O Senegal reagiu à expulsão dos ciganos na França, considerando-a chocante. Mas é de admirar que as medidas tomadas contra os africanos não tenham provocado a mesma vaga de indignação.
A expulsão dos ciganos pelo governo de Nicolas Sarkozy (ordenou a ‘evacuação sistemática’ dos ciganos que estão clandestinamente em França, alegando motivos de segurança) valeulhe duras críticas. De quase todos os lados, as críticas aberram-se violentamente sobre o Presidente francês e o seu ‘porta-estandarte’, Brice Hortefeux (ministro do interior).
Um sacerdote de Lille, o padre Arthur, devolveu a medalha da Ordem Nacional do Mérito por solidariedade para com os 200 ciganos expulsos para a Roménia e para a Bulgária. Até a Comissão dos Direitos Humanos da ONU e o Papa Bento XVI se comoveram com a sorte desta pobre gente, populações na penúria espalhadas por diferentes países europeus. De Roma, o Papa pediu à França que ‘acolhesse a legítima diversidade humana’ e mostrasse a sua ‘fraternidade universal’.
Estas reacções excessivas, diplomáticas ou religiosas, por muito razoáveis que sejam, não são menos desajustadas do que outras em relação a outros episódios de expulsão de estrangeiros.
Podemos sentir-nos solidários com os ciganos, sem deixar de referir que a sua expulsão suscitou, de imediato, reacções que em nada se comparam, na rapidez, com as que suscitaram práticas idênticas em relação aos africanos.
Nos campos de repatriamento na fronteira, verdadeiras prisões que não dizem o que são, concentram-se milhares de seres humanos também candidatos à ‘fraternidade universal’, entregues a uma administração mais preocupada com as estatísticas das expulsões do quem em ‘acolher a legítima diversidade humana’.
Nessa ocasião, o Vaticano não se indignou assim… Por não serem ciganos mas africanos? Quantos serão sujeitos a operações de controlo intempestivas diárias, a humilhações policiais no meio da rua, motivadas pelo simples critério da cor da pele, para que a Comissão dos Direitos humanos da ONU se comova?
Quantos não foram algemados, maltratados e mandados para África sem que isso suscitasse outras medidas? Mesmo em Itália, há uns meses, grupos armados dispararam sobre africanos, como se fossem coelhos: o caso não provocou mais reacções que um banal incidente. Roma não abriu a boca.
A 23 de Agosto de 1996, 200 africanos à procura de trabalho, alguns com filhos nascidos em França, foram perseguidos por mil agentes da CRS (Companhia Republicana de Segurança, nome da polícia de choque francesa) que desfizeram à machadada as portas da igreja de São Bernardo, em Paris, onde estas pessoas se tinham refugiado.
Vê-se, portanto, que não é apenas hoje que a França, ‘pátria dos Direitos Humanos’, se destaca pelo seu comportamento culposo. Parece que alguns só agora o descobriram!