Chegam-me notícias da fuga de Dhlakama da sua base em Sathungira. Em casos desta natureza, a prudência desautoriza qualquer espécie de certeza, mas não consigo deixar de pensar que durante as negociações no Centro de Conferências Joaquim Chissano estava a ser urdido, ao mais alto nível, um esquema para acabar com o “pai” da democracia. Se, claro, compreendermos que a única pedra no sapato de Armando Guebuza, depois da sua incontestável vitória no congresso de Muxara, é Dhlakama.
A manutenção de Guebuza como “dono” da Frelimo e o poder que terá sobre o futuro Presidente de Moçambique permitir-lhe-á – enquanto líder do partido que manda no país – governar de acordo com o sal do seu próprio arbítrio. Aqui não é preciso lembrar que qualquer militante da Frelimo subordina-se ao Presidente do Partido. E Guebuza sabe, de ciência certa, que não deve correr o risco de ver o seu poder colocado em causa. Aliás, para evitar que Chissano estivesse acima do actual Presidente da República, Guebuza foi colocado na cadeira mais alta do partido. Situação que, como é previsível, não acontecerá com o futuro Presidente da República.
O poder de Guebuza dentro do partido é incontestável. Os pronunciamentos de grandes figuras do partido – antes apologistas da resolução de quezílias no seio da Frelimo – fora do perímetro da formação política da Pereira do Lago não passa, na verdade, da perca de espaço dentro do mesmo. O que lhes sobra, actualmente, é gritar e espernear. O que significa, na realidade, que Guebuza tomou o poder e os demais, no seio do partido, estão apenas desesperados, mas não podem fazer absolutamente nada porque deixaram que lhes atassem os braços.
Portanto, a ideia de acabar com Dhlakama visa, no meu entender, extirpar qualquer espécie de oposição ao poder do Presidente da Frelimo. O perigo, se tal suceder, será o de Guebuza tornar-se dono e senhor do nosso destino dono colectivo. E isso representa uma enorme perigo para a liberdade de expressão neste rochedo à beira-mar.
Olhando para a situação actual já atingimos um ponto irreversível. O mais certo é Dhlakama morrer como Savimbi ou sair vivo e derrotado e desacreditado das matas de Gorongosa. E depois disso nem o voto será capaz de tirar a Frelimo do poder. O silêncio ou a compra da consciência de certa imprensa mostra o caminho que estamos a trilhar. Um caminho perigoso e sinuoso.
Espero estar errado, mas julgo que a morte certa de Dhlakama ou a sua rendição colocar-nos-á num país com liberdade aparente. Onde as eleições realizar-se-ão para mostrar ao ocidente que vivemos num país livre. Partidos como MDM servirão apenas para legitimar eleições onde a verdade das urnas será estuprada em benefício dos mesmos líderes de sempre. Eu já não tenho saudades do futuro.