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Criminosos põem residentes de Guava em pânico

Os moradores do bairro Guava, no distrito de Marracuene, na província de Maputo, estão agastados com os roubos a residências e estabelecimentos comerciais que ocorrem desde o início de Novembro corrente com o recurso a armas de fogo e instrumentos contundentes, no quarteirão 5A, constituído por 600 casas. Vive-se momentos de verdadeiro pânico.

 

 

De acordo com uma das vítimas, que responde pelo nome de Marcelina Uamba, de 38 anos de idade, a 10 de Novembro, os supostos malfeitores introduziram-se na sua habitação, donde saquearam produtos alimentares, somas avultadas de dinheiro, uma botija de gás, a bateria do seu carro e material informático. A nossa entrevistada garante que as portas estavam bem trancadas mas não se apercebeu nem ouviu nenhum barulho na altura em que os malfeitores entraram violentamente. “Fiquei espantada com o profissionalismo dos ladrões, uma vez que estavam preparados para serrar as grades de grande espessura sem dificuldades”, explicou Marcelina.

Guava é um dos bairros ainda em expansão do distrito de Marracuene, a norte da província de Maputo, localizado a aproximadamente 15 quilómetros do centro da cidade de Maputo. Um outro residente daquela zona, identificado pelo nome de Crimildo Fazenda, de 43 anos de idade, comerciante, relatou que um grupo de sete pessoas, fortemente armado, introduziu-se no seu domicílio à noite, tendo roubado 25 mil meticais, electrodomésticos, cartões bancários, bebidas alcoólicas, produtos alimentares, telefones celulares e alianças de ouro. O estabelecimento comercial deste cidadão funciona na sua casa.

Para lograrem os seus intentos, segundo o nosso interlocutor, os bandidos arrombaram as portas, amarraram a família e com recurso a pistolas ameaçaram o proprietário da casa com vista a revelar o Número de Identificação Pessoal (PIN, em inglês Personal Identification Number) dos seus cartões de banco, que continham uma poupança acumuladas durante três anos. Crimildo Fazenda disse que não teve outra alternativa senão divulgar o segredo porque os malfeitores ameaçavam matar toda a família. Os gatunos sacaram todo o valor e deixaram o cidadão pobre.

“O episódio foi traumatizante (…). Foi com sacrifício, luta, suor e determinação que construí o meu lar para oferecer uma vida condigna aos meus parentes. É triste quando se tenta ganhar a vida honestamente e aparece alguém para te tirar o que te sustenta. Apesar de o caso estar em andamento no Posto Policial de Guava, estou com medo de reabrir o estabelecimento comercial”, revelou Crimildo.

Egídia Matsombe é outra vítima dos bandidos que pululam naquela zona sendo que até agora nenhum deles está detido. Ela contou-nos que nos dias 15 e 22 de Novembro, um grupo de pessoas desconhecidas invadiu a sua residência e roubou patos, uma torneira, faróis e a bateria do seu veículo. A senhora disse- -nos que não se apercebeu de nenhuma movimentação estranha nessa noite e só veio a descobrir que foi lesada na manhã do dia seguinte.

“Já não dormimos tranquilos no bairro. Agradecemos a Deus quando chega um novo dia. Estamos com medo. De certeza que os malfeitores podem não ser desta zona, mas existem informantes, porque não é possível que eles saibam o que existe no interior de uma casa, sem antes terem uma informação exacta”, lastimou a nossa entrevistada. Uma cidadã que responde pelo nome de Elina Savie foi, também, alvo dos supostos criminosos no passado dia 17.

Ela narrou que quatro indivíduos armados se introduziram na sua habitação e se apoderaram de electrodomésticos, telemóveis, somas avultadas de dinheiro, produtos alimentares e bebidas alcoólicas. O bando semeou terror na casa, consumiu uma parte das bebidas alcoólicas que acabava de roubar e depois foi-se embora. “É verdade que se linchássemos essa gente estaríamos a cometer um crime mas nós já estamos cansados. Aquele que for apanhado, sem dúvidas, vai pagar por todos os roubos que ocorrem desde o primeiro dia deste mês”, desabafou Elina.

Cães assassinados

Marcelina Uamba e Crimildo Fazenda disseram que os ladrões mataram três cães nas sus casas, alegadamente para evitar que os mesmos ladrassem na altura do roubo. “Acredito que há tempo que o grupo actua desta forma e sempre andou preparado para situações do género. O veneno foi colocado na carne cujos ossos encontrámos no dia seguinte”, explicou Marcelina Uamba. Crimildo Fazenda acredita também que o seu cão foi envenenado porque morreu no dia em que os larápios invadiram a sua casa e lhe roubaram. “Às vezes penso que os indivíduos que nos roubam recorrem a remédios tradicionais porque a maior parte das vítimas não se apercebe de nada quando eles entram em acção”.

Obras que albergam larápios

Outra situação que inquieta os moradores do bairro Guava são as habitações abandonadas, que, segundo eles, albergam criminosos. Os residentes garantem que têm feito jornadas de limpeza para manter alguns sítios limpos com vista a evitarem estes problemas, mas nem todas as pessoas colaboram.

Egídia Matsombe apelou para que os indivíduos que por algum motivo interromperam as suas obras procurem alguém para cuidar das mesmas ou que vendam os espaços no sentido de estes não servirem de esconderijos de gente desconhecida e de conduta duvidosa. A nossa entrevistada disse que os moradores adoptaram o patrulhamento como estratégia para conter a onda de criminalidade, mas fracassaram.

Por sua vez, Carlos Matsinhe, chefe do quarteirão 5A, afirmou que chamou a atenção aos donos das casas abandonadas e das obras interrompidas para envidarem esforços de modo a inverterem a situação. Fê-los perceber que os moradores deste bairro estão desapontados e cansados de serem lesados pelos amigos do alheio que se escondem nas referidas infra-estruturas, bem como de estarem sempre a limpar terrenos que não lhes pertencem.

“Para invertermos o actual cenário tentámos fazer patrulhas, mas entre nós não há colaboração nem confiança. Aparecem apenas 15 a 20 pessoas para patrulharem 600 casas. Este número é bastante pequeno para se fazer uma ronda”, disse aquele líder da zona. Matsinhe disse que a outra medida em curso é o uso do apito para alertar os vizinhos e pedir socorro em caso de pessoas desconhecidas invadam uma residência.

Refira-se que este problema faz lembrar a existência de um grupo de assaltantes de residências composto por 20 elementos, que ficou conhecido pelo cognome “G20”, o qual, para além de assaltar domicílios, agredia fisicamente, violava sexualmente e passava a ferro o corpo das suas vítimas como forma de coagi-las a revelarem os locais onde guardavam dinheiro e outros bens valiosos.

Tratou-se de crimes que aconteceram em 2013, nos bairros das cidades de Maputo e da Matola, e que se tornou uma conversa vulgar em vários lugares do país dado o seu impacto nefasto. Mas os praticantes nunca foram detidos e apresentados publicamente.

O que diz a Polícia?

Apesar de as vítimas e o próprio chefe daquele quarteirão 5A no Guava assegurarem que a corporação tem conhecimento do caso, Emídio Mabunda, porta- -voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) a nível da província de Maputo, alegou que não recebeu nenhuma queixa.

“Esses indivíduos podem ter-se engano nas datas. Reconheço que no bairro Guava existe criminalidade tal como em qualquer outra zona. Porém, apelo aos residentes do mesmo bairro para se dirigirem a uma unidade policial para abrirem um processo formal com vista a seguirmos as pistas e neutralizarmos os criminosos”, aconselhou Mabunda.

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