A redacção do jornal Folha 8, um dos poucos medias privados independentes que continua existir em Angola, foi invadida esta segunda-feira (12) por agentes da polícia criminal que apreenderam 20 computadores sob a alegação de “crimes de ultraje contra o Estado” e violação da lei de imprensa do país.
Citado pelo Centro de Protecção de Jornalistas (CPJ), o editor chefe do Folha 8, Fernando Baxi, afirmou que cerca de 15 agentes da polícia criminal angolana chegaram à redacção do Folha 8 em Luanda, eram 13 horas, e levaram 20 computadores da redacção e obrigaram-lhe a remover a bateria do seu telemóvel durante a apreenção, como forma de impedi-lo de comunicar com quer quer que fosse.
Em declarações à agência Lusa, o editor do Folha 8 afirmou que esta incursão está relacionada com uma investigação criminal, iniciada em Dezembro de 2011 pelo ministério público angolano, devido a publicação no jornal de uma fotomontagem que foi postada na internet satirizando o Presidente José Eduardo dos Santos, o Vice Presidente Fernando Piedade Dias dos Santos, e o General Manuel Helder Vieira Dias Júnior Kopelipa, conselheiro militar do Presidente angolano.
Nenhuma acusação formal foi feita mas o computadores da redacção do Folha 8 podem ser usados pela acusação contra o jornal. Sem os computadores o jornal Folha 8 está impedido de publicar as suas edições.
O encerramento do Folha 8 e o interrogatório do seu editor William Tonet acontece 48 horas depois de uma tentativa de manifestação de vários jovens em Luanda e em Benguela, haver sido reprimida com brutalidade pela polícia angolana.
A manifestação havia sido convocada para o passado sábado para protestar contra as irregularidades no processo eleitoral que se avizinha e ainda para a indicação de um membro do partido no poder, MPLA, Suzana Inglês para a presidência da Comissão Nacional de Eleições de Angola.
Apesar dos protestos dos três maiores partidos da oposição com representação parlamentar, UNITA, PRS e FNLA, junto do Conselho Superior da Magistratura Judicial e do Tribunal Supremo, todas acções legais interpostas foram liminarmente rejeitadas por estes dois órgãos judiciais.
Pelo menos cinco feridos graves
Segundo o site de notícias angolano club-k, os actos de intimidação e agressão dos manifestantes pacificos tiveram início na Província de Luanda, onde alguns dos promotores da manifestação foram intimidados e agredidos ainda na véspera do dia da manifestação, nas suas próprias residências.
VEJA NO VÍDEO A SEGUIR IMAGENS E NOTÍCIA SOBRE A MANIFESTAÇÃO
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No dia 10 de Março, no Município do Cazenga, foram efectuados disparos com armas de fogo, por parte de agentes da polícia nacional, com o firme propósito de dispersar os manifestantes, chegando alguns dos manifestantes a refugiarem-se em residências que se encontravam nas imediações, sendo, posteriormente, estas residências arrombadas por agentes da polícia à paisana que, munidos de cabos eléctricos, agrediam os manifestantes reporta o site club-k.
Ainda em Luanda, nas imediações do Hospital Militar, um grupo de manifestantes foi agredido por indivíduos supostamente pertencentes à polícia nacional, e que naquele momento se encontravam à paisana no local. Nas imediações do Largo da Independência alguns cidadãos foram alvos de revistas por agentes da polícia que se encontravam à paisana.
Segundo este site de notícias, na Província de Benguela encontravam-se ilegalmente detidos, desde o dia 10 de Março, um dos promotores da manifestação e um jovem da brigada de jornalistas da Associação Omunga, sendo que este último se encontrava a cobrir a manifestação na qualidade de organização observadora junto da Comissão Africa dos Direitos Humanos e dos Povos.
Adão Ramos, um dos organizadores da manifestação, afirmou a agência Lusa que pelo menos cinco jovens ficaram gravemente feridos. A agência de notícias portuguesa reporta ainda que em Luanda, depois da tentativa de concentração no local conhecido por Tanque do Cazenga, para organizar a manifestação antigovernamental marcada para a Praça da Independência, dispersada à bastonada pela polícia, os manifestantes optaram por dispersar e tentar chegar à zona da manifestação em pequenos grupos.
A reportagem da Lusa testemunhou a atuação musculada de civis armados com armas brancas e cabos elétricos, a espancar alguns jovens, que eram levados, enquadrados pela polícia, para zonas vizinhas de difícil acesso, COMO PODE SER VERIFICADO NESTE VÍDEO
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Outros jovens, com mochilas, foram interpelados pela polícia e pelos civis empunhando armas brancas, e obrigados a revelar o que transportavam.
Um dos líderes da manifestação sequestrado e espancado
Entretanto na véspera da manifestação, segundo a página do Facebook Jornal Do Povo Angolano (JPA), um dos jovens idealizadores da manifestação, identificado com Mário Domingos, foi sequestrado por um grupo não identificado e transportado em um carro também sem identificação. A fonte conta que ele foi levado para uma região deserta chamada “Terra Vermelha”, onde foram severamente espancados pela segunda vez.
VEJA NESTE VÍDEO O RELATO DE MÁRIO SOBRE O SEQUESTRO E ESPANCAMENTO DE QUE FOI VÍTIMA
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Mário contou ainda ao JPA que em certo momento os agressores ofereceram-lhe dinheiro para “se esquecer do acontecido”, mas ao recusar a oferta, os espancamentos recomeçaram e passou a receber ameaça de morte, disse o Jornal.
Testemunhas e informantes ligados ao Jornal citaram o empresário angolano Bento Kagamba, como a pessoa que se mantinha em comunicação com o grupo de agressores durante o sequestro.