O primeiro-ministro do Nepal, o antigo rebelde maoísta Prachanda, anunciou nesta segunda-feira sua renúncia ao cargo em meio a uma crise política com o presidente provocada pela destituição do comandante das Forças Armadas.
“Renunciei ao cargo de primeiro-ministro hoje (segunda-feira) para proteger a democracia e a paz”, afirmou em uma mensagem à nação o ex-guerrilheiro, que desde agosto de 2008 comandava o governo de coalizão. O presidente nepalês, Ram Baran Yadav, determinou nesta segunda-feira ao comandante das Forças Armadas, Rookmangud Katawal, que permaneça no posto, contrariando a ordem determinada no domingo pelo Executivo, no último episódio de uma disputa entre maoístas e militares.
O governo maoísta acusa o comandante militar de desrespeitar as disposições do acordo de paz de 2006, que acabou com uma década de guerra civil, segundo as quais o Exército deveria integrar em suas fileiras os antigos rebeldes maoístas.
As Forças Armadas recusam-se a incorporar alguns dos 19.000 ex-guerrilheiros, que consideram doutrinados ideologicamente. “A intervenção do presidente é um ataque contra esta jovem democracia e contra o processo de paz”, afirmou Prachanda, que acusou o chefe de Estado de ter adotado uma decisão “inconstitucional e antidemocrática”. “A Constituição não dá nenhum direito ao presidente de agir de forma paralela ao poder”, completou. O ex-líder rebelde Pushpa Kamal Dahal, conhecido como Prachanda (“o temível”), foi premier do Nepal por oito meses.
A renúncia é o último episódio de uma disputa entre os militares, tradicionalmente monarquistas e representantes da elite do país, e os ex-rebeldes maoístas. As Forças Armadas também acusam os maoístas de não cumprir os compromissos de desmantelar a estrutura paramilitar e entregar as propriedades confiscadas durante a guerra civil, que deixou 13.000 mortos entre fevereiro de 1996 e novembro de 2006.
Prachanda, ex-professor, liderou os rebeldes durante uma década antes de assinar a paz. Os maoístas venceram a eleição da Assembleia Constituinte em abril de 2008, com uma plataforma favorável a um programa de reformas radical em um dos países mais pobres do mundo. Em maio do ano passado a monarquia hinduísta de quase 240 anos foi abolida e o Nepal virou uma república.