A controvérsia em torno de uma ajuda financeira à Grécia põe à prova a solidariedade europeia e a coesão da zona do euro, fazendo ressurgir velhos contenciosos entre os países membros, principalmente entre a Alemanha e a França.
O compromisso a que poderão chegar nesta quinta-feira, dia 25, dirigentes europeus, é marcado pelas dificuldades. Os conflitos começaram a partir do envolvimento do Fundo Monetário Internacional, com a chancelaria alemã privilegiando, a princípio, uma solução puramente europeia. Entretanto, em seguida a uma reflexão maior, tudo leva a crer que não será somente a zona do euro que oferecerá ajuda à Grécia. O FMI também contribuirá.
Para muitos representantes europeus, esta concessão poderá significar uma confissão de fracasso do jovem projeto de moeda comum, lançado em 1999. É justamente esta a opinião do Banco Central Europeu, guardião do euro. “Recorrer ao FMI pode ser interpretado, em nível internacional, como um sinal de fragilidade das nossas instituições”, lamenta seus dirigentes.
A Comissão Europeia chegou à mesma opinião a contragosto. Seu presidente, José Manuel Barroso, estima que a gestão da crise grega representa “um teste para os dirigentes europeus” e “para o espírito de responsabilidade e solidariedade” dentro da UE. A chanceler alemã, Ângela Merkel, que enfrenta uma opinião pública hostil à ideia de solucionar as dívidas pendentes da Grécia, deixou claro que pretende colocar os interesses de seu país à frente dos da Europa. “Ela substitui um pouco a Margaret Thatcher como a Dama de Ferro europeia”, brinca um diplomata.
“Esta não é a Europa que construímos durante décadas. Não é a Europa que deveria trocar a guerra pela cooperação e solidariedade”, declarou o ex-primeiro ministro belga, Guy Verhofstadt. A França e a Alemanha oscilam em aceitar que o FMI venha a resgatar um país da zona do euro. Este recurso constitui “um sinal de fraqueza” mostrando “que a Europa não é capaz de defender por si própria moeda”, criticou o ministro francês da recuperação econômica, Patrick Devedjan.
Para Antonio Missiroli, analista da European Policy Center, as queixas europeias contra a Grécia “abriram a Caixa de Pandora” e provocaram uma grande confusão na zona do euro. Foram abertos debates jamais travados, desde a criação da moeda. Assim, “a crise evidenciou os limites estruturais da União Monetária. Sem coordenação nas políticas orçamentárias e sem mecanismos de solidariedade, terá sérios problemas”, disse Missiroli.
De repente, a Alemanha, que entrou hesitante na zona do euro, resolveu endurecer, acenando com a possibilidade de excluir um país laxista do grupo da moeda única. A França tenta mediar o conflito, apesar de alfinetar o modelo do crescimento alemão, que considera mercantilista e egoísta porque se volta apenas para as exportações. “Atravessamos um período muito doloroso”, resume o presidente da Fundação Schuman, Jean-Dominique Guiliani.