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Realizadora de cinema saudita quebra tabus no Festival de Veneza

O primeiro filme saudita realizado por uma mulher estreou no Festival de Veneza, discutindo, por meio da história duma voluntariosa menina de 10 anos, as limitações impostas ao sexo feminino no conservador reino islâmico.

Constantemente importunada por não usar véu, escutar música pop e não esconder-se diante dos homens, a menina Wajda usa da astúcia para escapar das restrições e barreiras sociais que enfrenta em casa e na escola.

Quando ela vê à venda uma bicicleta verde que a permitiria disputar uma corrida contra um amigo homem, ela formula um plano para conseguir dinheiro e comprá-la, apesar da oposição da sua mãe, meninas de respeito não pedalam na Arábia Saudita.

Ela acaba por decorar versículos do Alcorão para inscrever-se numa competição religiosa na escola, com prémio em dinheiro, e por isso precisa de fingir ser a menina carola que os seus professores querem.

A directora Haifaa al Mansour disse que o objectivo de “Wajda” é retratar a segregação na Arábia Saudita, onde as mulheres têm um status jurídico inferior ao dos homens, são proibidas de dirigir e precisam da permissão dum tutor masculino para trabalhar, viajar ou abrir conta bancária.

“É fácil dizer que trata-se dum lugar difícil e conservador para uma mulher, e que não há nada a fazer, mas precisamos de ir adiante e esperar que possamos ajudar a torná-la uma sociedade mais relaxada e tolerante”, disse ela aos jornalistas, em inglês, depois da pré-estreia do seu filme em Veneza.

Ela citou alguns sinais de mudança na sociedade saudita, e disse que as novas gerações estão a desafiar os costumes rígidos e a ampliar lentamente as fronteiras do que é aceitável.

Sob o governo do rei Abdullah, a Arábia Saudita passou a oferecer mais oportunidades de educação e trabalho às mulheres, e também o direito a voto nas futuras eleições municipais, única espécie de pleito realizada no país.

Mês passado, as mulheres sauditas disputaram a sua primeira Olimpíada. “Não está como antes, embora eu não possa dizer que é um paraíso. A sociedade não vai simplesmente aceitar, as pessoas vão pressionar as mulheres a ficarem em casa, mas precisamos de lutar”, afirmou a cineasta.

Mansour falou das dificuldades para filmar em Riad, apesar de ter obtido autorização das autoridades.

Nalguns bairros mais conservadores, ela às vezes precisava de esconder-se no furgão da produção quando os moradores reclamavam por ver uma directora a misturar-se a homens na locação.

Nalguns casos, ela precisou de dirigir actores homens com um “walkie-talkie”. “Wajda”, que não está na competição principal de Veneza, deve ter um público limitado no seu próprio país, onde as salas de cinema são ilegais.

Mas os produtores dizem que esperam distribuir o filme em DVD e nos canais de TV.

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