O ensino bilingue está a ser assombrado pela falta de manuais de para alunos e professores, insuficiência de pessoal qualificado e ainda pela falta de capacidade de provimento de material didáctico. Contudo, os instruendos e instrutores têm vindo a aprender algo.
O chefe de Departamento de Direcção Pedagógica na província de Maputo, Silvestre Dava, explicou que o objectivo do ensino bilingue é fazer com que a língua materna seja um instrumento- chave no processo de ensino e aprendizagem dos alunos das classes iniciais, da primeira à sétima classe. Visa igualmente dotar os alunos de capacidades linguísticas como meio para se comunicarem com os diversos actores sociais.
“Não obstante as limitações ainda existentes, tal não impede e nem prejudica o decurso normal das aulas, porque mediadas cautelares foram tomadas internamente, que passaram pela implementação de capacitações pedagógicas modulares em matérias de ensino bilingue, como forma de colmatar a falta de professores formados e de fazer um uso racional dos poucos manuais que existem para a transmissão de conhecimento, dando importância à valorização da língua materna”, disse Silvestre Dava.
Com efeito, desde que aquela modalidade de ensino foi introduzida naquela província em 1998, expandiu-se de forma gradual, estando actualmente abrangidas 16 escolas primárias completas, em oito distritos, nomeadamente Magude, Marracuene, Manhiça, Matutuine, Boane, Namaacha, Moamba e Matola.
Ainda há muito por se fazer para a expansão a mais escolas, pois, das 447 existentes, menos de 10% foram abrangidas pelo ensino devido a limitações financeiras, de criação de condições logísticas e à falta de pessoal técnico qualificado para responder cabalmente aos desafios.
No entanto, o número de alunos beneficiários do ensino bilingue ronda os cerca de 1.352, assistidos por 48 professores, o equivalente a três docentes por cada escola, número considerado irrisório.
De acordo com Dava, as limitações obrigam a que a Direcção Provincial da Educação condicione o número de vagas. Em cada centro do ensino bilingue são matriculados 100 alunos, ou seja, de acordo com o número de professores disponíveis.
Para o nosso entrevistado, este processo de ensino vem revolucionar a educação, criando espaço para a nacionalização e valorização das línguas moçambicanas, e fazendo dela um veículo de comunicação e, quiçá, da sua padronização em qualquer canto do mundo.
Para facilitar a compreensão e assimilação do conteúdo escolar, o ensino bilingue recorre ainda ao uso da língua materna ou de berço, como principal veículo de ensino; para o caso da província de Maputo, foram introduzidas duas línguas, designadamente o Ronga e o Changana.
A introdução desta modalidade de ensino trouxe consigo desafios que passam pela dinamização do processo de formação de recursos humanos qualificados e com capacidade para assimilar com flexibilidade os conteúdos implementados, procurando-se parcerias para a aquisição de material que ainda constitui maior preocupação do governo provincial.
“Por conseguinte, as classes que mais estão a ser prejudicadas com a falta de material escolar são a terceira até a sétima classe. As duas classes iniciais têm manuais de sobra, graças ao trabalho e esforço da Direcção Provincial da Educação que tudo fez para garantir que houvesse material suficiente para se fazer face aos desafios impostos pelo ensino”, acrescenta Dava.
“Este fenómeno resulta da falta de empresas no país, vocacionadas para a produção de manuais escolares para este ensino específico, o que acarreta custos elevados para o sector, uma vez que recorremos ao mercado internacional para a aquisição do material”, comenta o nosso interlocutor.
Apesar dos problemas, foram alcançados resultados satisfatórios, não se registando um défice de escrita e leitura. De referir que se tem obtido um aproveitamento pedagógico muito elevado, cerca de 90%, contrastando sobremaneira com os resultados do ensino monolingue.
“A falta de material didáctico cria barreiras para a expansão e o desenvolvimento a ritmo acelerado desta modalidade de ensino e aprendizagem porque ainda se enfrenta uma gritante falta de capacidade de provimento de material, e porque não houve um acompanhamento prévio da evolução do ensino. O Governo devia ter introduzido este método paralelamente nas instituições de formação de professores para, deste modo, garantir que o ensino bilingue seja alimentado com docentes com habilidade e competência para o efeito, uma vez ainda não existir uma especialidade de formação de professores vocacionados para o ensino bilingue”, asseverou Silvestre Dava.
Silvestre Dava assegura que de momento trabalhos estão a ser realizados internamente, de modo a garantir que se adquirira com antecedência os manuais suficientes do ensino bilingue para colmatar as lacunas existentes e intensificar o processo de capacitação de professores e, desta forma, criar-se condições para se aumentar o ritmo da sua implementação e expansão.