção Provincial da Educação enquanto o assunto não for satisfatoriamente resolvido.