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Terminou a manifestação pacífica dos estudantes moçambicanos bolseiros na Argélia

Terminou a manifestação pacífica dos estudantes moçambicanos bolseiros na Argélia

No final da tarde desta quinta-feira (cerca das 17 horas locais em Argel), os estudantes bolseiros que deste a passada segunda-feira manifestavam-se diante da embaixada de Moçambique na Argélia, exigindo melhores condições da sua bolsa, terminaram o seu protesto e retiraram-se do local.

Em carta, entregue à um representante da embaixada, os estudantes moçambicanos enfatizam que a sua manifestação foi pacífica e que decidiram suspende-la após o encontro de quinta-feira, em Maputo, entre representantes do Instituto de Bolsas de Estudo (IBE) e os seus pais e encarregados de educação.

Os estudantes retiraram-se da embaixada mas reiteram que a manifestação não terminou mas aguardam a chegada da delegação do IBE, que foi acordado deslocar-se à Argélia em breve no encontro entre os pais e o Instituto.

Bolsa recheada de surpresas, pouco agradáveis

Nino (que prefere não revelar o seu nome com receio das consequências que a sua atitude e a dos seus colegas poderão ter por parte dos governos de Moçambique e da Argélia) está a frequentar o ensino superior numa das universidades públicas da Argélia desde 2008.

Filho de um reformado e de uma doméstica, que vivem na capital moçambicana, Nino cresceu no meio de dificuldades e a bolsa que ganhou foi a única oportunidade que se vislumbrou para garantir um futuro melhor. A bolsa de estudo concedida pelo Governo argelino cobre o custo do curso superior, alimentação no refeitório universitário e o transporte de/e para a escola.

Pela residência universitária paga um custo quase simbólico. Tem direito a assistência médica gratuita mas os medicamentos receitados na maioria dos casos nunca estão disponíveis nas farmácias estatais e, por isso, tal como todos os outros estudantes bolseiros, em caso de problemas de saúde tem de comprar os remédios ao preço do mercado. Houve inclusive um caso recente de um estudante que adoeceu e que não teve meios para se tratar na Argélia, muito menos apoio da embaixada, e acabou por abandonar os estudos regressando a Moçambique.

O Governo moçambicano adiciona um subsídio de 150 dólares norte-americanos (cerca de 4 500 meticais) para que os estudantes possam custear as despesas diárias que não estejam cobertas pela bolsa de estudo. Para Nino, a maior parte do subsídio, cerca de 35%, serve para as fotocópias e outros meios necessários nas aulas.

Porém, não existe nenhum compromisso escrito entre o Governo moçambicano e os estudantes relativamente a este subsídio, o que deixa em aberto situações de incumprimento. Segundo o Instituto de Bolsas de Estudo, este subsídio é estabelecido de acordo com o custo de vida de cada país onde existem estudantes moçambicanos. Entretanto, o salário mínimo, referência habitual para determinar o custo de vida em determinado país, na Argélia é de aproximadamente 200 dólares.

Outro drama dos estudantes moçambicanos na Argélia é que durante os períodos de férias (que são três no total, um dos quais no fim do ano, e que tem a duração de três meses) o refeitório escolar encerra, o que os obriga a encontrarem formas alternativas de alimentação. Uma sandes simples, similar àquela que Nino e os colegas têm comido desde o início da manifestação, custa pelo menos dois dólares, cerca de 60 meticais.

Segundo contam, não existem possibilidades de realizar um trabalho remunerado na Argélia. “A Argélia é um país islâmico e não há muita abertura para a integração ou contratação de pessoas que não professam aquela religião, como é o nosso caso”.

Para os estudantes, esta é uma realidade que desconheciam. Quando saíram de Moçambique foi-lhes dito que a bolsa cobria tudo e viajaram na expectativa de irem apenas estudar e não terem de se preocupar com despesas do curso. Numa das conversas telefónicas que a nossa reportagem tem mantido com aquele grupo desde segunda-feira, ficámos a saber que os estudantes têm de contrair empréstimos junto a colegas de outras nacionalidades e pagam quando recebem o subsídio, ou seja, eles estão sempre a gerir dívidas.

Aliás, uma das razões desta manifestação é o facto de o Governo moçambicano ter pago o subsídio referente ao período compreendido entre os meses de Setembro de 2011 e Fevereiro de 2012 com um corte de 1/3. no princípio, a embaixada não se justificou mas depois alegou que o país (Moçambique) está a passar por dificuldades financeiras daí a necessidade de cortar o subsídio.

Escorraçados da embaixada pela polícia

As reclamações destes estudantes são antigas. Para além de cartas detalhando os vários problemas por que passam, eles mantiveram encontros com os representantes moçambicanos, o último dos quais teve lugar na cidade de Blida, em Outubro do ano passado, com a participação de um responsável académico do Instituto de Bolsas de Estudo de Moçambique (IBE).

Além disso, os termos da bolsa não são claros no que diz respeito à cobertura. Por isso, os estudantes pedem a criação da figura de adido académico naquele país, uma vez que a Argélia acolhe uma das maiores comunidades de estudantes moçambicanos bolseiros. São, no total, 185. A embaixada tem afirmado que não trata de assuntos ligados às bolsas de estudo.

Cansada da vida difícil, que a muitos sacrifícios tem obrigado, e porque os seus problemas nunca foram resolvidos, a comunidade de estudantes marcou uma manifestação pacífica na embaixada de Moçambique, tendo informado a liderança da organização estudantil que, por sua vez, fez chegar o “recado” ao embaixador.

Na manhã da última segunda-feira, dia 19, um grupo de 62 estudantes moçambicanos bolseiros na Argélia (em contacto telefónico esclareceu à nossa reportagem que todos os estudantes apoiam a manifestação e só não estão presentes porque estudam em cidades muito longe da capital ou estão em fase crucial dos estudos) dirigiu-se à embaixada de Moçambique e foi recebido pela secretária, uma cidadã argelina, e por mais de uma centena de agentes da polícia argelina que começaram por impedir a sua entrada no recinto da representação moçambicana e disseram que nenhum membro da missão diplomática estava no interior para o receber, nem mesmo o embaixador, Hipólito Patrício.

Os bolseiros ficaram espantados e, até certo ponto, intimidados, mas não arredaram pé. Pacientes, aguardaram pacificamente até que, cerca das 14 horas, surgiu uma oportunidade de entrarem para o recinto da embaixada, quando a porta que dá acesso ao jardim se abriu. Já em território moçambicano, começaram a sua manifestação pois na Argélia é proibida a realização e/ou participação em manifestações por parte de estrangeiros.

Várias tentativas foram feitas pelos estudantes para tentar contactar os diplomatas moçambicanos mas as portas de acesso ao edifício mantinham-se fechadas e a informação que receberam era de que ninguém estava no seu interior para recebê-los.

Cerca das 16 horas, um membro da representação moçambicana saiu da embaixada, tendo ignorado os estudantes grevistas. Segundo um comunicado daquela comunidade, 15 minutos depois o mesmo representante voltou a entrar na embaixada e manifestou interesse em ouvir os estudantes que pediram para que as negociações acontecessem no interior da representação do nosso país e com a participação de todos os bolsistas presentes no local, o que não foi acedido, facto que ditou o fim das negociações.

Entretanto, a presença policial argelina no local foi reforçada atingindo mais de duzentos agentes, enquanto os estudantes continuavam pacificamente no jardim da embaixada de Moçambique. Cerca das 17 horas a polícia recebeu instruções dos representantes diplomáticos de Moçambique para retirar os jovens manifestantes do recinto da embaixada. Recorrendo à força, os agentes escorraçaram os estudantes indefesos para a rua.

VEJA NESTE VÍDEO O MOMENTO EM FORAM RETIRADOS DA EMBAIXADA

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Já no exterior, os estudantes presenciaram a saída de dois membros da representação moçambicana, o ministro conselheiro e o responsável financeiro, apesar de terem sido informados de que ninguém estava na embaixada para os receber.

Tutela sem soluções

Já na terça-feira, em contacto com o director do IBE, Octávio Manuel, ficou esclarecido que o corte havido na última prestação semestral da bolsa deveu-se à falta de fundos que o nosso país está a enfrentar. Contudo, a fonte indicou que em Maio deste ano o valor que ficou em dívida será pago. Sobre as restantes reivindicações, aquele responsável não avançou com nenhuma solução apelando aos estudantes a regressarem aos seus locais de residência.

Num contacto telefónico estabelecido no final da tarde de terça-feira com os estudantes, estes confirmaram terem conversado (telefonicamente) com o director do IBE mas que não tinham chegado a nenhum consenso, tendo eles reiterado que a manifestação só irá terminar quando algum representante da embaixada de Moçambique os receber e ouvir as suas inquietações.

Em declarações à STV, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi, confirmou que foi a embaixada moçambicana que chamou a polícia argelina e instruiu os agentes para retirarem os estudantes do recinto da representação diplomática do nosso país na Argélia, alegadamente para evitar o caos pois eles (os estudantes) não querem negociar de forma ordeira.

Já no exterior da embaixada os estudantes presenciaram a saída de dois membros, ao que tudo indica o ministro conselheiro e o responsável financeiro desta representação diplomática de Moçambique, na Argélia, apesar de terem sido informados que ninguém estava na embaixada para os receber.

Manifestação durou quatro dias e três noites

Convictos de que esta manifestação era a única forma que têm para conseguir solucionar alguns dos seus problemas, os estudantes moçambicanos estiveram desde segunda-feira no exterior da embaixada a aguardar.  Passaram três noites frias e chuvosas ao relento, sem cobertores e sem se alimentarem convenientemente.

“Na segunda-feira comemos sandes e só na terça-feira é que tivemos uma refeição quente (arroz e frango) oferecida por alguns padres católicos que sentiram pena de nós”.

No final da tarde desta quarta-feira um membro da representação diplomática, identificado pelos estudantes com o Sr.Eugenio da área de Finanças, veio ao encontro dos jovens e, no exterior da embaixada -porque segundo ele não tinha as chaves do edifício – entabulou uma pequena negociação com os estudantes intitulando-se porta-voz do Governo para negociar com eles.

O Sr. Eugénio afirmou que “em Moçambique a vossa situação já está encaminhada, mas mal encaminhada”, segundo nos confidenciou um dos membros deste grupo de estudantes, por via telefónica.  A nossa fonte acrescentou que o porta voz começou por dizer “eu tenho um apelou para vocês, por favor voltem as residências saiam da embaixada”.

Os estudantes afirmam que a resposta que deram foi “nós não estamos a refilar ou a recusar sair daqui, mas só vamos sair da embaixada no dia em que recebermos um documento do IBE que disser recebemos a vossas reclamações e dentro de um período x vocês terão a resposta”.

O porta voz afirmou que não podia garantir nada e acrescentou que para o embaixador vir à embaixada tratar dos assuntos dos estudantes bolseiros estes teriam primeiro de regressar às suas cidades, onde estudam.

Os estudantes entendem que caso saiam da frente da embaixada não só não irão ver os seus problemas resolvidos como também terão mais dificuldades em regressar para um nova manifestação pacífica.

Entretanto a nossa reportagem teve conhecimento que os IBE tem estado a contactar os encarregados de educação dos estudantes bolseiros na Argélia pressionando-os a contactarem os seus filhos para que abandonem esta manifestação e, mesmo aqueles cujos educandos não estão presentes na manifestação, tem estado a ser contactados para garantir que os estudantes não se unam aos manifestantes, sob pena de perderam as suas bolsas de estudo.

Ignorados pelas autoridades moçambicanas os estudantes receberam apoio moral e em cobertores de um agremiação de padres católicos franceses e da caritas, na Argélia, o que permitiu-lhes enfrentar com menos sofrimento as baixas temperatura na noite de Argel, que rondaram os 2 graus centígrados.

IBE reúniu-se com pais e encarregados dos estudantes bolseiros na Argélia

O Instituto de Bolsas de Estudo (IBE) manteve esta quinta-feira (22) um encontro de emergência com os pais e/ou encarregados de educação dos estudantes bolseiros moçambicanos na Argélia. A reunião que se realizou na cidade de Maputo, tinha como objectivo principal apelar a contribuição dos pais e/ encarregados de educação no sentido de persuadirem os seus filhos ou educandos a se retirarem da embaixada onde se encontram já há quatro dias e retomarem às aulas.

O encontro que foi dirigido pelo director-geral do Instituto de Bolsas de Estudo, Octávio de Jesus, começou sob forma de ataques mútuos, onde os pais acusaram o governo, sobretudo o IBE de quase nada ter feito para evitar a greve dos estudantes junto a embaixada, por seu turno os funcionários do Instituto também apontavam o dedo acusador aos pais pelo facto de serem cúmplices do que está acontecer na Argélia, pois eximiram-se da sua responsabilidade ao não terem apelado aos seus educandos para não fazer a greve, mas sim pautar pelo diálogo, o meio mais pacífico para resolver os problemas.

“Não queremos evangelização, mas sim soluções” Logo do início do encontro, o director-geral do IBE tratou de proferir uma “aula de sapiência” aos pais e/ou encarregados de educação dos estudantes bolseiros na diáspora. Octávio disse que quando se dá a bolsa ao estudante, existem condicionalismos que têm de ser observados. Quando por exemplo o curso é de 4 anos, não justifica-se que o estudante leve sete ou mais ano sem o ter concluído.

“Para tal eles têm que se esforçar para concluírem o curso em tempo real. Mas, nós temos na Argélia e não só casos de estudantes que estão lá há mais de sete anos, e toleramos isso, nunca cortámos a bolsa”, afirmou.

Aliás, antes de os estudantes bolseiros partirem para o exterior são submetidos à aulas de sapiência, onde são informados claramente do funcionamento e condicionalismos que a bolsa acarreta. Ademais, nesses encontros, também faz se uma radiografia dos países aos quais serão enviados para estudos, condições climatéricas, custo de vida, entre outros assuntos.

Os pais e/ou encarregados de educação têm a palavra

Jorge Ferreira é pai de um estudante bolseiro na Argélia, escusou-se em dizer o nome do seu educando, ainda que o director o tenha solicitado. Justificou que não seria ético dizer o nome do estudante, independentemente do seu envolvimento ou não greve. Ferreira disse que as coisas chegaram até este ponto porque “me parece que não existe uma comissão constituída para discutir o caso dos bolseiros grevistas na Argélia. Acredito que não é apenas o problema dos 150 dólares mensais que os leva a fazer greve, vai além disso”, comenta.

Este encarregado de educação apelou para que o governo, particularmente o IBE tem que ouvir e levar à peito as preocupações dos estudantes. “O que está a acontecer agora na Argélia, pode ser o cume da saturação pelos problemas e dificuldades que eles passam naquele país. O meu filho disse me quando eles têm problemas e vão colocá-los a embaixada, nalgumas vezes não são recebidos, alegadamente porque não existe alguém virado à educação que pode recebê-los”, ajunta.

Aldino Xavier tem um irmão bolseiro na Argélia com o qual tem falado sempre, “ainda o mês passado logo depois de receberem os subsídios dos quatro meses, disse que um funcionário da embaixada terá dito que os dois meses em falta poderiam ou não ser pagos, não havendo nenhuma obrigação para o efeito”, conta para depois acrescentar que essas informações podem ter agudizado os ânimos dos estudantes. Xavier acrescenta que se houvesse comunicação entre o IBE, estudantes e a embaixada moçambicana naquele país, as coisas não chegariam a este extremo. Faz fé que poderá ter havido falta de diálogo entre as partes.

Entretanto, António Gaspar também pai de um estudante bolseiro na greve, cujo filho esteve envolvido na greve e depois desistiu, disse que neste momento as pessoas envolvidas neste caso devem concentrar-se na busca de soluções. Gaspar caminha pelo diapasão das soluções, para o efeito, disse que “nós os pais temos que persuadir os nossos filhos para abandonaram o recinto da embaixada onde estão aglomerados e criar uma comissão para apresentar os problemas que têm, antes que se chegue a fase críticas. O Estado tem que ouvir as reivindicações dos estudantes e dar o seu devido tratamento”, conta.

Este encarregado que em tempos passados foi bolseiro na Suécia, disse ainda que a iniciativa de os estudantes irem se aglomerar junto a embaixada não é correcta. “Isso é recusar a solução pacífica dos problemas, eles devem se organizar, existe lá uma associação dos estudantes, deviam usar este canal para apresentar as suas preocupações. A greve ou manifestação tem que feita depois de fracassados outros meios pacíficos, ela tem que ser o último recurso”, apelou.

Entretanto, no fim do encontro de duas horas e meia, o director-geral do Instituto de Bolsas de Estudo (IBE), Octávio de Jesus, disse que os pais e/ou encarregados de educação devem assumir um papel importante neste imbróglio. “Eles podem colaborar connosco, apelando aos seus filhos ou educandos em greve para que se retirem da embaixada e retomem a embaixada. Ninguém está satisfeito com os quatro dias do não funcionamento da embaixada, muito menos com o facto de eles os grevistas dormirem ao relento”, comenta.

Está para breve o envio de um representante do IBE para dialogar com os estudantes em greve

Octávio de Jesus assegurou que a sua instituição não está a altura de neste momento colocar um adido de Educação na embaixada, pois isso acarreta custos. “Mas, também fique bem claro que não vamos aumentar o subsídio deles de 150 dólares mensais por estudante. Isso implica mexer também no subsídio de tantos outros estudantes bolseiros moçambicanos a se formar noutros países do mundo. Aliás, os bolseiros na Argélia e Rússia são é recebem o subsídio mais elevado que os outros compatriotas também bolseiros na diáspora”, assegura.

De Jesus avançou sem avançar pormenores que a sua instituição vai enviar brevemente à Argélia um funcionário do IBE para dialogar directamente com os estudantes bolseiros, particularmente os que estão a manifestar-se defronte da embaixada de Moçambique.


NOTÍCIA ACTUALIZADA ÀS 22 HORAS DO DIA 22/03/2012

 

 

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