O ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, decidiu deixar o cargo de enviado especial da comunidade internacional para a Síria, dizendo-se frustrado com as recriminações contra as Nações Unidas enquanto a guerra civil no país árabe torna-se cada vez mais sangrenta.
Enquanto as forças rebeldes e governamentais continuam a enfrentar-se em Aleppo, segunda maior cidade síria, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, anunciou que Annan irá ficar no cargo só até o fim do mês.
“Kofi Annan merece a nossa profunda admiração pela forma desapegada com que colocou as suas formidáveis habilidades e o seu prestígio nessas tarefas tão difíceis e potencialmente inglórias”, disse Ban, acrescentando que um novo nome está a ser discutido.
A missão de Annan estava centrada num cessar-fogo que foi declarado em abril, mas nunca chegou a ser integralmente cumprido.
O seu trabalho vinha parecendo cada vez mais irrelevante, num momento em que os combates intensificam-se em toda a Síria, inclusive nas duas maiores cidades do país, Aleppo e Damasco.
Annan disse que decidiu renunciar por causa das “trocas de acusações e xingamentos” no Conselho de Segurança, e desejou mais sorte ao seu sucessor. A Rússia e o bloco formado por EUA, Grã-Bretanha e França começaram a acusar-se mutuamente pela saída de Annan.
Um diplomata graduado do Conselho disse que é hora de admitir a “profunda irrelevância dum Conselho de Segurança impotente” no caso da Síria. O governo sírio lamentou a saída do mediador.
Annan insinuou que o contínuo fluxo de armas para as partes em conflito e o impasse entre aliados e adversários do governo sírio no Conselho de Segurança afetaram as chances de sucesso da sua missão.
“A crescente militarização no terreno e a clara falta de unidade no Conselho de Segurança alteraram fundamentalmente as circunstâncias para o exercício efectivo do meu papel”, disse Annan aos jornalistas.
Martin Nesirky, porta-voz de Ban, não quis comentar sobre quem assumirá o lugar de Annan, mas disse que uma decisão deve sair em breve.
Nos últimos meses, China e Rússia têm usado o seu poder de veto para impedir o Conselho de adotar qualquer resolução contra o presidente da Síria, Bashar al Assad, cujo governo reprime com violência há 17 meses uma rebelião que é parte da chamada Primavera Árabe.
No mais recente campo de batalha do conflito, Aleppo, a disputa pelo controle da cidade intensificou-se.
Durante a Quinta-feira (2), os rebeldes capturaram um tanque do governo nos arredores da cidade e dispararam o seu canhão contra uma base aérea do governo.
As tropas de Assad continuaram a usar canhões, artilharia e apoio aéreo para bombardear o estratégico bairro de Salaheddine, na zona sudoeste da cidade de 2,5 milhões de habitantes.
Enquanto isso, os rebeldes consolidaram o seu controle sobre outras áreas. Em Damasco, os soldados ocuparam um subúrbio, Quarta-feira (1), e mataram pelo menos 35 pessoas, a maioria civis desarmados, segundo os relatos dos moradores e activistas.