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Extensões de cabelo humano: a febre nacional

Extensões de cabelo humano: a febre nacional

Nos últimos anos, o uso de extensões de cabelo humano tornou-se numa febre nacional e algumas pessoas viram nisso uma oportunidade para ganhar dinheiro. O reflexo da explosão do negócio são as inúmeras mulheres que ostentam as próteses de cabelo – custam, pelo menos, o maior salário mínimo (3500 meticais) –, desde as “mamanas” do bazar, passando pelas jovens de diferentes classes sociais até as nossas celebridades. Os comerciantes, esses, agradecem!

São mulheres movidas pela necessidade de ficar com uma melhor aparência e ostentam algo em comum na cabeça: as extensões de cabelo humano. De diferente têm apenas as idades, além de pertencerem a classes sociais distintas.

Fomos deparando com elas em diversos locais. Umas por detrás das bancas de vegetais e frutas ou balcões de uma loja, algumas nas escolas ou faculdade e outras passeando e/ou saindo do trabalho. As cabeças adornadas por extensões sobressaem aos olhos, revelando um mercado que cresce extremamente, ainda que de maneira informal.

Poucas aceitam fazer um comentário sobre as próteses de cabelos humanos, algumas não sabem o porquê de aplicarem as extensões e outras fazem-no para imitar uma figura pública. Mas a maioria diz fazê-lo por vaidade.

“Sinto-me linda e autoconfiante com as extensões”, afirma Helena Macuácua, estudante, de 21 anos de idade. Mas há também quem não as usa por acreditar que “sou mais bonita com o meu próprio cabelo”, diz Ana Paula, estudante e trabalhadora, de 29 anos de idade.

Porém, o que mais chama a atenção não é apenas o facto de haver cada vez mais mulheres moçambicanas a recorrerem às extensões para mudar a sua aparência e melhorar a sua autoestima. Pelo contrário, é este grande negócio de cabelo humano inserido num mercado bastante competitivo, e – claro – muito lucrativo, uma vez que depende exclusivamente da qualidade do cabelo e também do serviço dos cabeleireiros.

No Mercado Central, na cidade de Maputo, os preços das extensões variam de acordo com a qualidade, o comprimento e não só. Também a origem do produto determina sobremaneira o preço. “O melhor cabelo é da Índia porque é 100 porcento natural”, comenta o comerciante Jussa Amide.

O mais barato é comercializado a 3500 meticais e o mais caro atinge os 10 mil meticais. “Nunca se olha para o preço quando se procura sentir-se bonita ou ter-se uma aparência social bonita. As mulheres, por mais belas que estejam, nunca estão satisfeitas”, diz Vilma Ramos, proprietária de uma banca de venda de produtos de beleza.

Por mês, em média, Jussa Amide vende 30 extensões, um negócio que afirma ser “bastante rentável”. O produto é importado da Índia, mas, antes de entrar no mercado moçambicano, passa pelo Brasil onde recebe um certo tratamento. “Deixei de ir ao Brasil para adquirir as extensões porque, hoje em dia, há muita gente a fazer esse negócio e fornece-nos regularmente”, diz.

Teresa Gulamo é revendedora de extensões de cabelo humano há mais de três anos e diz que o seu fornecedor importa do Brasil. “Eu apenas revendo. Há cada vez mais pessoas a fornecerem-nos o cabelo e muitas mulheres a comprarem”, afirma. Vende, em média, pouco mais de 20 extensões mensalmente.

As extensões oriundas da China também são uma das mais procuradas devido ao seu baixo preço. No mínimo, custam 2500 meticais e o valor vai subindo, dependendo do tamanho do produto – quanto mais cumprido, mais caro é. Mas o comerciante que se identificou apenas por Mohamad comenta que “as extensões da China não são de qualidade porque tem mais cabelo sintético do que natural”.

Para o comerciante Martins, do mercado Janete, o negócio das extensões não está nos seus melhores dias. “Hoje, levo mais de um mês para vender três extensões, ao contrário do que acontecia há três anos”, diz. Martins orgulha- se de ser o primeiro vendedor de extensões de cabelo humano naquele mercado.

Os fornecedores nacionais de extensões de cabelo humano são indivíduos singulares que dispõem de uma rede de distribuição em quase todos os principais mercados (e salões de beleza também) na cidade de Maputo e no país.

E Américo Jotamo é exemplo disso. Importa extensões do Brasil há três anos num negócio que teve um investimento inicial no valor de 70 mil meticais. Hoje diz que já quadruplicou o montante. “É um negócio lucrativo, depende essencialmente da entrega, humildade e paciência do profissional”, afirma. Jotamo vai trimestralmente ao Brasil.

Quando questionado sobre, se em Moçambique, há mulheres a venderem o seu cabelo a intermediários de grandes indústrias, Américo diz não ter conhecimento. “Acho que o cabelo das mulheres moçambicanas, como o de toda a mulher negra, por ser crespo, não é procurado”, diz.

Salões de beleza

Os cabeleireiros estão constantemente atentos às novas tendências da moda. Para os vários salões de beleza da cidade de Maputo que, no mesmo lugar, agregam diversos serviços estéticos com o intuito de atrair o maior número de clientes e torná-los cativos do salão, as extensões de cabelo humano tornam-se numa opção segura de remuneração para o próprio profissional.

Só quem inova no tratamento dos cabelos é que ganha um lugar de destaque num mercado cada vez mais disputado; por essa razão, os cabeleireiros apostam no aperfeiçoamento da aplicação das extensões.

Num mercado generalista e muitos profissionais a aplicar extensões de cabelo, Regina Chipanga apostou nesta linha. Com uma equipa de oito profissionais, o seu salão diariamente atende, em média, 25 pessoas e aos fins-desemana esse número sobe para os 40.

O preço varia muito. Às pessoas que trazem o cabelo são cobrados 600 a 1000 meticais, custando 150 aos que vão fazer apenas a manutenção. Os valores pagos pelos penteados variam entre 100 e 300 meticais. As que compram as extensões de cabelo no salão beneficiam de desconto. A aplicação do cabelo demora uma hora e meia.

As extensões das “nossas” estrelas

A massificação do uso das próteses de cabelos em Moçambique começa com as estrelas da música nacional. As mulheres moçambicanas de todas as idades e de diferentes classes sociais não se fizeram de rogadas e entraram na onda.

As jovens cantoras moçambicanas, nomeadamente Miss Zav, Marlen, Anita Macuácua, Dama do Bling, Liloca, Jutty, Lizha James e Miss Didy são algumas utilizadoras habituais e principais impulsionadoras do uso de extensões de cabelo humano.

Nas suas frequentes aparições públicas, as jovens artistas apresentam-se com a cabeça adornada por cabelos dos mais caros que há no mercado. O uso das extensões não se tornou apenas no meio para se alcançar um aspecto atraente, mas é uma forma de expressão de identidade própria e irreverente. Digase, a cantora Miss Zav destaca-se com os seus longos cabelos loiros.

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