Os Estados Unidos irão restabelecer as relações diplomáticas que cortaram com Cuba há mais de 50 anos, uma grande mudança de política que encerra décadas de hostilidades com a ilha comunista, disse o presidente norte-americano, Barack Obama, esta quarta-feira (17).
Ao anunciar o fim do que chamou de uma política de isolamento “rígida” e que mostrou-se ineficaz, Obama afirmou que os EUA irão estabelecer laços normais e abrir uma embaixada na capital cubana, Havana.
Obama discutiu as mudanças com o presidente cubano, Raúl Castro, numa conversa telefónica de quase uma hora na terça-feira. Raúl discursou em Cuba ao mesmo tempo em que Obama fazia o seu anúncio sobre a alteração de política, possibilitada pela libertação do norte-americano Alan Gross, de 65 anos, que estava preso em Cuba há cinco anos.
Cuba também está a libertar um agente de inteligência que espionou para os EUA e que ficou detido durante quase 20 anos. Em troca, Washington libertou três agentes de inteligência cubanos presos em solo norte-americano: Gerardo Hernández, de 49 anos, Antonio Guerrero, de 56 anos, e Ramon Labañino, de 51 anos.
Os três chegaram a Cuba, esta quarta-feira, disse Raúl. O caso de Gross era um obstáculo a qualquer gesto de Washington para melhorar as relações. Obama disse que o papa Francisco, o primeiro pontífice latino-americano, teve um papel activo fazendo pressão papa sua soltura. O líder católico parabenizou os dois países pela retomada dos laços diplomáticos.
A mudança política irá levar a um relaxamento em alguns aspectos do comércio e do transporte entre os EUA e a Cuba, mas não significa um fim do já antigo embargo comercial, que precisa de uma aprovação do Congresso que Obama deve ter dificuldade para obter.
Embora as restrições de viagem que actualmente dificultam a ida da maioria dos norte-americano a Cuba serão suavizadas, o turismo de larga escala para a ilha caribenha ainda não acontecerá de imediato. A Cuba e os EUA são inimigos ideológicos desde pouco depois da revolução de 1959 que levou Fidel Castro, irmão de Raúl, ao poder.
As duas nações não têm relações diplomáticas desde 1961, e os EUA têm mantido um embargo comercial à ilha, localizada 144 quilômetros ao sul da Flórida, durante mais de meio século. Obama declarou que pedirá ao Congresso que suspenda o embargo, mas deve encontrar resistência.
Embora cada vez mais parlamentares norte-americanos sejam favoráveis a relações mais normais com Cuba, a maioria ainda é democrata. Como resultado das eleições de meio de mandato de novembro, os republicanos irão controlar as duas casas do Congresso no próximo ano.
O senador Marco Rubio, um republicano cubano-americano, afirmou que irá usar o seu papel como futuro presidente do Comité das Relações Exteriores do Senado para tentar bloquear o plano e que está comprometido a fazer tudo que puder para “desmantelá-lo”.
Reacção nos EUA
A notícia da mudança ecoou profundamente na comunidade de 1,5 milhão de cubano-americanos. Muitos que anseiam ver laços mais fortes com a ilha elogiaram, mas houve críticas daqueles que se opõem a uma aproximação com qualquer um dos irmãos Castro no comando. “É incrível”, disse Hugo Cancio, que foi para Miami em 1980 e que administra uma revista com escritórios na sua cidade adoptiva e em Havana.
“É um recomeço, um sonho que se tornou realidade para 11,2 milhões de cubanos em Cuba, e acho que irá provocar uma mudança na mentalidade aqui na comunidade também.” Nos seus comentários, Obama disse que Cuba ainda precisa de realizar mudanças, como reformas económicas e melhorar os direitos humanos.
Para Obama, a mudança abrupta em relação a Cuba acrescenta um feito de política externa ao seu legado presidencial quando inicia os dois últimos anos dos seus oito no cargo. Ele poderá dizer que virou a página de uma política que o presidente democrata John Kennedy iniciou em 1961.
Num aceno raro para os EUA, Raúl elogiou Obama. “Esta decisão do presidente Obama merece respeito e reconhecimento pelo nosso povo”, disse o presidente cubano.