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Doentes sem acesso aos sanitários no Centro de Ndlhavela

Doentes sem acesso aos sanitários no Centro de Ndlhavela

No Centro de Saúde de Ndlhavela, Município da Matola, utentes e pacientes ressentem-se das restrições de acesso às casas de banho que se têm verificado no período da noite. Como alternativa, estes recorrem às casas circunvizinhas.

Este é um problema que se vem registando desde o ano passado e foi despoletado pelos pacientes e utentes e também é do conhecimento da comunidade local, para cujas casas as pessoas que frequentam aquela unidade sanitária se dirigem para fazer as suas necessidades biológicas.

Tudo começa quando, no período da noite, os pacientes e utentes vão ao banco de socorros daquele centro de saúde, que funciona desde o ano 2009. Na verdade, aquela unidade hospitalar tem casas de banho internas e externas, que ficam abertas durante o dia.   Mas quando os outros subsectores do hospital encerram, os funcionários trancam as fora, deixando apenas as de dentro, cujo acesso é apenas para os que estejam ali internados.

Perante este cenário, os utentes que se dirigem àquela unidade sanitária no período da noite sentem-se obrigados a pedir para fazerem as suas necessidades biológicas nas casas mais próximas. Porque nem assim procedem, há quem se vê forçado a fazê-las ao relento.

João Matavele, residente no bairro T.3, disse ter passado por um triste episódio quando, à calada da noite, acompanhava a filha àquele centro de saúde. “Chegámos por volta das 22 horas. Depois de um tempo, tive necessidade de ir à casa de banho mas as enfermeiras disseram-me que os sanitários estavam fechados e que aquilo era normal àquela hora”.

Enfermeiros fazem ouvidos de mercador

Face àquela situação, nada mais restava a Matavele senão deixar a sua filha deitada no banco e bater à porta de uma das casas próximas. “Fizeram-me uma série de perguntas porque pensavam que eu fosse um malfeitor. Senti-me mal mas compreendo a atitide deles”.

“Expliquei-lhe o que se estava a passar e depois de muita insistência é que me cederam o sanitário. Mesmo reconhecendo o bom gesto daquela família, lamento as humilhações por que passei naquele dia”, acrescenta.

Se Matavele teve de pedir a uma família vizinha do hospital para fazer o uso da sua casa de banho, o mesmo não se pode dizer em relação aos que não têm essa coragem. Segundo as enfermeiras que estavam de serviço no dia em que a nossa equipa de reportagem se dirigiu ao Centro de Saúde de Ndlavela, e com as quais falámos, há doentes que optam por fazer as suas necessidades mesmo no quintal do hospital.

“As pessoas vêm para aqui para serem tratadas, e quando alguém defeca, por exemplo, à volta do local, o que é normal, então estamos a fazer um trabalho supérfluo pois as fezes são vectores de transmissão de muitas doenças”, dizem.

O que dizem os moradores?

Joaquina Bila reside no bairro Ndlhavela há dez anos e afirma que tem recebido em sua casa muitos doentes e pessoas que pedem para usar a sua casa de banho. Segundo aponta, estas “visitas” ocorrem sempre no período da noite, pois é nessa altura que as do centro de saúde se encontram trancadas.   “Para nós que estamos em frente do hospital, estes casos são comuns. Às vezes temos de acordar a altas horas da noite para atender a pessoas que pedem para fazerem o usos dos nossos sanitários. A situação é tão penosa que não dá para negar”, explica.

A nossa interlocutora disse que devido ao sofrimento a que estão submetidos os cidadãos que escalam aquela unidade sanitária durante a noite, um grupo de moradores já tentou falar com os responsáveis do hospital. “Disseram que nós não podíamos as regras de funcionamento da sua instituição, pois é algo que não nos diz respeito. Na verdade, o que nós pretendíamos era pô-los a par do sofrimento por que os utentes passam, embora estejamos certos de que eles sabem do que estamos a falar”.

“Nós vamos ajudá-los sempre que for necessário. É um pouco constrangedor acordar à alta noite, abrir a porta e atender um desconhecido. Não podemos ser negligentes como eles, embora haja alguns malfeitores que se aproveitam desta situação para ter acesso às nossas casas e roubarem-nos. Ficamos sem saber quem realmente necessita de ajuda”, afirmam.

Direcção recusa-se a falar

Contactada pelo @Verdade, a direcção do Centro de Saúde de Ndlhavela, na voz do seu director, Bachir Macuácua, disse que não estava autorizado a prestar quaisquer declarações à imprensa sem a autorização da Direcção Distrital de Saúde, Mulher e Acção Social da Matola.

“Eu não posso falar sem antes consultar os meus superiores hierárquicos, neste caso a Direcção Distrital. Recebemos uma directiva do Ministério da Saúde segundo a qual  não podemos falar aos órgãos de informação sem consentimento dos superiores”, justificou-se.

Quando a nossa reportagem visitou aquela unidade sanitária foi lastimável ver pacientes estatelados no chão, pois os poucos assentos que ali existem estavam ocupados, para além das enormes filas intermináveis e o alegado mau e moroso atendimento de que muitos cidadãos moçambicanos se queixam nos hospitais do país.

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