Foi ao cair da noite desta quinta-feira 5, por volta das 18 horas, quando a casa do casal Camilo e Ana, foi surpreendido por fortes labaredas. Ligaram para o Corpo se Salvação Pública (Bombeiros), mas debalde. Só mais de uma hora depois, com a ajuda dos vizinhos, conseguiram debelar o fogo que reduziu a cinza todos os bens desta pacata família.
O incêndio registou-se no bairro de Khongolote, no município da Matola, capital moçambicana. Ricardo Alfredo teve a sorte de ver o cubículo deste jovem casal a ser consumido pelo incêndio que se presume-se tenha sido provocado por um menor de cinco anos que se fazia acompanhar pelo seu irmão de 3 anos, o mais velho pegou num fósforo que a mãe acabava de comprar e atirou o palito aceso sobre a cama, e daí irrompeu a desgraça desta pacata família.
“Eu estava aqui na vizinhança, vi fortes chamas e fumaça escura a sair do interior da casa. Para debelar o fogo precisámos de cerca de uma hora, levámos muito tempo porque estávamos a usar água e areia. Enquanto as mulheres traziam bacias contendo água, entre nós os homens uns pegavam nas pás de areia e lançavam ao interior e outros faziam o mesmo com os recipientes de água”, conta Jacinto Matavele, uma testemunha, acrescentando que a dona da casa tinha se deslocado a um mercado próximo para comprar vela que serviria de iluminação durante aquela noite que só foi nefasta, quando a Ana se apercebeu que a casa tinha pegado fogo e com o seu filho de 3 anos de idade dentro, voltou a correr e conseguiu arrastá-lo para fora da habitação ileso.
Ana Manhique a dona de casa conta na primeira pessoa como tudo aconteceu: “Quando voltei do serviço por volta das 19 horas, encontrei as duas crianças. Deixei a minha ‘trocha’ e um fósforo por cima da mesa e, logo de seguida fui a um mercado local comprar vela” conta para depois acrescentar que pouco tempo depois, o seu filho Lourenço de 5 anos de idade a perseguiu dizendo que a cama onde se encontrava o mais novo Vitinho de 3 anos estava a arder. Surpreendida a Ana voltou a correr à casa e de facto viu que os bens no interior já estavam a ser reduzido a cinza pelo incêndio, inclusive a cama onde se encontrava a criança a dormir.
Mas porque onde existe fé, há milagres, esta senhora mesmo vendo a casa sob fortes chamas irrompeu e conseguiu tirar a criança sem que esta ilesa, mas pelo susto acabou desmaiando. A nossa interlocutora conta que a o gesto dos vizinhos foi gratificante e humano, pois, eles trataram de ligar imediatamente para o marido, o qual não tardou chegar.
“Quando cheguei, não acreditei que fosse a minha casa a queimar. Eu estava a rezar para que os meus filhos não fossem consumidos pelo fogo que até tirou sono a todas as pessoas que passavam pela rua”, contou Camilo Manjate.
Este jovem, que se dedica ao trabalho informal na Cidade de Maputo, disse que foi durante pouco mais de 10 anos de trabalho e de muito sacrifício que procurou erguer a sua vida e da sua pacata família, comprando vários bens dentre os quais, um inversor, um painel solar, um computador, uma aparelhagem sonora, para além da cama que recentemente tinha sido importada da vizinha África do Sul. “É verdade que a vida é que vale mais, mas chorei bastante ao ver os meus bens que me custaram muito fervor e suor a serem reduzidos a cinza pelas fortes chamas”, conta para depois ajuntar que do interior da casa não restou sequer alguma coisa para se aproveitar.
Construir o perigo
Diga-se, o pior teria acontecido se efectivamente a casa deste jovem casal fosse de caniço, um material altamente inflamável. Mas porque a casa é de blocos, as paredes é que ficaram carregadas de cor preta devido a fumaça que inundaram o cubículo.
Quando a nossa reportagem chegou ao local no dia a seguir ao infortúnio, o quintal estava repleto de objectos incinerados e o jovem na companhia de um amigo tentavam colocar algumas fiadas de bloco na janela que foi devorada pelo incêndio, depois de terem trocado a posição das chapas de zinco, a parte fumada para o exterior, para segundo ele, as camadas do fumo não sujarem os lençóis que os vizinhos ofereceram num claro sinal de solidariedade.
“Pelo menos hoje vamos dormir aqui dentro, embora as condições no interior da casa não sejam boas. Mas, nestas situações o que importa é estender a cabeça e ver a noite passar, a espera de um novo dia de desafio, porque já não sei o que fazer”, comenta.
Fazer a vida no informal
Este jovem que nasceu um ano após a independência nacional confidenciou-nos que desde que chegou a Maputo em 1998, nunca trabalhou para um patrão, logo pela manhã cedo, por volta das 4 horas acorda e, ruma em direcção a capital do país, onde ao longo da Avenida de Angola tem a sua carinha de mão vulgo txova, para transportar qualquer que seja carga que as pessoas tenham. “Trabalho por conta própria, e por dia ganho entre 100 e 150 meticais, mas nos dias que tenho biscates, como o descarregamento de produtos dos camiões, consigo voltar à casa com cerca de 500 meticais”.
Falta de parcelamento um caos na Matola
A falta de parcelamento é um dos bicos de obra que o Município da Matola enfrenta nos últimos tempos. Zonas não parceladas tornam-se de difícil acesso para viaturas, sobretudo quando se trata de infelicidades e incêndios, onde autocarros das funerárias e dos bombeiros não podem entrar nessas zonas. Por mais que houvesse agentes do corpo de salvação pública para extinguir, os homens da paz teriam muitas dificuldades para chegarem ao local do incêndio devido a falta de arruamentos.