Um poeta, jurista, político e diplomata cabo-verdiano, Corsino Fortes, de 82 anos de idade, faleceu esta sexta-feira na cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente, onde nasceu, vítima de doença prolongada. Considerado como um dos grandes nomes da literatura de Cabo Verde, Corsino Fortes deixa também a sua marca no panorama político cabo-verdiano, onde exerceu vários cargos governamentais e na diplomacia, como primeiro embaixador do seu país em Portugal, e em vários países europeus e, mais tarde, em Angola.
Segundo a biografia de Corsino António Fortes, licenciado em direito pela Universidade de Lisboa (1966), o autor do célebre livro de poesia “Pão e Fonema” perdeu bem cedo os pais e, aos 12 anos, teve de suspender estudos, passando a trabalhar na Companhia Ferro como aprendiz, ajudante de ferreiro e ajustador de máquinas.
Retornou ao liceu somente aos 20 anos, onde encontrou colegas como João Varela, com quem travou diálogos sobre as suas “primeiras pedras de projeto literário”, segundo uma entrevista que ele próprio concedera a um historiador, Michel Laban, em 1992.
Entre 1957 e 1960, a aproximação com Abílio Duarte, um dos fundadores do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e que retornava da Guiné-Bissau para mobilizar e consciencializar a juventude cabo-verdiana sobre a luta de libertação nacional, também o teria influenciado decisivamente.
É nesse período que alguns de seus poemas são publicados no Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes, no “Cabo Verde: boletim de propaganda e informação” e na revista Claridade, número 9, o último deste periódico.
Em 1961, foi para Lisboa (Lisboa) discursar Direito, e a passagem pela Casa dos Estudantes do Império contribuiu para o seu amadurecimento político, principalmente em função da efervescência dos debates travados sobre a realidade das então colónias portuguesas e das produções literárias que apontavam para uma ordem diferente.
Concluiu a faculdade, em 1966, e, desde então, passou a exercer inúmeros cargos jurídicos, políticos e diplomáticos: em Angola, delegado do Ministério Público e juiz de Direito, até pedir exoneração em abril de 1975; representante do PAIGC, também em Angola, entre 1974 e 1975; diretor-geral dos Assuntos Judiciários da República da Guiné-Bissau; emissário especial da República de Cabo Verde junto dos governos de Angola e de São Tomé e Príncipe.
De 1975 a 1981, Corsino Fortes foi embaixador de Cabo Verde na República Portuguesa, e, em 1981, voltou a Cabo Verde, como secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro; em 1983, secretário de Estado da Comunicação Social. Entre 1986 e 1989, foi embaixador de Cabo Verde na República Popular de Angola, em São Tomé e Príncipe, na Zâmbia, em Moçambique e no Zimbabwe.
De 1989 a 1991, foi ministro da Justiça no governo de Cabo Verde; consultor diplomático, em 1992 e do programa dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
De acordo com alguns especialistas, o projeto literário de Corsino Fortes é consolidado na reunião dos seus três livros de poesia na obra intitulada “A cabeça calva de Deus” (2001): os dois primeiros livros, “Pão.