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Doenças crónicas e não transmissíveis aumentam e deixam sistema nacional de saúde com as mãos à cabeça

As doenças crónicas e não transmissíveis, nomeadamente a hipertensão arterial, as diabetes, as doenças respiratórias crónicas, as doenças cardiovasculares, o cancro, a anemia, os problemas mental, o trauma e a violência estão a aumentar de forma alarmante em Moçambique, sobretudo na população pobre, disse o Ministério da Saúde (MISAU), na segunda-feira (11), em Maputo, no lançamento de um estudo sobre a matéria e sublinhou a necessidade de as pessoas ficarem mais alertas para estas questões, que “ameaçam a sustentabilidade do sistema nacional de saúde”.

A preocupação, de acordo com aquela instituição do Estado, não é à toa: os factores de risco, tais como o sedentarismo, o consumo excessivo do álcool, o abuso do tabaco, a alimentação inadequada, também tendem a aumentar, o que agrava a prevalência das enfermidade acima indicadas.

O relatório em questão, intitulado “Doenças Crónicas e Não Transmissíveis em Moçambique”, aponta que, entre 2005 e 2015, houve uma tendência crescente da prevalência de hipertensão arterial nos país, de 33% para 39% nas pessoas com idades compreendidas entre 25 e 64 anos.

O documento revela ainda que o grosso dos hipertensos não sabe que padece desta doença e existe outro grupo, também numeroso, que mesmo sabendo da sua condição não se submete ao tratamento, o que impede o controle da enfermidade.

Num outro desenvolvimento, a pesquisa diz que “mais de 9 milhões de pessoas em Moçambique possuem alguma forma de transtorno mental ou abuso de substâncias, mais frequentemente cefaleia (dor de cabeça) crónica, enxaqueca e transtorno depressivo maior”.

Ademais, estima-se em 3,7 milhões o número de pessoas com trauma em 2015, “tendo resultado em mias de 19 mil mortes; um quarto dos traumatismos correspondeu à violência colectiva”. Em relação à diabetes, o estudo refere que “houve um aumento de 2,6 vezes na prevalência (de 2,8% para 7,4%). Ocorreram em 2012 cerca de 22 mil novos casos de cancro e 17 mil mortes por cancro, tendo os cancros do colo do útero e da mama representado juntos cerca de 50% de todos os cancros da mulher”.

Ana Olga Mocumbi, médica cardiologista e responsável pelo programa de Doenças Crónicas e Não Transmissíveis, no Instituto Nacional de Saúde (INS), disse que estas enfermidades já são um “problema de saúde pública” que ameaça sobremaneira a “sustentabilidade do sistema nacional de saúde”.

As doenças crónicas e não transmissíveis “crescem à medida que a esperança de vida e a urbanização aumentam e, fundamentalmente, no nosso ambiente de pobreza pela forma como nós crescemos e nos urbanizamos”, explicou Ana Mocumbi, à imprensa, e reiterou que a falta de controle dos alimentos consumidos, o não controle do teor de sal na comida, a ausência do respeito estrito pelas leis de comercialização e consumo do tabaco concorrem para o agravamento dessas enfermidades.

O álcool, de acordo com a pesquisadora, é um dos factores sérios de violência. Esta resvala, por sua vez, para o trauma, que é um dos principais motivos de urgência no país, nos hospitais de referência. Aliás, os acidentes de viação, por exemplo, que diariamente fazem vítimas nas estradas nacionais, são outra causa do trauma.

Ela chama atenção para a necessidade de se aumentar a disponibilidade, o acesso e a qualidade do diagnóstico e provisão de cuidados de saúde na área de doenças crónicas, principalmente nas regiões distantes dos grandes centros urbanos, implementando estratégias de descentralização e integração na prestação de cuidados de saúde.

Sugere-se igualmente a “educação sanitária para a prevenção de doenças crónicas, dirigida preferencialmente a adolescentes e adultos jovens, ser acompanhada de medidas de prevenção colectivas suportadas por legislação adequada”.

No estudo, que durou cerca de 12 meses, ela e a sua equipa constataram que a “competitividade” que as doenças crónicas e não transmissíveis impõe às enfermidades infecciosas – tais “como a malária, a tuberculose, as doenças diarreicas, parasitoses e síndroma de imunodeficiência adquirida (SIDA)” – agrava a escassez dos recursos humanos, materiais e financeiros no sistema nacional de saúde.

Há poucos hospitais e sem capacidade para resolver o problema

A rede sanitária pública em Moçambique é constituída por cerca de 1.252 unidades sanitárias. Em 2014, existiam 652 postos de saúde, 435 centros de saúde, 27 hospitais rurais, 7 hospitais provinciais, 6 hospitais gerais, 3 hospitais centrais e 2 hospitais especializados (de psiquiatria). Contudo, apenas 3% das unidades sanitárias são hospitais com capacidade de resolver problemas de saúde complexos.

Pese embora o número desses hospitais tenha aumentado, desde aquele ano, segundo o estudo, o grosso delas possui um número insuficiente de prestadores de cuidados de saúde com treino especializado no diagnóstico e manejo de doenças crónicas e não transmissíveis. Além disso, as infra-estruturas são habitualmente inadequadas, incluindo os laboratórios, que são mal equipados e as condições de arquivo inadequadas para seguimento de doentes crónicos.

Por conseguinte, estes entraves e a extrema escassez de recursos humanos especializados, capazes de lidar com a crescente epidemia de doenças crónicas e não transmissíveis, são parte dos principais desafios para o MISAU.

A representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Moçambique, Djamila Cabral, disse que “somos todos chamados a agir rápido e afincadamente” para inverter a situação acima exposta.

Na sua óptica, pessoas mais vulneráveis ficam mais doentes e morrem cedo porque não dispõem de recursos para aceder aos cuidados de saúde, por exemplo. É preciso “insistir na redução da prevalência dos factores de riscos”.

Por sua vez, a ministra da Saúde, Nazira Abdula, considerou que os moçambicanos só podem gozar de boa saúde e bem-estar se o sistema de saúde tiver “políticas e práticas informadas por evidência científica, e que se engaja num diálogo permanente com os diversos actores da sociedade”.

As doenças crónicas e não transmissíveis “constituem causa de perpetuação da pobreza por afectarem desproporcionalmente as populações mais desfavorecidas, serem causa de perda significativa de dias de trabalho e induzirem despesas catastróficas nas famílias e comunidades”.

Por isso, o investimento na prevenção e controle das referidas enfermidades “é um requisito para se atingir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável”, disse a governante.

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