“Nampula vai fazer parte do nosso governo do centro e norte” começou por afirmar Afonso Dhlakama, neste sábado (31) num comício realizado no estádio 25 de Setembro, na chamada capital do norte de Moçambique, que foi pequeno para acolher as dezenas de milhares de cidadãos que continuam a clamar pela vitória do partido Renamo, e do seu líder, nas Eleições Gerais de Outubro passado. O líder do partido Renamo deixa claro que “não há guerra” mas não vai tolerar provocações. “Quero deixar claro aos comunistas da Frelimo se tentarem provocar a Renamo, tentarem disparar para a Renamo, juro pela alma da minha mãe que a resposta não será aqui no norte (…) agora é aquecer lá, nos prédios lá, lá em Maputo onde estão os chefes”.
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Acolhido como um Messias, impressionante o delírio dos nampulenses quando Dhlakama subiu para a tribuna do estádio após aguardarem sob sol abrasador durante mais de três horas, o líder do maior partido da oposição enfatizou: “Nampula, Niassa, Manica, Tete, Zambézia e Sofala, esses seis fazem parte, constituem a república do centro e norte democrático com uma autonomia total: autonomia governativa, autonomia económica e financeira (…) governar com democracia, governar com justiça” e mais adiante tentou explicar como conseguirá essa autonomia: “Vamos governar mas sem confusão, a única coisa que vai haver se calhar um pequeno acordo entre a Renamo e a Frelimo, o Dhlakama assina, embora a gente não reconheça o Nyusi pode assinar, aquilo que também fazia com o Guebuza, aquilo que também fazia com Chissano (…) isso como forma de passar uma lei para que de facto essas províncias sejam conhecidas ou reconhecidos com autonomia, como um governo autónomo”.
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Porém, o líder do partido Renamo não soube esclarecer aos jornalistas após o comício em que termos será estabelecido esse governo autónomo do centro e norte, qual o cargo que ele ocupará e nem mesmo que período será necessário para a sua materialização. Mas deixou no ar que os deputados do seu partido eleitos para o Parlamento, e que ainda não tomaram posse, poderão fazê-lo a tempo de viabilizar essa lei que dê autonomia às províncias onde a Renamo foi o partido mais votado nas eleições de 15 de Outubro de 2014.
Polícias “burros”
Dhlakama apontou o dedo para as forças que deviam ser da Lei e Ordem, mas que sistematicamente são usadas como instrumento de repressão pelo partido no poder, e deixou-lhes um aviso: “Quero chamar atenção especial à Polícia, esses miúdos que são mandados maltratar a população (…) aqui em Moçambique ninguém tem força como a Renamo, mesmo esses miúdos da Intervenção Rápida, FADM a gente desmonta”.
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E num claro desafio à Polícia da República de Moçambique (PRM), que poderá ser enquadrado pelas autoridades governamentais como incitação à violência, o presidente da Renamo afirmou que “a partir de hoje (sábado) qualquer elemento da Polícia que brincar com macua aqui, aquela brincadeira de amarrar e pôr na prisão, imediatamente liguem para mim vou endireitar”.
Afonso Dhlakama chamou os agentes da PRM de “burros” que maltratam o povo e declarou que “a partir de amanhã estou aqui quero ouvir que um polícia prendeu, eu vou lá na esquadra pegar todos, comandantes, todos ponho- os no carro e vão para Maputo lá onde estão os chefes deles”.
“Vocês são escravos da Frelimo”
Para os críticos que o acusam de tribalismo e regionalismo Dhlakama esclareceu: “Não sou tribalista, não sou regionalista aliás eles é que são tribalistas, eles é que são regionalistas porque o que fazem lá (Maputo) não fazem para um macua aqui”, uma verdade bem real sentida diariamente não só em Nampula mas pelos milhões de moçambicanos que por não estarem na capital são privados de educação de qualidade, acesso a cuidados de saúde, água potável, energia eléctrica ou mesmo de transporte seguro e condigno. “Quem está a dividir o país é o Dhlakama ou são eles? Porque é que não estão a igualar a vida da população com vocês; não é dividir o país?”
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O líder do maior partido na oposição apontou depois o dedo aos filhos dos membros seniores do partido Frelimo, que sem nenhum esforço ou trabalho conhecido se tornaram empresários de sucesso e enriqueceram defraudando o erário e deu como exemplo a filha do antigo Presidente Armando Guebuza que começou a ser empresária aos 20 anos de idade e durante o mandato do seu pai ascendeu à lista das mulheres jovens mais poderosas de África, publicada pela Forbes, com interesses em diversos sectores da economia como a banca, as telecomunicações, os transportes, e os sectores mineiro e imobiliário.
“Valentina é tida como a segunda mais rica do continente africano. Meus amigos, onde é que apanhou dinheiro essa criança? (…) isto não é humilhação? Não é escravatura isso? Vocês são escravos da Frelimo. Então o Dhlakama tudo que está a fazer é para terminar com a escravatura contra vocês”, afirmou o presidente do partido Renamo.
“Sou vosso servidor, eu prefiro morrer em vossa defesa”
Afonso Dhlakama tranquilizou a sua plateia, e ao povo moçambicano. “Não há guerra não há nada, repito não há guerra não há nada! Mas não vai tolerar provocações. “Quero deixar claro aos comunistas da Frelimo se tentarem provocar a Renamo, tentarem disparar para a Renamo, juro pela alma da minha mãe que a resposta não será aqui no norte, nem em Sathundjira, nem em Muxúnguè, nem em Nampevo, nem em Namaíta, nem aonde”. O líder da Renamo disse que desta vez a resposta, que não concretizou em que moldes acontecerá, vai ser dada na capital do país. “A resposta tem que ser lá, porque se a resposta for aqui em Nampula, em Cabo Delgado, for em Sathundjira ali em Gorongosa sabe o que é que dirá a Frelimo: ‘ah são entre eles os chingondos aí, matam- -se entre eles nós os chefes aqui estamos bem’, agora é aquecer lá, nos prédios lá, lá em Maputo onde estão os chefes”.
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Para aqueles que apregoam que ele está a lutar apenas para também beneficiar de recursos financeiros de Moçambique o presidente do partido Renamo enfatizou: “Sou vosso servidor, eu prefiro morrer em vossa defesa” e mais adiante repetiu: “Não irei decepcionar a vocês. Porque é preferível eu enforcar- -me do que um dia desses dizerem que o Dhlakama tudo o que dizia era mentira, está aí a comer com a Frelimo em Maputo, quero aqui dizer: nunca”!
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É impressionante a moldura humana que presenciou este comício de Afonso Dhlakama. Contadas a olho, estiverem presentes algumas dezenas de milhares de pessoas de várias idades e sexo, mobilizados sem recurso a meios de comunicação públicos nem a uso de transportes. A maioria veio a pé, muitos vieram de mota para escutar o auto- intitulado “pai da democracia em Moçambique” que no final do comício rejubilou por entre os presentes a maioria serem jovens “97% (diria cerca de 70%) da presença aqui são jovens entre os 18 e os 25 anos, significa que o partido tem vida, mesmo daqui a 50 anos. Senão estariam só velhos!”.
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