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Foi-se o TUNDURO

Foi-se o TUNDURO

Depois de três dias de actividade cultural, terminou no Domingo (29) a primeira edição do Festival Internacional de Artes Tunduro – um evento que se pretende anual. Atrasos, alterações sucessivas nos horários sem aviso prévio e a indisponibilidade dos organizadores em prestar qualquer tipo de informação à imprensa poderiam ter manchado o festival não fosse a brilhante actuação dos artistas convidados.

É sempre difícil ter de escolher o que valeu a pena ver dentro de um cartaz variado e com eventos a acontecerem em três noites, na sua maioria em simultâneo, mas para quem foi assistir à abertura do primeiro Festival Internacional de Artes denominado Tunduro, que teve lugar de 17 a 29 de Agosto último, o desafi o foi: esperar o início do concerto “Celebrando Fany Pfumo e Alexandre Langa”, previsto para iniciar às 18h30, mas que só teve lugar uma hora mais tarde. Não fosse a brilhante actuação dos músicos convidados, o show de abertura do festival não deixaria, de modo algum, boas lembranças, ou seja, teria sido um fracasso.

Aliás, a qualidade de som e luz não foi dos melhores, tomando-se em consideração a dimensão do evento. Numa noite que poderia ter sido memorável, a música moçambicana esteve em peso: diversas vozes da música ligeira deram o seu lustre numa homenagem mais do que merecida a Alexandre Langa e a Fany Pfumo. Xindiminguana, acompanhado por Chico António, Seth Swazi, João Cabaço, António Marcos, entre outros, foi o primeiro a actuar e fê-lo como quem não quisesse ser ouvido, ou seja, realizou o menos interessante concerto de que há memória no país.

Seguiu-se António Marcos que fez questão de não deixar os seus créditos em mãos alheias. Na sua habitual forma de dançar, o autor de “Antoninho Maengane” pôs o público em êxtase com a sua vibração e entusiasmo. Já Moreira Chonguiça subiu ao palco sob aplausos dos espectadores ávidos de assistirem à actuação do saxofonista. Com uma discografia ainda curta (dois álbuns já editados) mas em ascensão no mundo da música, Chonguiça não se apresentou inspirado para dar o melhor de si – soprar esmeradamente o saxofone -, mas não deixou de contribuir na homenagem, o que lhe valeu efusivos aplausos do público. Depois, Xindimiguana voltou a tomar as rédeas, desta vez contribuiu com uma interessante actuação. Hortêncio Langa, Chico António, Seth Swazi e João Cabaço foram os outros músicos que fizeram as delícias do público que se fez presente no Centro Cultural Franco-Moçambicano.

Estes músicos realizaram um concerto entusiasmante e confi rmaram a sua classe. Todos os artistas apresentaram composições de Alexandre Langa e Fany Pfumo, temas com mais de 30 anos, mas actuais, uma vez que os mesmos abordam situações sociais do dia-a-dia dos moçambicanos. Quando os músicos moçambicanos deram por terminado o espectáculo de homenagem àquelas duas fi guras, o público clamava por mais um tema. Os artistas não se fi zeram de rogados e fi zeram a plateia levantar- se do chão.

O balafone de Keita

Depois de uma pausa de cerca de duas horas, entrou em cena o artista de cartaz, Aly Keita. Mas a entrada do instrumentista costa-marfinense foi antecedida de uma boa actuação de Wazimbo e Chico António que viria a ser interrompida por uma interpretação deslumbrante das actrizes Lucrécia Paco e Joana Fartaria que deixou a audiência na dúvida, pois não o público não sabia se se tratava de uma peça de teatro ou de um “bate-boca” entre duas mulheres. Aly Keita, principal atracção da noite, com o seu balafone, deixou muita gente à porta da sala de espectáculo da CCFM. Digressões sucessivas por África levaram-no ao palco moçambicano para promover o seu álbum e o balafone.

O músico revelou todo seu virtuosismo deixando os espectadores em estado de delírio. O som envolvente, formando uma melodia indescritível, do instrumento que se parece com a timbila enchia por completo o recinto do franco. Mas a salvação da noite viria a acontecer quando o som do balafone se misturou com o da timbila e da guitarra de João Cabral, diga-se uma combinação perfeita que expelia espectacularidade. Para fi nalizar, a cantora zambiana Maureen não deixou os seus créditos em mau alheias e fez a apresentação do seu álbum composto por diversos estilos musicais como soul, jazz e uma mistura de afro e música contemporânea. Além da música, também marcaram a abertura do evento uma exposição fotográfi ca sobre indivíduos que sofrem de albinismo, feira de livros e discos, artesanato, entre outras actividades culturais.

Num casamento vocal entre Hip Hop e Pandzula PJ powers “jabulisa” em Maputo O dia “D” do Festival

Tunduro ficou marcado por duas surpresas no palco do CCFM: uma agradável; e outra, uma desilusão. O público primou pela ausência e gorou as expectativas da organização. Nos antípodas, Penélope Jane Dunlop, nome completo de cantora sul-africana PJ Powers, estreou-se no evento da melhor forma: genuína. Mas a noite foi também da aposta ganha e garantida do sempre efi caz Hip Hop Pandzula.

Com um total de 15 álbuns, PJ Powers é muita conhecida em Moçambique, talvez pelo facto de já ter actuado antes, razão que não explica o porquê da fraca afl uência do público ao Centro Cultural Franco-Moçambicano. Perto da casa dos 50 anos de idade, PJ Powers brincava com o microfone ao mesmo tempo que exigia aplausos do público. Aliás, aplausos que merecia mais do que exigia. Powers brindou o público com um reportório que partiu de músicas históricas e lendárias e desaguou, tal como um rio, em composições mais recentes.

Estamos a falar dos temas como o “Feel so strong”, que ela própria escreveu, o “Together with you are so good to me”, o “Shosholoza”, o “Home to Africa” e o “Jabulani”, escrita pelo baixista George Van Dyk, membro da banda Hotline. São trabalhos – muitos deles – que refl ectem o seu patriotismo, mas que lhe valeram, na vigência do apartheid, altura em que iniciou a sua carreira, momentos ‘amargos’. Em 1988 já numa carreira a solo, depois de ter estado como vocalista na banda rock, Hotline, as suas músicas foram banidas pelo governo do apartheid das rádios e das televisões em virtude de uma actuação num concerto de caridade para órfãos de guerra no Zimbabwe, juntamente com Miriam Makheba e Harry Belafonte.

À beira de deixar o mundo da música, foi encorajada pelo líder da luta contra o apartheid, Nelson Mandela, a não deixar de cantar. Mandela endereçoulhe uma carta a partir da prisão Victor Verster, na Cidade do Cabo. PJ Power escreveu em 2005, em jeito de agradecimento, uma música pela passagem do 85o aniversário de Mandela. Por sua vez, o jovem Hip Hop Pandzula, abreviadamente designado HHP, ou simplesmente pelo seu nome Jabulani Tsambo, que caminha para os 15 anos no mercado musical, teve tempo também para mostrar o que vale.

Como o seu nome sugere, Hip Hop Pandzula nada mais é do que uma mistura de dois estilos musicais, Hip Hop (originário das minorias negras dos EUA) e Pandzula (estilo musical originário da África do Sul). Tswaka-tswa-tswa-tswaka…, estava a rimar HHP, depois de ter em 2007 lançado o “Acceptance speech” com o single “Music & Lights”, que cantou com a participação da norte-americana Amerie. Juntando-se a PJ Powers, produz um álbum que aqueceu os fãs dentro e fora dos estádios durante a Copa do Mundo na África do Sul.

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