O envio de uma missão africana de prevenção e protecção no Burundi (Maprobu), como encarado pela União Africana ((UA), é susceptível de aumentar as tensões étnicas que já começaram a acalmar no país, declarou quinta-feira o presidente da Assembleia Nacional burundesa, Pascal Nyabenda.
Para que uma força de intervenção estrangeira se justifique, é preciso normalmente que haja duas partes em conflito. O que, a meu ver, não é o caso hoje no Burundi”, defendeu Nyabenda durante um encontro com um enviado especial do Governo americano na região dos Grandes Lagos, Tom Periello.
Porém, pelo menos dois movimentos rebeldes armados contra o poder manifestaram-se nos ultimos dias no Burundi, suscitando mais receios de uma nova guerra civil aberta de caráter étnico no país. O mais conhecido é constituído pelas Forças Republicanas do Burundi (Forebu), lideradas por um antigo general do Exército e chefe dos motins que culminaram no golpe de Estado frustrado de maio último.
O enviado especial dos Estados Unidos para a região dos Grandes Lagos mostrou-se conciliador desta vez, dando a entender que a sua quarta visita em três meses ao Burundi se inscreve no quadro do reforço da cooperação bilateral e que os dois países devem trabalhar juntos para o reforço da segurança.
A participação do Burundi nas Forças de Manutenção da Paz da União Africana na Somália (Amison) faz parte dos esforços de segurança particularmente apreciadas pelo Governo americano que não carece de interesses estratégicos neste país do Corno de África, confrontado com uma guerra civil há décadas, dizem geoestrategas em Bujumbura.
A ideia da Maprobu remonta à 565ª reunião do conselho de paz e de segurança da UA ocorrida a 17 Dezembro último, em Addis Abeba, na Etiópia, que devia responder às urgências ligadas ao impasse político persistente no Burundi, à insegurança e à violência crescente no país bem como às graves consequências humanitárias, das quais deslocações internas de populações e o fluxo de refugiados em direcção aos países vizinhos.
Um acordo de paz assinado em agosto de 2000, em Arusha, na Tanzânia, sobre a paz e à reconciliação nacional permitiu um regresso à calma nos últimos 15 anos. O espectro de uma guerra civil ressurgiu desde o início do ano transacto devido a um conflito eleitoral mal resolvido e diversamente explorado entre o poder e a oposição.
As Nações Unidas estimam já em pelo menos 400 o número de mortos e em cerca de 300 mil o de cidadãos que fugiram do seu país desde que eclodiu a guerra. O Conselho Nacional para a Defesa do Acordo de Arusha e o Restauro de um Estado de Direito (Cnared), principal plataforma da oposição interna e em exílio, criticava quinta-feira, num comunicado, as hesitações da comunidade Internacional em desdobrar uma força de interposição no Burundi.
A nível da Comunidade Internacional, os Estados Unidos continuam a fazer pressão, por diferentes meios, para levar os protagonistas da crise no Burundi a encontrarem uma solução negociada para o seu diferendo.
Desde 1 de Janeiro de 2016, o Burundi cessou de ser elegível no programa do Governo americano, vulgo Agoa, que facilita trocas comerciais com alguns países amigos.
O Governo americano empreendeu sanções, como a interdição de viagens e o congelamentos de contas bancárias no seu território, pertencentes a responsáveis do aparelho de segurança burundeses que tenham desempenhado um papel ativo na repressão dos movimentos dos “anti-terceiro mandato presidencial” do atual chefe de Estado Pierre Nkurunziza, e dos que tentaram em maio último cometer um golpe de Estado.