O célebre escritor moçambicano, Eduardo Costley-White, perdeu a vida na madrugada deste domingo, 24 de Agosto, no Hospital Central de Maputo, onde se encontrava internado, vítima de doença, informam os seus familiares a partir da sua conta do facebook.
Para Eduardo White a poesia é a arte que se lhe colava à pele, aliás, era a sua paixão e o seu modo de vida. Mas, diga-se, também foi o seu maior arrependimento, pois, como confessou um dia, ser poeta é escolher “uma vida miserável e de indigência”. Com 12 obras publicadas e uma colecção de prémios, White resumiu as suas opções: “escolhi esta parte pobre da vida, a de escrever”.
“Estou farto desta má educação. Eu não gosto e não me permito que esteja refém do que acredito”. Provavelmente, esta terá sido a última mensagem emitida por Eduardo White, através do facebook, para a sua legião de fãs e apoiantes das suas ideologias.
Até à data da sua morte, o escritor corria atrás de mais um sonho – a necessidade de levar a arte, nas suas diversas formas e tipos, e os seus fazedores, o conhecimento literário e científico para os alunos e os professores da Escola Comunitária São Vicente de Paulo da Malhangalene. Infelizmente, a morte antecipou-lhe, da mesma forma que antecipa a publicação da sua obra “Bom dia, dia”.
“Sempre foi um dos meus sonhos, vir a contribuir, um dia e como escritor, se o sou no sentido próprio da palavra, para que o meu trabalho, de algum modo, ajudasse a levar a outros sonhos realidades”, escreve White na referida mensagem publicada a 18 de Agosto, na sua página da já referida rede social, ao mesmo tempo que argumenta que “não é nada especial um artista comprometer-se com a comunidade em que se insere, antes e pelo contrário, é um dever moral e uma responsabilidade social”.
Um golpe inoportuno
Se se tomar em consideração que, além da publicação da sua nova obra, “Bom dia, dia”, segundo os planos do escritor, 2014 marca a celebração dos seus 50 anos de idade e dos 33 de carreira, a morte de Eduardo White é golpe profundamente inoportuno na medida que trava um processo, já iniciado, que terminaria com a necessidade de se “homenagear e dignificar o trabalho de escrever para honrar a Literatura Nacional, os meus leitores, os inúmeros amigos que guardo, os artistas das diferentes disciplinas artísticas com quem me relaciono e, sobretudo, aos meus patrocinadores, todos eles, que os tive alguns durante este percurso que celebro, e o meu País e o meu Povo”.
Vida e obra
Eduardo Costley-White nasceu a 21 de Novembro de 1963, em Quelimane, na província de Manica, no centro de Moçambique. É membro da Associação de Escritores Moçambicanos, AEMO. Começa a publicar livros em 1984, com a obra Amar Sobre o Índico, tendo três anos mais tarde, em 1987, escrito Homoíne. Em 1990, com o livro País de Mim, ganha o Prémio Gazeta Revista tempo, enquanto em 1992, com a obra Poemas da Ciência de Voar e da Engenharia de Ser Ave, conquista o Prémio Nacional de Poesia.
Os Materiais de Amor Seguido de O Desafio à Tristeza (1996), Janela para Oriente (1999), Dormir com Deus e um Navio na Língua (2001), uma obra bilingue português/inglês, com a qual conquista o Prémio Consagração Rui de Noronha, As Falas do Escorpião (novela; 2002), O Homem a Sombra e a Flor e Algumas Cartas do Interior (2004), O Manual das Mãos (2004); Grande Prémio de Literatura José Craveirinha, Prémio TVZine para Literatura, Até Amanhã Coração (2007), Dos Limões Amarelos do Falo, às Laranjas Vermelhas da Vulva (2009), com a qual ganha o Prémio Cores da Escrita, Nudos (2011), uma antologia da sua obra poética, O Libreto da Miséria (2010-2012) e A Mecânica Lunar e A Escrita Desassossegada publicada em 2012 são os livros que compõem o seu espólio.