Um grupo de especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU), que recebeu a tarefa de prever os próximos desastres que podem exigir biliões de dólares em ajuda humanitária, alertou sobre o aprofundamento de crise em regiões críticas do mundo, do Burundi ao Afeganistão, nos próximos seis meses. Numa análise directa, pouco comum para uma publicação da ONU, o relatório “Alert, Early Warning and Readiness” (alerta, aviso antecipado e prontidão, em tradução livre) disse que a Líbia pode entrar em colapso, que o Burundi poderia passar por outro golpe de Estado, que extremistas islâmicos ganhariam território no Afeganistão e no Mali, e que a Etiópia não teria comida suficiente durante a seca.
Na Líbia, as Nações Unidas tentam finalizar um acordo político para unir os dois governos rivais. O relatório disse que o fracasso de tal esforço poderia levar a uma divisão entre o governo reconhecido internacionalmente e o Exército, abrindo o caminho para uma tomada do poder pelos militares. “Na falta de um governo legítimo, a Líbia vai provavelmente enfrentar uma situação de guerra civil, de rápida deterioração, perdendo a chance de conseguir a estabilidade ou uma solução política no futuro próximo”, disse.
Ainda em África, a Nigéria e os vizinhos vão ter dificuldades para evitar mais massacres do Boko Haram, enquanto que os seus Exércitos continuarão a cometer abusos, afirmou o documento. “Boko Haram à parte, os Exércitos regionais cometem violações de direitos humanos contra civis, incluindo assassinatos extrajudiciais, desaparições forçadas, tortura e estupro”, disse.
A missão de paz tem pouca força para defender o território no Mali e garantir a segurança da República Centro-Africana, onde combatentes de dois lados da divisão étnica tentam derrubar a presidente Catherine Samba-Panza, segundo o relatório.
O trabalho humanitário no mundo vai permanecer sem o financiamento necessário, limitado e sob ataque, incluindo no Afeganistão, onde um ataque aéreo dos Estados Unidos da América atingiu um hospital dos Médicos sem Fronteiras no mês passado. “Como o ataque contra o hospital dos Médicos sem Fronteiras em Kunduz mostrou, o acesso humanitário para agentes que levam ajuda está piorando”, disse.
Num raro caso em que as tensões diminuem, o relatório afirmou que o conflito na Ucrânia vai perder intensidade ou permanecer parado, em parte porque o envolvimento militar russo na Síria reduziria a acção do país relacionada ao leste da Ucrânia, onde separatistas pró-Rússia têm combatido forças de Kiev.
Os riscos políticos listados pelo relatório vão provavelmente aumentar o número de pessoas precisando de ajuda humanitária no mundo em cerca de 1,9 milhão, disse.
No entanto, isso é ainda bem menos do que aqueles que podem necessitar de ajuda por causa de desastres naturais, especialmente o El Niño, acrescentou o estudo. A previsão é que o fenómeno climático force 500 mil pessoas no Chifre da África a buscar ajuda alimentar internacional, enquanto mais 4,1 milhões estão sob risco nas ilhas do sul Pacífico, assim como alguns milhões mais no sul da África.