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Federação e Associação da Cidade de Maputo de costas voltadas

Federação e Associação da Cidade de Maputo de costas voltadas

Em causa está a decisão do Fundo de Promoção Desportiva que decidiu retirar das mãos da Federação Moçambicana de Natação (FMN) a gestão da piscina olímpica de Zimpeto, entregando-a à associação desta modalidade desportiva a nível da cidade de Maputo. Fala-se de falta de seriedade e Gilberto Mendes ameaça abandonar o desporto.

O Ministério da Juventude e Desportos (MJD) cedeu, em Maio de 2013, a gestão da piscina olímpica de Zimpeto à Federação Moçambicana de Natação (FMN), entidade liderada por Gilberto Mendes. Contudo, volvidos dez meses, aquele importante empreendimento desportivo passou a ter um novo “inquilino”.

Trata-se da Associação de Natação da Cidade de Maputo (ANCM) que desde a semana passada trabalha naquelas instalações anexas ao Estádio Nacional de Zimpeto. Esta informação foi-nos revelada por Caetano Rúben, presidente daquele organismo, tendo referido que o Fundo de Promoção Desportiva (FPD) e o respectivo MJD tomaram uma decisão sábia ao retirar das mãos da FMN a gestão daquela piscina construída com o propósito de acolher os Jogos Africanos de 2011.

De acordo com Caetano, “a piscina olímpica de Zimpeto foi edificada para servir o desporto e não interesses institucionais, como acontecia”, uma manifesta “farpa” lançada contra o órgão máximo da natação do país, cujos destinos estão nas mãos de Gilberto Mendes. “Esta decisão do MJD vai ajudar no desenvolvimento e na massificação desta modalidade, até porque não faz sentido num país como o nosso termos uma piscina moderna que não esteja ao serviço dos nadadores”, disse. Por outro lado, o nosso entrevistado afirmou não haver qualquer tipo de conflito existir entre a sua instituição e a FMN ao esclarecer que “nós não estamos a lutar com ninguém. Simplesmente queremos trabalhar em prol da natação”.

Ainda durante a conversa, Caetano Rúben deu a entender que a cedência daquela importante infra-estrutura desportiva não aconteceu por livre e espontânea vontade do MJD. Disse aquele dirigente desportivo que “nós pedimos a tutela das piscinas para iniciarmos uma nova era na natação moçambicana, especificamente na capital do país. O ministério compreendeu as nossas motivações e tomou a decisão que tomou”. Rúben deixou bem claro que, “se alguém tiver alguma contestação, então que se dirija ao ministério. É lá onde são decididas as coisas ao mais alto nível. Nós, na qualidade de gestores das piscinas, vamos fazer de tudo para não defraudar a confiança que foi depositada em nós”.

A ANCM já trabalha no Zimpeto

Outro detalhe que prova que a ANCM há muito queria gerir as duas piscinas anexas ao Estádio Nacional do Zimpeto é o da abertura, semana finda, de uma academia de formação de natação. Segundo Rúben, a mesma tem o propósito de aproximar esta modalidade desportiva dos residentes, sobretudo crianças, das zonas periféricas.

“Nós não pensámos em nenhum benefício financeiro como muitos dizem. Abrimos esta escola com o simples objectivo de despertar o desejo da prática de natação nos mais novos, sabido que esta é uma modalidade completa. Há pessoas nos subúrbios que nutrem o gosto por ela, mas que não tinham a oportunidade de nadar na vertente desportiva”, afirmou. No que compete aos resultados, o nosso entrevistado alimenta a esperança de ver, dentro de cinco anos, os primeiros nadadores formados na piscina olímpica de Zimpeto a competirem ao mais alto nível.

“Faltou transparência na entrega da piscina olímpica à associação”, reage Gilberto Mendes

Contactado pelo @Verdade para tecer algum comentário em torno deste assunto, o presidente da Federação Moçambicana de Natação, Gilberto Mendes, afirmou que a decisão do MJD de entregar à ANCM a gestão daquele empreendimento apanhou-o de surpresa. “Na semana em que a piscina foi entregue aos outros, a selecção nacional tinha de se preparar para a fase de qualificação aos Jogos Olímpicos de Inverno e aos Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro. Ficámos cabisbaixos quando recebemos essa triste notícia. Nem sequer houve um comunicado oficial”, revelou.

Gilberto Mendes foi ainda mais longe ao falar de um processo pouco transparente. Usou, como explicação, o secretismo com que tudo foi feito, sobretudo numa altura em que a piscina tinha problemas técnicos. Questionado sobre se a utilização da piscina Raimundo Franisse, em detrimento da piscina olímpica, não estaria entre os motivos da decisão do ministério, Gilberto Mendes respondeu nos seguintes termos: “A federação estava ainda a criar condições para resolver todos os problemas que tornavam inoperacional aquela infra-estrutura. Usámos uma piscina alternativa porque a do Zimpeto não estava em condições”.

“É errado formar no Zimpeto”

O presidente da FMN é da opinião de que, por possuir as dimensões exigidas pela Federação Internacional de Natação, a piscina olímpica de Zimpeto não pode servir para formar novos talentos desta modalidade. Comparou o caso a uma escola de condução, afirmando que “não se pode usar uma viatura da Fórmula 1 para ensinar alguém a conduzir”. Por outro lado, Gilberto Mendes revelou que o seu organismo tinha na manga um projecto de desenvolvimento daquela importante infra-estrutura desportiva, com o propósito de o tornar o maior centro de alto rendimento para os atletas da região Austral de África sendo que, com a recente decisão da MJD, o mesmo fica sem efeito.

“Vou retirar-me do desporto. Não estou para fazer negócios”

Durante a conversa, Gilberto Mendes revelou que não se vai recandidatar a mais um mandato como presidente da FMN. Disse o dirigente que “não estou no desporto para fazer negócios. Por isso vou retirar-me e com a consciência tranquila pois, ao longo destes anos, eu e o meu elenco lutámos bastante para tirar esta modalidade do precipício em que se encontrava”.

A federação não correspondeu às expectativas

José Pereira, director-adjunto do Complexo Desportivo do Zimpeto, que abrange o estádio nacional e a piscina olímpica, declarou que a entidade liderada por Gilberto Mendes não correspondeu às expectativas durante o período em que geriu o empreendimento, facto que terá precipitado a cedência do mesmo à ANCM.

Pereira foi ainda mais longe ao afirmar que, em termos formais, nunca houve um acordo que visasse a cedência da gestão da piscina olímpica à FMN, o que legitima a decisão do MJD. “Houve um processo que estava a seguir os seus trâmites legais mas, não havendo passos concretos, decidiu-se enveredar por outro caminho, o de entregar a infra-estrutura à ANCM”, esclareceu.

“Neste momento decorre a troca de correspondências entre as partes envolvidas para a assinatura do contrato que visa transferir a gestão administrativa deste empreendimento desportivo. O que nós queremos é ver a piscina a ser utilizada pelos nadadores”, acrescentou. José Pereira congratulou, ainda, a ANCM por, em menos de 15 dias, pôr as piscinas a funcionarem através da abertura da escola de natação, “o que a FMN não conseguiu fazer ao longo destes anos todos”.

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