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Em profunda aflição mental

Em tudo isso, o atraso (sistemático) do estudante à escola porque não há meios de transporte; o seu défice de concentração nas aulas em resultado dos obstáculos que se lhe criam para aceder aos serviços da instituição do ensino; o seu fraco empenhamento para transformar as dificuldades que atravessa em seu benefício;

Um conjunto de barreiras por que neste mesmo estudante passa para receber, interpretar e participar no processo da sua formação e socialização; a ineficácia da biblioteca que – inserida numa sociedade na qual se existe é unicamente para ser mais um adereço da estrutura urbana – em nada lhe serve na aquisição do conhecimento por ser órfã do único instrumento que constitui a razão da sua existência, o livro, e que lhe vale ostentar o afamado nome;

Estas sistemáticas ausências dos turbodocentes que – em consequência de vários factores socioeconómicos e financeiros que manipulam o seu comportamento, mas acima de tudo –, em virtude de compreenderem que naquela escola em que, conforme entendem, podem faltar já que não estão a fazer nada mais do que um mero biscate, priorizando, por isso, as demais instituições comerciais em que o ensino (e/ou a educação) é um verdadeiro business;

Business, este, que instala um profundo desânimo e desalento (que dessa realidade situacional de coisas decorre) nas entranhas do estudante em relação à sua tarefa original e primordial, estudar; a má e deficiente compreensão das matérias ministradas que decorre do facto de o pupilo não ter lido previamente os assuntos, apesar de os sábios apregoarem que a leitura “é um meio fundamental para dotar as pessoas, sobretudo as crianças, de competências essenciais para exercerem, no futuro, o seu direito de cidadania com maior sentido de responsabilidade, liberdade, conhecimento e elevação”, conforme Francisco Noa, em certa ocasião, reiterara;

Uma verdadeira decadência da instituição do ensino e educação que, de uma forma paulatina e contínua, povoa uma sociedade inteira, perante o olhar – de todos nós, preocupados em fazer o nosso poder de barganha crescer – indiferentemente cúmplice da situação que não tardará a declarar o nosso fim como povo dotado de valores morais, cívicos, culturais e tradicionais por velar, acompanhar e participar de forma activa e consciente no processo da sua evolução e transformação;

Zabumba-se, na verdade, toda uma geração da viragem que desprovida de ciência, em pleno domínio de uma tal sociedade de informação, nenhum movimento seu por mais acrobático que seja, lhe possibilita virar algo.

A consequente redução da moralidade, a queda dos valores da fraternidade, solidariedade, liberdade (que daí resulta) dá lugar à emergência da glorificação da corrupção, da criminalidade, da prostituição entre outras práticas e procederes nocivos e infaustos, gerando-se, assim, uma nova sociedade em que a cobardia e a inércia dos dirigentes, incluindo os dirigidos, perante o referido estádio da realidade, é o motor que fecunda uma profunda aflição mental em que uma tal geração da viragem teima em se escudar.

*O tema é inspirado na mostra do artista plástico moçambicano David Mbonzo, realizada na 5ª edição da Expo Arte Contemporânea Moçambique, em Maputo, sob o mote Profunda Aflição Mental.

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