@Verdade foi falar com Paulo Araújo, director da Associação Juvenil para o Desenvolvimento do Voluntariado em Moçambique (AJUDE). Araújo reivindica ganhos na reconstrução do país e dissipa algumas dúvidas em relação à participação da organização no meio político. Diz, por exemplo, que a AJUDE é uma coisa e a política partidária outra. Portanto, qualquer informação que coloque as duas coisas na mesma panela “é um boato”.
(@Verdade) – Qual é a missão da AJUDE?
(Paulo Araújo) – AJUDE é Associação Juvenil para o Desenvolvimento do Voluntariado em Moçambique. É uma organização de jovens que no próximo ano completa 20 anos de actividade.
Portanto, foi fundada em ’93 por um grupo de estudantes do ensino superior e que decidiu que devia fazer algo em prol do país depois da guerra civil que terminou um ano antes. A AJUDE foi fundada, principalmente, para promover a reconciliação entre os moçambicanos. As primeiras actividades foram realizadas para promover o intercâmbio dentro de Moçambique.
Ou seja, levar jovens de um ponto do país para outro para desenvolver coisas concretas como a reconstrução de uma escola ou a reabilitação de um posto de saúde. Ao mesmo tempo promover a reconciliação e a paz entre os moçambicanos.
(@V) – Quais foram os resultados desse trabalho?
(PA) – Isso resultou na construção de escolas, embora feitas com material local. Ainda assim, foi algo significativo porque naquela altura registava-se uma grande escassez de estabelecimentos de ensino. Houve escolas que construímos com chapas de zinco, caniço e estacas em locais como Magude, Xinavane, Ilha de Moçambique, etc.
Por esse país todo desenvolvemos muitos programas de intercâmbio. Portanto, temos resultados concretos em termos de infra-estruturas e também promovemos a paz e a reconciliação. As pessoas da Zambézia, Nampula vinham para um programa de duas ou três semanas no sul de Moçambique e tinham de viver e trabalhar com pessoas de outros pontos.
Ou seja, para além da construção de uma escola, trocavam experiências e aprendiam a conviver umas com as outras. Nesse aspecto fizemos a nossa parte na reconciliação pós-guerra que era um dos objectivos do país.
(@V) – A construção de estabelecimentos de ensino é, em grande medida, responsabilidade do Estado. A AJUDE teve algum apoio do Governo para o efeito?
(PA) – Não em termos monetários. Nós trabalhamos com o auxílio das estruturas locais. Por exemplo, se nos predispuséssemos a construir uma escola em Magude ou Xinavane falávamos com as estruturas locais para indicarem o espaço e solicitarem o apoio das comunidades no corte do caniço. Porém, os fundos para a compra das chapas de zinco vinham dos parceiros estrangeiros que procurávamos. Sempre tivemos de combinar essas duas partes.
(@V) – Nos dias que correm, a AJUDE deixou de construir escolas. Que trabalho desenvolve?
(PA) – Nos últimos anos as dinâmicas mudaram e nós tivemos de nos adaptar à realidade actual e mudámos o nosso foco. Agora estamos virados para os programas de intercâmbio a médio e longo prazo. Para nós médio são seis meses e longo prazo um ano.
Ou seja, criamos oportunidades para jovens que terminam o ensino médio, antes de ingressarem para o superior, de terem uma experiência com a realidade de um outro país. O que é um oportunidade para que conheçam o que são, mas também outras realidades, de tal modo que passam a ser jovens com referências para poderem criticar aquilo que é o statu quo do país.
(@V) – Nesta perspectiva, quantos jovens é que a AJUDE já levou para fora do país?
(PA) – Os programas de intercâmbio de médio e longo prazo estão a ser implementados pela AJUDE desde 2002. Enviámos 40 jovens por ano para fora do país desde que o programa começou. Para países europeus e para o Canadá, especificamente.
No mesmo período recebemos o mesmo número de voluntários estrangeiros em Moçambique. Portanto, se fizermos uma conta rápida desde 2002 até hoje (já passam 10 anos) na ordem de 40×10 já podes imaginar quantas pessoas saíram.
Aproximadamente 400 jovens já participaram no programa de intercâmbio e que mudaram a sua maneira de ser e estar, sobretudo de encarar o mundo e a vida porque estiveram expostos a outras realidades.
(@V) – Que trabalho estes voluntários fazem nas comunidades onde são inseridos?
(PA) – Isso depende do foco. Por exemplo, em cada cinco anos nós escolhemos um tema porque os nossos programas são financiados por outros. Ou seja, o programa com o Canadá é financiado pelo Governo canadense e eles têm uns temas específicos em que apoiam certas iniciativas.
E nós como uma instituição parceira deles tivemos de identificar áreas que fossem de acordo com aquilo que são os padrões de financiamento deste Governo.
Nós escolhemos a área de saúde e de saneamento do meio como espaços para nós trabalharmos. Nesse sentido identificamos pessoas e organizações em Moçambique que estão a trabalhar na área da saúde e também na de saneamento do meio.
Com estas instituições nós criamos parcerias e os nossos voluntários quando estão no programa de intercâmbio trabalham nessas instituições e aprendem matérias ligadas ao HIV, fazem sensibilização e ao mesmo tempo trazem para as comunidades novas formas de cuidar do seu meio ambiente na componente da gestão e reciclagem do lixo.
Os nossos voluntários, quando estão em Inhames, vivem nos bairros periféricos onde há problemas graves de saneamento. Os que vêm de fora ajudam a encontrar técnicas baratas de tratamento de resíduos sólidos, e fáceis de manusear por qualquer um.
(@V) – Nestes 20 anos em quantos províncias é que a AJUDE se encontra?
(PA) – Estamos consolidados em cinco províncias. Temos o escritório nacional em Maputo e temos um escritório em Nampula, Niassa e na Zambézia. Por outro lado, temos pontos focais em Inhambane, Sofala, Manica e Cabo Delgado.
Desafios
(@V) – Que dificuldades enfrenta a AJUDE?
(PA) – Para nós a questão fundamental é ser difícil compreender porque um programa como o nosso é financiado por um Governo de um outro país. Os benefícios do programa são tanto para o lado moçambicano como para o canadense, mas o nosso Governo não apoia iniciativas como esta.
Se forem a ver, os canadenses para além de financiarem o programa de intercâmbio onde estão jovens do seu país, também apoiam programas de intercâmbio entre Moçambique e África do Sul e Moçambique e Tanzânia.
O que nós chamamos de cooperação Sul/Sul. Isso mostra que eles estão cientes da importância da transformação que ocorre nos jovens que participam no programa e dos benefícios do mesmo. Este tipo de iniciativas devia ser acarinhado pelo Governo e é possível. Até porque o valor envolvido não é elevado.
(@V) – Isso não seria oneroso para o Governo?
(PA) – Não são muito caros. Se formos a ver os benefícios a longo prazo eu acho que são investimentos que vale a pena fazer. Vou dar um exemplo: o Governo alemão, há quatro anos, iniciou um programa em que enviam 10 mil jovens daquele Estado para países em desenvolvimento.
Eles pagam tudo para estes jovens ficarem um ano em programas de intercâmbio. Esses jovens saem do país e vão ganhar uma nova experiência antes de ingressarem na universidade.
Ou seja, transformam-se em cidadãos diferentes e com outro conhecimento do mundo. Os canadenses fazem esse programa há 40 anos. Há pessoas no Parlamento e no Senado. Eles têm conhecimento das potencialidades destes programas.
(@V) – Onde é que vão buscar voluntários?
(PA) – Os nossos voluntários são recrutados em todo o país. Os nossos escritórios servem de centros de recrutamento. Para além de as pessoas que pretendem participar no nosso programa recorrerem à nossa página web, ao facebook ou jornais, nós temos candidatos de todas províncias. Todo mundo participa.
(@V) – Sofreram a resistência dos encarregados de educação no início do processo. Como é que contornaram tal situação?
(PA) – Isso é verdade. Houve uma altura em que tivemos dificuldades em ter voluntários para o nosso programa porque alguns pais pensavam que nós éramos uma agência de tráfico de seres humanos. Não acreditavam que uma organização de jovens pudesse promover programas de intercâmbio para fora do país. Alguns pais tiveram de vir aos nossos escritórios e, tendo em conta a localização dos mesmos, ficavam ainda mais desconfiados das nossas actividades.
Mas depois de explicarmos a natureza da nossa organização eles ficaram mais descansados. Ficaram a saber que mesmo o Ministério da Juventude e Desportos conhecia a nossa organização e o Ministério dos Negócios Estrangeiros também.
Por aí tivemos alguma dificuldade. Mas agora com as tecnologias de informação não estamos tão dependentes de um jornal onde temos de pagar para divulgar as nossas informações.
(@V) – Aqui nunca pagaram?
(PA) – Mas o Jornal @Verdade existe há quantos anos? Nós existimos há muito tempo e temos feito programas desde 2002. Não era fácil colocar anúncios nos outros jornais porque era muito caro. Cobravam-nos valores que não tínhamos capacidade de pagar. No Jornal @ Verdade publicamos.
Aliás, os programas que estão a decorrer este ano foram publicados no Jornal @Verdade e no twitter e facebook. Eu acho que por esta via alguma informação sobre a AJUDE passou. Acho que o nome da AJUDE passou a ser conhecido depois de a mesma ter sido selecionada para participar no Fórum Africano com o Presidente Obama.
Depois daquele evento todo mundo foi procurar saber o que é a AJUDE porque viram que apenas três pessoas de Moçambique estiveram naquele evento. Isto fez com que muitas pessoas começassem a procurar saber quem são essas pessoas e de que organizações vinham. A partir daí a AJUDE passou a ser conhecida e aparecer nos jornais.
(@V) – Como é que justifica que a AJUDE tenha reconhecimento além-fronteiras e não dentro do país?
(PA) – Essa é uma pergunta que ia fazer a si como moçambicano. Porque é que não conhece a AJUDE? Mesmo aqui no Jornal @Verdade talvez duas ou três pessoas conheçam a AJUDE, mas grande parte não sabe o que é. Mas é a realidade que estamos a viver.
Pela experiência que eu tenho de trabalhar com o associativismo há mais de 10 anos é que “se queres aparecer tens de pagar”. Há muitas organizações que conseguiram pagar para aparecer nos jornais embora não tivessem nada a fazer. Não tinham trabalhos e nem faziam nada. Pagavam para dizer que estavam a fazer isto e mais aquilo e os jornais ficavam estampados de informação que na realidade não encontras no terreno.
Nós não fazemos isso e o tipo de trabalho que fazemos é reconhecido por pessoas de fora e fica registado. Por isso é mais fácil falar de AJUDE fora do país do que aqui em Moçambique onde divulgam informação de interesse público de forma selectiva.
(@V) – Em Moçambique? Porque as actividades da AJUDE não são reportadas?
(PA) – Nós reportamos. Temos os nossos relatórios dessas actividades e nos sítios onde trabalhamos existem televisões, rádios e jornais. Todos sabem o que estamos a fazer, coincidentemente temos muitos amigos que trabalham nos órgãos de informação e que sabem do trabalho que desempenhamos.
Eles podiam escrever ou referenciar o que está a acontecer. Quando estamos em Inhambane, durante três meses, trabalhamos com o Conselho Municipal e outras organizações ligadas ao meio ambiente e orfanatos. Neste momento estamos a apoiar um orfanato com o valor de 16 mil dólares para renovar todo o equipamento do berçário.
Os órgãos que lá estão não divulgam. Nós achamos que esse trabalho não vende e por isso não é divulgado. Não há ninguém interessado em divulgar, a não ser que a gente pague, porque o trabalho está lá e fala por si.
(@V) – A AJUDE tem um oficial de comunicação?
(PA) – Não temos nenhum oficial de comunicação porque para nós implicaria ter uma pessoa especializada em fazer tal trabalho.
Lembre-se de que no princípio eu disse que gostaríamos de ter pessoas especializadas em certas áreas, mas infelizmente numa organização como a nossa é difícil porque quando tentas recrutar um profissional eles acreditam que a AJUDE está em condições de pagar um valor que não temos, sobretudo pelo facto de trabalharmos com estrangeiros, querem que paguemos muito dinheiro.
Quando recebem as nossas propostas salariais viram as costas. Isso pode ser um das fraquezas, mas não é isso que impede que as informações sejam divulgadas.
(@V) – Outras fraquezas?
(PA) – O facto de não termos actividades de geração de rendas constitui uma fraqueza. Nós estamos totalmente dependentes dos doadores que são os nossos parceiros principais. Outra fraqueza é não conseguir encontrar recursos humanos que queiram trabalhar nas condições que nós podemos oferecer.
Nós precisaríamos de um oficial de comunicação e imagem e de alguém para ir atrás de potenciais doadores. Por causa disso o nosso staff é muito dependente dos projectos. Por isso todo pessoal assalariado que temos trabalha com contratos por tempo determinado.
Ou seja, estes dependem dos programas. Isso é uma fraqueza para uma organização como a nossa pela mobilidade de pessoas. Ter novas pessoas implica estar sempre a ansiar as mesmas coisas.
“Tivemos dificuldades em entender o que estava a acontecer”
(@V) – A AJUDE tem 20 anos, mas como é que só agora é que conseguiu publicar os seus estatutos no Boletim da República? Como é que justifica?
(PA) – De facto, tivemos dificuldades em entender o que estava a acontecer, porque o registo de uma instituição como a nossa foi feita pelo Ministério da Justiça em ’97, mas a publicação no BR só conseguimos este ano. Sempre houve dificuldades que não conseguimos compreender. Primeiro eram questões financeiras porque os valores para a publicação no BR eram exorbitantes.
Como sabes, para se publicar no BR o cálculo dos custos é feito em função das palavras e nem todas organizações têm capacidade para pagar um estatuto de cinco ou sete páginas. Porém, para o nosso caso concreto, não foi nessa ordem. Há alguns anos já tínhamos o valor e iniciámos o processo, mas este desapareceu na Imprensa Nacional. Tivemos de recorrer ao Ministério da Juventude e Desportos para ver se agilizavam o processo, mas algo estranho estava a acontecer que não entendemos.
O processo desapareceu novamente. Ora estava com a directora y, ora x, ora z e ninguém queria dar a confirmação de que o processo estava a andar. A última situação que ocorreu é que tínhamos pago, mas ninguém queria dar o recibo para confirmarmos que efectuámos o pagamento. Isso criou-nos algum transtorno, uma vez que para a emissão de vistos dos voluntários por parte da “Migração” eles pedem o BR.
Alguns doadores, para darem alguns fundos, querem documentos para confirmar que nós existimos. Tudo isso teve implicações no trabalho da nossa instituição, mas finalmente este ano conseguimos e a publicação foi feita no BR há dois meses.
(@V) – No vosso entender este constrangimento que se criou em torno da publicação dos Estatutos visava dificultar o trabalho da AJUDE?
(PA) – É difícil dizer. Pode ser que sim, pode ser que não. Tendo em conta que nunca tivemos nenhum apoio do Ministério da Juventude e Desportos, nem do Governo nas nossas actividades e também nos distanciamos de certos programas que nós acreditamos que são estranhos aos estatutos da nossa instituição. Portanto, pode ser que haja pessoas que não queriam facilitar a vida da AJUDE. Tudo é possível, mas é mera especulação porque não temos como provar.
Vitórias
(@V) – Nestes 20 anos quais foram as vitórias da AJUDE?
(PA) – Se formos a regressar ao ano em que a AJUDE nasceu, deparamos com muitas organizações juvenis, mas que, volvidos cinco anos, desapareceram simplesmente. As que existem agora talvez não tenham cinco anos de vida.
A nossa é uma das poucas que conseguiu resistir 20 anos, porque nós conseguimos manter a nossa linha estatutária e criar redes de contacto internacional que nos possibilitam manter a nossa instituição funcional sem depender de um único parceiro ou doador específico. Portanto, se um parceiro deixa de apoiar nós conseguimos arrancar com outros programas e parceiros. Isso é algo que não foi possível para muitas organizações. O facto de termos resistido 20 anos é um grande ganho.
Conseguimos ter escritórios próprios. Acreditamos que conseguimos transformar um grande número de jovens em pessoas críticas. A diferença de empregabilidade dos jovens que participam no nosso programa com aqueles que não estão é muito grande.
Os nossos voluntários quando regressam do programa têm muito maiores possibilidades de ingressar no mercado do trabalho do que aqueles que não participaram. Os nossos voltam com habilidades de liderança, linguísticas e de adaptação a meios multiculturais. Portanto, facilmente alguém que tem um currículo com esses requisitos tem muito mais hipóteses de ser contratado para um emprego do que um que só tem um diploma da escola.
(@V) – Ir ao Canadá representa um choque muito grande. Trata-se de sair de um país subdesenvolvido para o chamado primeiro mundo. Já tiveram jovens que não queriam regressar?
(PA) – Sim. É um choque cultural, mas eles passam por um processo de preparação. Todos que participam no programa passam por uma orientação pré-partida para se explicar o tipo de ambiente que vão encontrar. Usamos exemplos de pessoas que já estiveram nos mesmos programas para darem o testemunho do que os outros podem encontrar.
Talvez psicologicamente eles possam estar preparados, mas a realidade pode ser diferente, ainda que não seja de todo nova. Porém, felizmente desde que iniciámos o programa já vão quase 10 anos e os choques não foram motivo para as pessoas ficarem no Canadá ou desistirem do programa.
Mas foram motivo para alguns ficarem meio deprimidos quando participam em algumas actividades dentro do programa, mas isso por causa da temperatura e o tipo de comida que é diferente daquilo a que estavam acostumados.
(@V) – Antes os programas começavam no Canadá e de há uns tempos para cá arrancam em Moçambique. Porquê?
(PA) – Nos primeiros cinco anos do programa tínhamos a fase canadense como a inicial, mas a experiência mostrou-nos que depois dos três meses que passavam no Canadá era muito difícil manter os moçambicanos no programa. Quando fosse a vez dos três meses em Moçambique eram os nossos voluntários que se confrontavam com dificuldades de adaptação no seu próprio país.
Apesar de serem moçambicanos, depois de terem passado três meses no Canadá estavam mais tentados a deixar o programa do que a terminar o mesmo. Ficavam poucos moçambicanos ou apenas os canadenses. Os moçambicanos estavam susceptíveis de abandonar o programa porque depois do Canadá para eles tudo tinha terminado.
Conseguimos trocar a ordem e já vamos para o quarto ano em que temos programas que iniciam em Moçambique e terminam no Canadá. Assim, o nível de desistência diminuiu quase para zero. A mudança trouxe estabilidade.
Posicionamento político da AJUDE
(@V) – Qual é a relação da AJUDE com a política? (PA) – Como assim? (
@V) – O que se diz é que a AJUDE drenou dinheiro para a campanha de Manuel de Araújo em Quelimane…
(PA) – Felizmente a AJUDE conseguiu manter-se separada da política. Feliz ou infelizmente, alguns dos membros fundadores da AJUDE entraram na vida política activa, o que é diferente. Mas eles fazem parte da primeira geração de membros fundadores da AJUDE.
Mas há membros da AJUDE que estão na Renamo, outros no MDM e alguns na Frelimo. Até na Presidência da República temos membros da AJUDE que trabalharam nos nossos escritórios e que, por uma razão ou outra, vão ficando no silêncio e não vão falar sobre o seu passado.
Mas temos as fichas e tudo que testemunham o passado deles. Nos vários ministérios temos pessoas que passaram pela AJUDE e que saíram da UEM, ISRI, etc. Todos esses são políticos passivos que passaram por lá.
(@V) – É um trampolim para a política?
(PA) – Não. Para nós a AJUDE é uma escola na qual se aprendem muitas coisas e as pessoas que passam por ela têm uma capacidade diferente de entender o mundo.
É difícil alguém que passou pela AJUDE ser formatado porque já tem outras vivências e compreende o país. Por causa disso, e associado a diversos factores, as pessoas podem ser levadas a pensar que Manuel de Araújo mantém uma ligação e recebe fundos da AJUDE.
Não há como tirar dinheiro da AJUDE porque não existe dinheiro para além dos projectos traçados. Temos as nossas contas bancárias no Standard Bank e eu acredito que todos bancos são monitorados e qualquer organização que recebe transferências de fora do país passa por uma auditoria.
(@V) – Qual é a diferença entre o Paulo Araújo líder da AJUDE e aquele que apoiou o irmão em Quelimane?
(PA) – Eu sou um activista social e estou ligado ao voluntariado desde ’99 por influência do meu irmão. Eu não tinha como não ajudar o meu irmão porque era a primeira vez na história da nossa família que ele se ia candidatar ao município de Quelimane.
Eu participei de forma activa na elaboração da estratégia dele e na campanha para ele se tornar naquilo que é hoje. Não foi mais do que isso. Eu não estava interessado em trabalhar no município ou em ser vereador.
Se estivesse esse seria o passo a seguir. Para nós isso foi claro desde o início. Não fui apenas eu. Tenho outro irmão que agora está em Londres que também participou activamente. Todos familiares e amigos que acreditavam apoiaram. Eu apoiei como familiar, amigo e cidadão. Não tem nada a ver com a AJUDE.
(@V) – Mas esse apoio não causou más interpretações dentro da AJUDE?
(PA) – É difícil formatar alguém que passou pela AJUDE. Nós tivemos uma vantagem de o nosso escritório ser horizontal, onde todos sabem o que acontece e quais são as responsabilidades. Não havia nenhuma dúvida em relação a esse aspecto. Portanto, isso não passa de boato.