As chuvas que caíram, no princípio do presente ano, nas zonas centro e norte do país, trouxeram problemas de grande magnitude à população do distrito da Maganja da Costa, na província da Zambézia. A precipitação fez transbordar o rio Licungo, forçando os ribeirinhos a abandonarem as suas habitações. A maior parte dos afectados foi reassentada no centro de acomodação de Mussaia, no posto administrativo de Nante, em condições que deixam muito a desejar.
Na sequência das chuvas que assolaram aquela região, dezenas de vidas humanas perderam-se e os campos de cultivo dos residentes ficaram submersos, para além de culturas que foram arrastadas pelas chuvas, deixando a população de Maganja da Costa mergulhada numa crise de fome sem precedentes.
De acordo com dados do Comité Técnico de Gestão de Calamidades (CTGC), 11.540 pessoas foram afectadas pelas chuvas e inundações no distrito da Maganja da Costa. A maior parte dos afectados está alojada em nove centros de aco-modação criados para o efeito pelo governo local e é assistida pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).
O centro de reassentamento de Mussaia subdividiu-se em três zonas, nomeadamente Centro, A e B, e acolhe, até ao momento, um total de 849 famílias que correspondem a 4245 pessoas. Neste local, o governo do distrito abriu duas fontes de abastecimento de água mecânica, uma escola e um centro de saúde. Apesar de estas infra-estruturas estarem em funcionamento, tendo em conta o número de pessoas que necessitam destes serviços, é insuficiente para res- ponder às necessidades.
Muitas vezes, mulheres e crianças permanecem mais de horas quatro na fila para obterem 20 litros de água. Das 849 famílias que vivem ac- tualmente no centro de reassentamento de Mussaia, algumas receberam tendas e outros lonas, onde passam as noites.
Existe outro grupo de afectados que vive também naquele centro, mas ainda não recebeu o material. Gurete Eusébio é exemplo disso. Ela tem quatro filhos e vive naquele centro de acomodação desde que as cheias levaram os seus bens e destruíram a sua habitação. Segundo a nossa entrevistada, quando anoitece ela estende a sua esteira debaixo de uma árvore, onde, ao relento, pernoita com os seus filhos.
“Quando cheguei, haviam-me prometido uma tenda e rede mosquiteira, mas até hoje não as recebi. Tentei por várias vezes pedir às pessoas que as distribuem e sempre dizem que não têm. Quando cai chuva, nós ensardinhamo-nos na tenda da minha amiga e ninguém consegue dormir por falta de espaço”, disse. Gurete disse que permanece naquele centro porque não tem onde ir.
“A chuva trouxe sofrimento para nós. Perdemos quase tudo e agora temos de de- pender do governo que escolhe quem apoiar”, lamentou. Rosa Baptista é também uma das afectadas pelas cheias na Maganja da Costa. Ela viu-se forçada a abandonar o povoado da Mogoloma, uma das zonas que mais sofreram com as inundações.
É uma anciã de 68 anos de idade e vive com três netos órfãos. Segundo a sexagenária, desde que chegou àquele local recebeu apenas uma lona para fazer a sua habitação. É dentro daquele meio que a anciã e os seis netos passam as noites.
“Quando cai a chuva, não conseguimos dormir porque a água cai no interior da cabana”, contou. A zona onde foram colocadas as tendas é uma mata e não houve uma limpeza para derrubar os arbustos, havendo uma grande ocorrência de casos de circulação de cobras. Apesar de estas não terem ainda atacado ninguém naquele local, os morado- res, quando anoitece, dormem com o coração nas mãos, temendo o pior.
Jura António, outro afectado, é da opinião de que viver naquele local é um verdadeiro calvário, porque desde que chegou não recebeu nenhum apoio. A situação que mais o preocupa é o facto de não estar a receber comida para sustentar os seus dois filhos.
A maior parte das famílias reassentadas naquele centro garante que não vão regressar às zonas inundadas. “Vamos construir as nossas casas aqui, e sairemos apenas para ir à machamba”, garantiram aqueles moradores.
Saneamento do meio
No centro de reassentamento de Mussaia, no posto administrativo de Nante, vive-se numa imundice total. Das 849 famílias reassentadas no local, nenhuma delas construiu uma latrina.
Numa altura em que a província da Zambézia está a ser fustigada pela cólera, as necessidades biológicas da população são feitas a céu aberto. Esta prática coloca em risco a vida daquela população, tendo em conta que a época é de maior propagação de doenças, como são os casos da malária e diarreias.
As famílias receberam apenas um espaço concedido pelas autoridades locais para erguerem as suas respectivas tendas. No local é possível ver cinco latrinas construídas no âmbito da visita efectuado pelo Chefe do Estado moçambicano no passa- do dia 25 de Fevereiro, com o intuito de mostrar ao Presidente da República que a questão de saneamento está acautelada na- quele centro.
“A malária preocupa-nos”
O centro de reassentamento de Mussaia está a ser assolado por casos de malária. Diariamente, as mulheres grávidas, as crianças ças e os idosos fazem-se ao posto de saúde instalado naquele local.
A maioria dos pacientes que procura os serviços daquela unidade sanitária padece de malária. Sem avançar dados, um técnico da enfermagem afecto àquele centro disse que aos doentes, maioritariamente, é diagnosticada aquela enfermidade causada pela picada do mosquito anopheles.
O nosso interlocutor lamentou a situação e teme que a mesma venha a ganhar proporções alarmantes nos próximos dias. A maior parte das famílias que estão acomodadas naquele centro não recebeu redes mosquiteiras.
Paulina Estêvão, vivem com quatro menores de idade, e todos eles não têm meios de se proteger da picada dos mosquitos. De acordo com a nossa interlocutora, a equipa de distribuição prometeu várias vezes trazer redes mosquiteiras para aquela família, mas até hoje nada foi feito. “Há tantos mosquitos por aqui. Desperto a afastar mosquitos para não picarem os meus filhos”, disse Paulina.
Nyusi visita famílias reassentadas
O Presidente da República, Filipe Nyusi, visitou no passado dia 25, as famílias reassentadas no bairro de Mussaia e aconselhou as mesmas a fixarem residências naquela zona, tendo prometido criar infra-estruturas báiçás, tais como fontes de água, energia eléctrica e rede de telefonia móvel, para além da melhoria das vias de acesso para facilitar a circulação de pessoas e bens.