“Pieta”, um novo filme da Coreia do Sul, é tão violento que é difícil de assistir, mas a história de um agiota impiedoso e da misteriosa mulher que diz ser a sua mãe transforma-se num suspense contagiante e uma comovente história de amor. O director Kim Ki-duk não faz rodeios no seu conto de vingança cruel e redenção, e a atriz principal Cho Min-soo, que ele descreve como a sua “Maria de cabelos negros”, é uma das favoritas para levar o prémio de melhor atriz quando o festival terminar, Sábado (8).
Embora o público ocidental possa ter dificuldades para encontrar um cinema disposto a exibir “Pieta”, um prémio no festival mais antigo do mundo pode garantir ao filme pelo menos uma distribuição limitada, e o longa também é um sério candidato ao Leão de Ouro de melhor filme em Veneza.
A história começa com Kang-do, um magro e inexpressivo cobrador de dívidas aterrorizando as oficinas de metal sujas onde os trabalhadores empobrecidos ganham a sua existência miserável numa favela em Seul.
Ao estabelecer o enredo no meio dos becos miseráveis na sombra dos arranha-céus do centro da cidade, Kim faz de “Pieta” uma ampla crítica sobre a ganância, as falhas do sistema financeiro e como a sociedade como um todo deve ter alguma culpa por virar a cara para o outro lado.
“Eu sinto que este filme em particular é um filme dedicado à humanidade, à nossa situação difícil numa crise capitalista extrema”, disse Kim a jornalistas após uma exibição para a imprensa de “Pieta” e antes da sua estreia mundial no tapete vermelho, esta Terça-feira (4).
Cenas chocantes
Os devedores que não podem arcar com os juros exorbitantes pagam caro, com mãos e braços mutilados na sua própria máquina ou membros esmagados em pedaços para que Kang-do possa recolher o seguro.
Alguns dos que ficam aleijados tomam as ruas para mendigar, outros tiram as suas próprias vidas. Um fica tão desesperado por dinheiro para sustentar o seu filho que ainda não nasceu que ele oferece a Kang-do as suas duas mãos, mas antes de fazer isso dedilha pela última vez a sua guitarra amada.
A crueldade só termina quando Mi-sun (Cho) aparece de repente, alegando ser a mãe de Kang-do que o abandonou ao nascer. Inicialmente incapaz de aceitar o seu olhar de amor e gestos amáveis, um suspeito Kang-do, interpretado por Lee Jung-jin, coloca-lhe à prova com actos de extrema crueldade.
Ainda assim, ela volta para mais, gradualmente conquistando o seu afecto e convencendo-lhe de que a sua história é verdadeira.
Kim, um dos favoritos no circuito europeu festival de cinema, inspirou-se na tradição ocidental artística de retratar Maria a segurar o Cristo morto, com a sua retratação mais famosa numa escultura de Michelangelo.
As críticas a “Pieta” foram, no geral, positivas, embora tenham reconhecido que os espectadores poderão ficar incomodados com o conteúdo.