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Danças (com história) para a humanidade…

Danças (com história) para a humanidade...

Desde 2010 que o Governo moçambicano – através das suas instituições – prepara a documentação para a candidatura das danças tradicionais Mapiko, Tufo e Xigubo à categoria de Património Oral e Imaterial da Humanidade. No entanto, há um ano para o envio dos processos, o país (ainda) carece de bibliografia.

A candidatura de Moçambique para a categoria de Património Oral e Imaterial da Humanidade, com o limite de entrada àquela organização das Nações Unidas marcada para 2013, é composta por três danças, nomeadamente o Xigubo, da região sul de Moçambique, Mapiko e Tufo, das províncias de Cabo Delgado e Nampula, no norte.

O Xigubo – praticado, essencialmente, nas províncias de Maputo e Gaza – é uma dança que se manifesta com base numa expressão do corpo em que a preocupação do dançarino é revelar as suas aptidões físicas, a sua força guerreira e, em certo sentido, a segurança da sua sociedade, em termos de defesa militar.

No fim das grandes batalhas históricas, esta modalidade de dança – que se tornou artística – era realizada com o fito de festejar os logros militares dos guerreiros, incluindo a preparação dos mesmos para potenciais confrontos. Por isso, a síntese de que é uma “dança guerreira” reúne consenso.

Caso contrário, a tese defendida pelo célebre escritor moçambicano José Craveirinha, na obra O Folclore Moçambicano e Suas Tendências, não faria sentido. No livro, escreve o notável poeta que atribui a paternidade do Xigubo aos Zulo que “Nem o ronga, nem o changana dançavam Xigubo antes de os Zulo invadirem as suas terras e imporem muitos dos seus costumes, embora, por sua vez, adoptassem hábitos próprios dos povos submetidos pela força das armas”.

Dados dispersos, alguns dos quais na posse do Ministério da Cultura, revelam que o Xigubo é praticado desde a fixação dos Zulo na África do Sul – que se alastraram para diversos territórios da África Austral, incluindo Moçambique – por volta de 1740, altura em que Dingiswayo arrancou o poder da tribo Mthethwa, dando início à sua política de expansão territorial, e subjugando os povos autóctones.

De acordo com os pesquisadores, por vezes, os apontamentos encontrados sobre o tema mostram-se dúbios e ambíguos, mas convergem num aspecto: o Xigubo é o nome que se atribui a apenas um instrumento de que deriva o nome da dança.

A dispersão e a falta de informação referente ao Xigubo, o potencial candidato à dita categoria, são tidos, pelo director da Acção Artístico-Cultural, Roberto Dove – para quem “há escassez de estudos no país sobre as danças tradicionais. A candidatura de qualquer signo à categoria de Património da Humanidade deve ser acompanhada de informação cientificamente comprovada” – como os principais entraves no processo.

É em resultado desse contexto que, presentemente, o ARPAC, um Instituto de Investigação Sociocultural, está empenhado na construção de uma documentação adequada para fundamentar a candidatura do instrumento junto à UNESCO.

Sabe-se, porém, que o processo da recolha da informação referente ao tema – um trabalho dependente de fontes orais, poucos (ou quase nenhuns) bibliográficos, incluindo a sua compilação para depois ser apresentada ao Conselho Consultivo do Ministério da Cultura de onde passará para o Conselho de Ministros – ainda levará muito tempo.

Como se manifestam

A dança do Xigubo consiste no alinhamento de um determinado número de homens – entenda-se, dançarinos – em uma ou duas filas, devidamente adornados com objectos de fibras e peles nos braços e nas pernas, colares de sementes, entre outros signos, vestindo saiotes confeccionados com peles de animais, as quais se fazem acompanhar de um instrumento de defesa denominada xitlhango ou azagaia.

Nas extremidades da fila feita pelos dançarinos, geralmente, encontram-se duas bailarinas que se “confrontam”. Elas têm um papel dissociado – estética do contraponto – da dança executada pelos homens.

Em relação ao Mapico, conforme se escreve na edição de 19 de Setembro de 2012, do jornal Notícias, “é uma dança moçambicana, praticada na província de Cabo Delgado, nos distritos de Mueda, Macomia, Muidumbe e Mocímboa da Praia, estando associada a processos de socialização e integração dos membros da comunidade”.

Por sua vez, ainda conforme a dita publicação, o Tufo é descrito como sendo, essencialmente, uma dança feminina e de influência árabe praticada em cerimónias, festas e efemérides do calendário islâmico. Popularizou-se na região norte de Moçambique, precisamente nos distritos litorais das províncias de Nampula, Cabo Delgado e Zambézia, constituindo uma das danças suaves que privilegiam o movimento cadenciado dos pés, dos braços, das mãos e da cintura, associado ao compasso das canções e do som do batuque.

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