A população do Posto Administrativo de Lumbo, na província de Nampula, debate-se com sérios problemas de abastecimento de água potável, situação que já interfere no relacionamento de casais. As mulheres madrugam e percorrem longas distâncias à procura do precioso líquido para satisfazer as necessidades básicas domésticas e assegurar a higiene nas famílias. Contudo, os homens alegam que as suas companheiras demoram nos poços, onde formam bichas enormes e só regressam ao meio dia, porque se amantizam.
O chefe daquele posto administrativo, Amade Mohamed, disse que vivem por ali 22 mil pessoas, das quais apenas 150 é que têm acesso a água canalizada nos seus quintais. Contudo, para obter esta mesma água criam reservatórios porque ela só jorra nas torneiras no período das 7 às 12 horas.O sistema de abastecimento local foi construído em 1969, para apenas servir a sete mil pessoas que na altura viviam na Ilha de Moçambique, número que aumentou significativamente. Na Ilha há 36 mil habitantes.
Amina Rachide, residente do Posto Administrativo de Lumbo, contou à reportagem do @Verdade que as mulheres madrugam para marcar a bicha nos poços cuja água tem baixa qualidade para o consumo humano. É preciso percorrer uma longa distância para lá chegar e trazer um bidão de 20 litros. Regressam à casa normalmente ao meio dia. Por via disso, os maridos criam confusão e alegam que elas estavam a amantizar-se.
Marieta Quinquime, de 24 anos de idade, disse-nos, em tom de piada, que já se separou de três homens. Uma das relações terminou por causa de problemas relacionados com as suas idas aos lugares onde é possível ter pelo menos um bidão de água. Era frequentemente espancada, sofria no seu lar porque o esposo era ciumento.
“Sempre que fosse para o poço ele fazia insinuações. Os homens desconfiam da demora das suas mulheres quando vão buscar água. Disputamos a mesma fonte enquanto somos muitas e é preciso formar bicha”, explicou.
Esta situação está a atingir contornos alarmantes no Posto Administrativo de Lumbo. O posto da Polícia da República de Moçambique local tem recebido, com frequência, mulheres a denunciarem casos de violência doméstica protagonizados pelos seus maridos por causa da falta de água.
O chefe daquele posto administrativo, Amade Mohamed, não se referiu a números concretos relacionados com violência de que as mulheres são vítimas, mas assegurou- nos que os homens agridem fisicamente as suas parceiras por causa da escassez do precioso líquido.
As autoridades locais conseguiram ampliar o sistema que neste momento serve, insatisfatoriamente, 22 mil pessoas. Todavia, a maior parte dessas fontes encontra-se há mais de nove quilómetros do Posto Administrativo de Lumbo. Trata-se de uma situação que está, consequentemente, a comprometer as acções de promoção de saúde, porque com a falta de água a população dificilmente observa as regras de higiene individual e comunitária.
Lumbo tem quatro unidades sanitárias. As doenças mais diagnosticadas são a malária, diarreias, o HIV/ SIDA e outras. Porém, o sector de saúde local queixa-se da fraca adesão da população aos cuidados sanitários.
Abastecimento de água em Lumbo com dias contados (?)
Recentemente, na Ilha de Moçambique, foi lançada a primeira pedra para a reabilitação e ampliação do sistema de abastecimento de água, o qual vai beneficiar também a população do Lumbo ora satisfeita com a “promessa”.
Outro problema que se espera que venha a surgir está relacionado com as dificuldades de pagamento das facturas devido ao fraco poder de compra dos utentes.
Amade Mohamed receia que assim que os fontanários tiverem sido construídos haja fraco pagamento porque as populações queixam-se da falta de dinheiro. Isto dá a entender que a água estará à venda.
Refira-se que a falta de água regista-se também em todas as comunidades da província de Nampula. Nesta parcela do país, nas zonas rurais vivem cerca de 3.2 milhões de pessoas, das quais apenas 50 porcento dispõe de água potável, embora com algumas dificuldades relacionadas com o mau uso e gestão dos fontanários. Nas zonas urbanas, onde vive pouco mais de 930 mil habitantes, 570 mil é que têm a cobertura de água potável.
Assim, de um total de mais de 4 milhões de habitantes da província de Nampula, cerca de 2.1 milhões têm água potável, uma cifra que representa menos de 52 porcento da população total, a mais numerosa do país.
No concernente aos objectivos do Desenvolvimento do Milénio, diga-se que esta questão pode comprometer o alcance das metas traçadas. A previsão do Governo é de até 2014 ter 69 porcento da população rural coberta do precioso líquido, contra 70 porcento das zonas urbanas. Mas pode fracassar caso medidas estratégicas não sejam tomadas no âmbito do cumprimento do Programa Quinquenal do Governo para esse mesmo período.
Especificamente o distrito da Ilha de Moçambique, declarado pela UNESCO como património mundial da humanidade, apresenta uma taxa de cobertura mais baixa das quatro cidades da província de Nampula. Dos 52.202 habitantes, somente 22.985 pessoas têm água potável, o que representa 44 porcento de cobertura de abastecimento.
A essa população com água disponível, o nível de prestação de serviço não é contínuo, agravado pelo facto de a mesma população viver numa porção de terra cercada de água salgada por todos os lados e sem alternativas para recorrer aos rios e lagos.