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Crianças “precisam” de padrinhos de formação em Inhambane

Crianças “precisam” de padrinhos de formação em Inhambane

Não nos cansamos de recorrer a Samora Machel quando estamos diante das crianças de qualquer parte do mundo: “As crianças são flores que nunca murcham”. E nós acrescentamos, se forem regadas com carinho, como está a acontecer na Escolinha Nhassanana, no bairro Josina Machel, em Inhambane. Os petizes em alusão, com idades compreendidas entre os três e seis anos, aglutinadas num centro para lidarem com a língua portuguesa, instrumento essencial para a sua futura escolarização, são necessitados e precisam do apoio de todos, sobretudo de padrinhos que possam financiar parte das suas despesas de educação pré-escolar.

A ideia de que os meninos estão aglutinados num centro para lidarem com a língua portuguesa para a sua futura escolarização parece não ter nada de extraordinário, mas quando viramos a página, e encontramos que os seus pais ou encarregados de educação devem pagar uma mensalidade, numa zona em que a maior parte deles não tem meios para tal, mudamos de concepção. Percebemos melhor o valor social que a Escolinha Nhassanana assume na comunidade. “Temos aqui 40 crianças, das quais 22 meninas e 18 rapazes, e muitas outras inscritas, mas, neste momento, não podemos recebê-las porque estamos limitados. Porém, no futuro a situação pode melhorar”.

A Reportagem do @Verdade esteve recentemente na Escolinha Nhassanana, que dista 25 quilómetros do centro da cidade de Inhambane e tudo o que vimos nos pareceu ainda um sonho para aquela instituição cujo grupo-alvo são crianças desfavorecidas moçambicanas vivendo em zona rural no bairro Josina Machel, em Inhambane. Se calhar uma utopia. E todos nós sabemos que na ilusão, tudo aquilo que perseguimos fica mais distante quando estamos perto de alcançar e mesmo assim não paramos.

Peter Sander Augusto, filho de uma alemã e um moçambicano, chegou a Inhambane em 2010 e ficou imediatamente apaixonado por esta terra – como todos aqueles que aqui chegam – de tal forma que nunca mais regressou para o país de origem. Peter tem formação em educação pré-escolar e logo pensou: “Para ficar aqui tenho que fazer alguma coisa e eu sei preparar crianças para entrarem no ensino primário com bases para avançar”.

E foi o que fez, contactando uma organização aqui estabelecida, chamada Associação Positivo Moçambique, que já trabalhava na área e o resto foi acontecendo. Refira-se que a Positivo Moçambique é uma associação de divulgação e de transmissão de mensagens através da arte. Embora a maioria de suas actividades nos últimos anos tenha sido baseada no uso da música e matérias ligadas ao VIH-SIDA, também desenvolve comunicação social interactiva através da pintura, do teatro, da dança e do cinema, dentre outras actividades.

Hoje, a Escola Nhassanana tem 40 crianças sob responsabilidade de dois educadores com formação. Todavia, a sua permanência nas instalações acarreta custos, ou melhor dizendo, cada criança que frequenta aquele estabelecimento devia desembolsar mil meticais. “Ninguém tem esse valor porque as famílias deste local onde estamos, quase todas elas, vivem de rendimentos sazonais”. Mas não é isso que vai fazer voltar atrás um homem que acredita nas suas utopias.

“Fiz alguns contactos aqui em Moçambique e também fora do país, com o apoio da Associação Positivo (porque presto contas a esta instituição), e o que se vê hoje é que estamos a fazer alguma coisa”. Na verdade, a nossa Reportagem constatou que há um trabalho que está a ser desenvolvido. Por exemplo, quando Peter Sander se apercebeu de que nem todos os pais e encarregados de educação poderiam pagar o valor que seria ideal para a instrução dos seus filhos, teve de baixar o montante estabelecido.

O que se verifica hoje é que há famílias que contribuem com apenas 50 meticais. E este dinheiro, de forma alguma, vai cobrir os custos que decorrem da educação e dos lanches que são servidos todos os dias, de segunda a sexta-feira. “Fazemos tudo para servir lanches de qualidade, uma vez que os meninos chegam aqui às 07h:00 e só saem às 12h:00. E, durante este tempo, encontramos um intervalo para elas comerem qualquer coisa”.

De acordo com o nosso interlocutor, que é igualmente director e gestor do estabelecidmento, “as crianças não têm culpa de os seus pais não terem condições para financiar os seus estudos e custear outras despesas de casa. Elas precisam de ser preparadas para o futuro. A maior parte delas – cerca de 75 porcento – chegou aqui sem saber soletrar uma palavra sequer em português, e hoje já há uma luz que se abre na sua mente”. E todo aquele trabalho parece começar do nada. As salas de aula são construídas em material misto, “mas nós queremos evoluir para dar melhor conforto aos miudos.

Felizmente, temos alguns apoios que nos permitem sustentar de alguma forma este projecto e esses apoios vêm de dentro e, também, temos a promessa de um alemão que trabalhou em Tete”. Para um melhor controlo da ajuda que é canalizada à Escolinha Nhassanana, há uma prestação rigorisa de contas. “Prestamos contas à Associação Positivo e, também, damos o relatório aos nossos patrocinadores sobre o uso do dinheiro que eles nos enviam para apoiar as crianças”.

Outro ponto é que o auxílio pode ser feito por “padrinhos”, que eventualmente se podem interessar em pagar as mensalidades de uma criança, “e nós passamos a dar regularmente o relatório sobre esses meninos. É bom que façamos alguma coisa pelas crianças, participando na formação do seu corpo e da sua mente”. Entretanto, enquanto os apoios não vêm com maior substância, a Escolinha Nhassanana vai fazendo o que pode.

“Temos aqui uma padaria e conseguimos vender nos nossos postos instalados, entre 200 e 250 pães por dia, e aos fins-de-semana despachamos cerca de quatrocentas unidades. Com o dinheiro que ganhamos reforçamos o nível de vida aqui. Ainda não é nada, naturalmente, mais não podemos parar. Ficaríamos muito felizes se encontrássemos “padrinhos” para estas crianças, cujo futuro depende, também, de nós.

“A sua contribuição poderia ser feita tornando-se um padrinho de uma criança, em forma de uma doação em dinheiro ou em materiais de que a Escolinha Nhassanana precisa. O padrinho simples oferece 500 meticais por mês e o padrinho maior desembolsa 1.000 meticais”.

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