A desnutrição no mundo é inaceitável e os seus custos para a economia global, em termos de perda de produtividade e de cuidados de saúde, são elevados e poderão representar cerca de 3,5 triliões de dólares, ou seja, 500 dólares por pessoa, o que significa quase a totalidade do Produto Interno Bruto (PIB) anual da Alemanha, a maior economia da Europa.
Segundo Graziano da Silva, director-Geral da FAO, que falava no lançamento de uma publicação denominado The State of Food and Agriculture (SOFA), em termos sociais, a desnutrição infantil e materna continuam a diminuir a qualidade e esperança de vida de milhões de pessoas, enquanto os problemas de saúde relacionados com a obesidade, tais como as doenças cardíacas e os diabetes, afectam outros tantos milhões. Graziano da Silva, afirmou que, apesar de terem havido alguns progressos no que respeita à fome no mundo, que é uma das formas de desnutrição, ainda havia “um longo caminho pela frente”.
Para combater a desnutrição, a SOFA defende que uma alimentação saudável e uma boa nutrição devem começar pelos alimentos e a agricultura. A forma como cultivamos, processamos, transportamos e distribuímos os alimentos influencia o que ingerimos, observando que melhores sistemas alimentares podem tornar os alimentos mais baratos, diversificados e nutritivos. “A mensagem da FAO é a de que o nosso empenho deve ser no sentido da erradicação da fome e da desnutrição, nada mais, nada menos”.
O relatório Food systems for better nutrition destaca que, embora cerca de 870 milhões de pessoas em todo o mundo ainda tenham passado fome entre 2010 e 2012, este número é apenas uma fracção dos milhares de milhões de pessoas cuja saúde, bem-estar e vidas são afetados pela desnutrição.
De acordo com a SOFA, dois mil milhões de pessoas sofrem de uma ou mais deficiências de micronutrientes, enquanto que 1,4 mil milhões tem excesso de peso, das quais 500 milhões são obesas. Vinte e seis por cento das crianças com menos de cinco anos são raquíticas e 31 por cento sofre de carência de Vitamina A.
Entre as recomendações específicas da FAO incluem-se: políticas agrícolas, investimento e pesquisa adequados para aumentar a produtividade, não só de grãos essenciais como o milho, o arroz e o trigo, mas também de legumes, carne, leite, vegetais e frutas, que são ricos em nutrientes.
A instituição recomenda ainda a redução das perdas e desperdícios de alimentos, que correspondem anualmente a um terço dos alimentos produzidos para consumo humano. Isso pode contribuir para uma maior disponibilidade e acessibilidade económica dos alimentos, bem como para reduzir a pressão colocada na terra e noutros recursos. Há igualmente que melhorar o desempenho nutricional das cadeias de abastecimento, aumentando a disponibilidade e acessibilidade de uma ampla variedade de alimentos. Sistemas alimentares devidamente organizados são essenciais para dietas mais diversificadas e saudáveis.
Para além de ajudar os consumidores a fazerem boas escolhas dietéticas no sentido de uma melhor nutrição através da educação, informação e de outras ações e melhorar a qualidade nutricional dos alimentos através do seu enriquecimento e reformulação, deve-se tornar os sistemas alimentares mais sensíveis às necessidades das mães e das crianças. A desnutrição durante os “primeiros 1.000 dias” críticos após a concepção pode causar danos permanentes na saúde das mulheres e deficiências físicas e cognitivas ao longo da vida das crianças.
Nesse desafio planetário, o papel das mulheres, de acordo com a FAO, é proporcionar a elas mesmas um maior controlo dos recursos e rendimentos beneficia a sua saúde e a dos seus filhos, refere o relatório. As políticas, intervenções e investimentos em tecnologias agrícolas economizadoras de mão-de-obra e em infra-estruturas rurais, bem como a protecção e serviços sociais também podem contribuir grandemente para a saúde e nutrição das mulheres, bebés e crianças.
Entre os projetos que produziram resultados positivos no aumento dos níveis de nutrição incluem-se a produção, comercialização e consumo melhorados de vegetais e leguminosas na África Oriental, a promoção de hortas na África Ocidental, o encorajamento de sistemas mistos de cultivo de vegetais e criação de animais, juntamente com atividades geradoras de rendimento nalguns países asiáticos, culturas básicas de reprodução, como a batata-doce para aumentar o seu conteúdo de micronutrientes, e parcerias público-privadas para enriquecer com nutrientes produtos como o iogurte ou o óleo de cozinha.
De acordo com a SOFA, fazer com que os sistemas alimentares melhorem a nutrição é uma tarefa complexa que exige um grande compromisso e liderança políticos nos níveis mais altos, parcerias abrangentes e abordagens coordenadas com outros setores importantes, como a saúde e a educação.
“Um grande número de intervenientes e instituições tem de cooperar em todos os setores para reduzir de forma mais eficaz a desnutrição, as deficiências de micronutrientes e o excesso de peso e obesidade”. “A regulamentação de sistemas alimentares que liderem, coordenem de forma eficaz e promovam a colaboração dos vários intervenientes constitui uma prioridade”, acrescenta o relatório.