O ex-presidente peruano Alberto Fujimori, preso por corrupção e violações de direitos humanos, está mal de saúde por causa de um cancro oral e pedirá perdão humanitário ao presidente Ollanta Humala, disse a sua filha, esta Sexta-feira (28).
O perdão humanitário, que pode ser concedido após diversos exames médicos e judiciais, permitiria que Humala obtivesse apoio parlamentar do partido direitista de Fujimori, solidificando a margem de manobra do governista Gana Perú.
Mas o perdão irritaria muitos peruanos de esquerda, que passaram anos a tentar derrubar Fujimori e, depois da sua renúncia, lutando para colocá-lo na cadeia. Eles lembram-se de Humala como um jovem oficial do Exército que contrapunha-se ao autoritário presidente e exigia publicamente a sua renúncia.
Alguns cépticos dizem que o perdão pode ter abrangentes implicações políticas, inclusive levando o Congresso a aprovar uma reforma constitucional que permita à ambiciosa primeira-dama Nadine Herrera disputar a presidência em 2016, quando Humala não pode concorrer à reeleição.
Fujimori foi presidente entre 1990 e 2000, quando refugiou-se no Japão. Em 2007, ele foi extraditado do Chile para o Peru, onde mais tarde foi sentenciado numa série de julgamentos a 25 anos de prisão por apropriação de recursos públicos e formação de esquadrões da morte para reprimir insurgentes.
Segunda-feira, a Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou ao Peru que anule uma decisão tomada em Julho pela sua Suprema Corte, que rebaixou os crimes cometidos pelos esquadrões da morte, algo que advogados de Fujimori esperavam usar para obter a libertação antecipada do seu cliente.
A derrota imposta pelo tribunal internacional levou a família de Fujimori a dizer, esta Sexta-feira (28), que buscaria o perdão presidencial. Fujimori, de 74 anos, tem cancro na boca e está deprimido, segundo a sua família e o seu advogado.
Os críticos dizem que os prisioneiros muito mais doentes não são perdoados. Humala em alguns momentos parece disposto a conceder o perdão, embora alguns dos seus assessores claramente oponham-se.
“Esperamos que haja uma mudança de atitude por parte de pessoas que falam pelo governo, e que essa solicitação seja avaliada sobre bases humanitárias, não políticas”, disse a filha do ex-presidente, a deputada Keiko Fujimori, derrotada por Humala nas últimas eleições presidenciais. Ela disse que a solicitação de perdão será oficializada nos próximos dias.
Fujimori teve o mérito de domar a hiperinflação e abrir a economia peruana ao comércio e aos investimentos externos, permitindo que o país chegasse a ter uma das maiores taxas de crescimento na América Latina.
Ele também derrotou militarmente a guerrilha maoísta Sendero Luminoso, mas o seu estilo autoritário e a corrupção disseminada levaram os peruanos a voltarem-se contra ele, até à sua fuga, em 2000.