O ex-chefe do Exército Abdel Fatah al-Sisi deve surgir como o novo presidente do Egito depois do segundo e último dia de votações na terça-feira (27). Ele é tido pelos seus eleitores como um homem capaz de tirar o mais populoso país árabe de uma profunda crise.
Desde a deposição de Hosni Mubarak em 2011, o país de 85 milhões de habitantes, no qual um em cada quatro egípcios vive na pobreza, encontra-se envolto por convulsões políticas, econômicas e de segurança.
O pleito, cujos primeiros resultados são esperados para poucas horas depois do fechamento das urnas às 21h de terça-feira, confirmaria o retorno de um militar ao poder, depois de Sisi ter derrubado o primeiro presidente livremente eleito do Egito, Mohamed Mursi, membro da Irmandade Muçulmana.
Ex-chefe do Exército, Sisi tem apenas um adversário: o político de esquerda Handeen Sabahi. Outros candidatos que contestaram as eleições de 2012 vencidas por Mursi não participaram, alegando que o clima não era favorável à democracia.
Apesar dos pedidos para um grande comparecimento feitos por Sisi e a mídia leal ao Exército, o número de eleitores nesta segunda-feira parecia menor do que em votações anteriores. Com a vitória de Sisi praticamente certa, ele precisaria de uma grande participação para consolidar a sua legitimidade.
As filas das 20 secções eleitorais visitadas pela Reuters no Cairo com frequência nos últimos três anos pareciam menores do que em eleições anteriores. O ministro do Interior disse que o comparecimento foi bom. O supervisor de uma das secções eleitorais num bairro de classe operária do Cairo disse à Reuters que menos de 30 por cento de eleitores registados apareceram.
Múltiplos desafios
Muitos eleitores de Sisi disseram que votaram mais pela estabilidade do que por uma democracia ao modo ocidental, que na avaliação deles trouxe caos e dificuldades às suas vidas.
“Os egípcios e a democracia não funcionam como na Europa”, disse Ahlam Ali Mohamed, uma dona de casa em Alexandria que votou em Sisi. “Votei hoje porque queria me sentir segura.”
Embora desfruta da adulação de muitos egípcios, Sisi, de 59 anos, vai enfrentar sérios desafios, incluindo uma economia em crise e uma campanha de violência de militantes islâmicos surgida desde a derrubada de Mursi.
Para os islamitas, ele é o autor de um golpe seguido por uma violenta repressão, em que centenas de apoiadores de Mursi morreram e milhares foram presos. Dissidente laicos que lideram o levante de 25 de janeiro contra Mubarak também foram detidos.
A organização Human Rights Watch estima o número de dissidentes políticos e islamitas presos em mais de 20 mil. Por outro lado, centenas de membros das Forças de Segurança foram mortos em uma campanha de violência conduzida por radicais islâmicos desde Julho. O ano passado foi o período mais sangrento do conflito interno na história moderna do Egito.