O presidente do partido Renamo, Afonso Dhlakama, afirmou neste domingo(12), ao ser questionado por académicos e líderes religiosos de Manica, no centro de Moçambique, que não vai fazer reformas agrárias falhadas nas províncias autónomas que o partido quer criar. Dhlakama, que parece estar em campanha eleitoral, prometeu uma política de habitação para funcionários públicos e a triplicação do salário mínimo.
Numa reunião de auscultação relacionada com subsídios de governação, Afonso Dhlakama, líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição, foi questionado sobre como pretende abordar a pobreza, a fome, o desemprego, falhas na Justiça, a industrialização e mecanização da agricultura, a protecção da floresta e da fauna bravia, além dos custos fiscais para atracção de investimentos nas províncias autónomas, férteis em recursos.
Com o projeto de lei que apresentou sobre estas novas províncias, a Renamo pretende governar em seis das 11 províncias moçambicanas, do Centro e do Norte, por ter ganhado em cinco nas eleições gerais do ano passado. Dhlakama ameaça mesmo governar pela força nestas áreas, caso o partido Frelimo, partido no poder, chumbe a proposta no parlamento.
Na reunião, Ranger Mairosse, um líder religioso, indagou como pretende a Renamo combater as torturas de cidadãos pela polícia e a corrupção na Justiça: “Até quando os tribunais vão virar negócio para enriquecer magistrados?”, questionou Ranger Mairosse, perguntando também se há um plano para acabar com o que classificou como os “bancos judiciais” e se a atual polícia vai servir nas províncias autónomas.
O académico Augusto Francisco quis saber se os jovens têm alguma esperança no que se refere ao desemprego nas províncias autónomas e se há um plano para criar empreendedorismo.
Por sua vez, o politólogo Edson Isaías apelou para que a Renamo não volte a desiludir a população e declarou que os anteriores recuos do partido, após tomar posições extremas face às anunciadas fraudes eleitorais, nos últimos quatro processos, terão reduzido o seu prestígio.
Em resposta às questões, Afonso Dhlakama voltou a pedir desculpas públicas por “ter permitido nas eleições passadas que fossem formados governos sem serem eleitos”, assegurando que pretende governar com justiça e integridade para evitar um julgamento eleitoral. O líder do partido Renamo referiu não ter sido ainda elaborado um programa de governação para cada província autónoma, mas assegurou que não vai fazer reformas agrárias falhadas – como, exemplificou, a que aconteceu no Zimbabwe, com a expropriação de terras aos fazendeiros brancos para entregá-las aos antigos combatentes negros.
O Presidente do maior partido da oposição apontou a necessidade de um plano para o sector agrário com subsídios a agricultores para incentivar a importação de maquinarias e, assim, ajudar a “matar a fome” e criar postos de trabalho. Pretende-se também apostar na exportação de cereais. Por outro lado, prometeu uma política de habitação para funcionários públicos e a triplicação do salário mínimo de 3.000 meticais, assegurando ainda que a polícia será obrigada a respeitar as normas das províncias autónomas, para assegurar justiça igual a todos.
A Assembleia da República deverá debater na sessão em curso, iniciada a 31 de Março, o projecto de lei submetido pela Renamo defendendo a criação de seis províncias autárquicas, a serem governadas pelo movimento. Caso o projecto seja aprovado, o partido Frelimo, declarado pelos órgãos eleitorais vencedora das eleições gerais, iria governar em apenas cinco dos 11 círculos eleitorais do país e manter a chefia do Estado moçambicano.