Ao que tudo indica muitos anos antes de o realizador francês, Matthieu Bron, conceber a ideia da produção da obra cinematográfica “De corpo e alma”, Vitória, Mariana e Vasco – cidadãos moçambicanos portadores de deficiência física – não passavam de pessoas comuns passíveis, por essa razão, da discriminação a que está votado aquele grupo social.
As cidades de Maputo e Matola são, desde a passada quarta-feira, 21 de Novembro, até o próximo domingo, 25, palco da projecção do documentário “De corpo e alma”, como forma de aplicar o cinema na edificação de uma sociedade inclusiva, com enfoque para a pessoa portadora de deficiência.
As projecções cinematográficas que são intercaladas por debates sociais em volta do assunto da deficiência e da inserção da pessoa portadora de deficiência têm lugar no Auditório Municipal da Matola e no Teatro Avenida, em Maputo, a partir das 18 horas.
A ideia da produção do filme surge em 2007, altura em que, Matthieu Bron, o seu realizador, se encontrou com o director da companhia Culturarte que, na altura, desenvolvia uma peça de dança contemporânea na qual participavam pessoas portadoras de deficiência física.
Sabe-se, porém, que o processo não foi automático, sendo por isso que “da concepção da ideia até à produção do documentário passaram três anos, com vista à realização de uma série de discussões entre o realizador e os três cidadãos, Vitória, Mariana e Vasco, que protagonizam o filme como actores, contando as suas histórias reais”.
Assim, “por detrás dos três actores existem milhares de pessoas deficientes que não conseguem dar a cara e reivindicar os seus direitos”. É por essa razão que, a par disso, o director do Fórum das Associações Moçambicanas dos Deficientes, Ricardo Moresse, considera que “Moçambique se tornou, assim, um exemplo de um país que no mundo apresenta algum posicionamento em relação ao tema da deficiência”.
Terminada a sua produção, o documentário foi apresentado no Festival do Filme Documentário, DOCKANEMA, realizado anualmente em Maputo, incluindo a realização de projecções nos bairros suburbanos da capital, uma exibição na Televisão de Moçambique até que, “De Corpo e Alma”, como se chama o filme, realizou uma carreira internacional que não pára de evoluir.
Matthieu Bron, que teve uma experiência não menos reconhecida fazendo uma digressão em festivais internacionais com o filme, considera que “as pessoas que o assistiram ficaram muito sensibilizadas acerca dos temas que nele são abordados. Por essa razão, este documentário possui uma dimensão transnacional, não obstante ter sido gravado em Moçambique e contar histórias de cidadãos moçambicanos. Isso é importante não só para a sua difusão mas também, e acima de tudo, para a divulgação da mensagem que possui”.
Falando sobre a sua experiência, como actriz e do impacto que a sua participação no documentário gerou na sua vida, Vitória refere que “o objectivo do filme não é necessariamente produzir transformações socioeconómicas, na vida dos participantes nem do realizador, mas contribuir para a mudança da mentalidade na forma como a sociedade olha para a pessoa portadora de deficiência no país”.
Além do mais, depois da sua produção, “sinto que aprendi muito com o documentário porque quando assisto à minha história, oiço as palavras que disse, sinto que estou a emitir mensagens que são muito importantes para mim e paras as pessoas que assistem à obra”, realça Vitória para quem “na minha vida, o filme contribuiu para a transformação de muitos aspectos. Por exemplo, penso, nos dias que correm tenho um emprego – o que significa uma inserção social – resultante do facto de alguém ter-me visto no filme e compreendido, por essa via, que poderia ter algum enquadramento no sector do trabalho”.
Nos dias que correm, “De Corpo e Alma” tem sido explorado por diversas organizações no contexto da educação e sensibilização da sociedade para a inclusão da pessoa portadora de deficiência.
Várias organizações não-governamentais como, por exemplo, a Light For The World, impressionadas com a importância que o documentário possui, têm apoiado o processo da sua difusão, o que inclui a produção do seu DVD, já disponível no mercado, contendo imagens extras sobre os locais onde foram feitas as suas projecções nos bairros de Maputo.