Um cientista nuclear iraniano morreu quando o seu carro explodiu, atingido por um motociclista, esta Quarta-feira, o que levou o governo do Irão a culpar os agentes israelitas e norte-americanos, mas insistir que o assassinato não o iria desviar do caminho de desenvolver o programa nuclear do país.
A tensão sobre a questão nuclear provoca temores de guerra e ameaça o fornecimento mundial de petróleo. No quinto ataque, à luz do dia, contra os especialistas iranianos em dois anos, a bomba do tipo magnético do assassino provocou uma explosão na porta do sedão prata do engenheiro químico Mostafa Ahmadi-Roshan, de 32 anos, quando conduzia numa rua movimentada, perto da Universidade de Teerão, durante a hora do rush, pela manhã.
O passageiro do carro morreu também, disse a mídia iraniana, e um peão ficou levemente ferido. Israel, cujo chefe militar alertou o Irão, Terça-feira, para esperar mais percalços misteriosos, não quis fazer comentários.
Enquanto muitos analistas enxergam o envolvimento israelita ou ocidental como plausível, não está descartada a possibilidade de que tenha sido obra de iranianos ou tenha outra origem no próprio Oriente Médio.
O assassinato, que deixou destroços a pender nas árvores e partes de corpos na rua, acontece numa semana de tensão.
O Irão iniciou trabalhos numa usina subterrânea de enriquecimento de urânio e sentenciou um norte-americano à morte por espionagem.
O Washington e a Europa aumentaram os esforços para enfraquecer as exportações de petróleo do Irão por sua recusa em suspender o trabalho que, segundo o Ocidente, tem o objectivo de fabricar armas nucleares, e não o de produzir energia como afirma o Irão.
O Irão ameaçou prejudicar o fornecimento do petróleo do Golfo ao Ocidente, provocando uma advertência dos EUA de que a sua Marinha estava preparada a abrir fogo para evitar qualquer bloqueio do estratégico Estreito de Ormuz.
No entanto, os analistas veem o último assassinato, que teria necessitado de preparação, como parte das tentativas de frustrar o programa nuclear do Irão, que incluiu também o vírus de computador e explosões misteriosas.
Embora o temor de guerra tenha aumentado o preço do petróleo, a região já passou por períodos de troca de ameaças e derramamento de sangue limitado sem chegar a um conflito total.
No entanto, a disposição de Israel, que vê uma iminente bomba atómica iraniana como uma ameaça à sua existência, de atacar as instalações nucleares iranianas, com ou sem o apoio dos EUA, aumentou a sensação de que uma crise aproxima-se.
Acto hediondo
A Organização da Energia Atómica do Irão, que não conseguiu persuadir o Ocidente de que a sua busca por energia nuclear não tem um objectivo militar oculto, disse que o assassinato de Ahmadi-Roshan não a deteria: “Continuaremos o nosso caminho sem nenhuma dúvida… o nosso caminho é irreversível”, disse em comunicado transmitido pela televisão.
“O acto hediondo da América e do regime sionista criminoso não desviará o nosso caminho glorioso… quanto mais vocês nos matam, mais nossa nação desperta”.
O primeiro vice-presidente, Mohammad Reza Rahimi, disse, segundo a agência de notícias Irna: “Os inimigos do Irão deveriam saber que não poderão impedir o progresso do Irão com tais actos terroristas”.
Preparando-se para as primeiras eleições nacionais, desde que uma votação presidencial polémica em 2009, provocou protestos de rua contra os 30 anos do governo clerical, os líderes do Irão lutam para conter a tensão interna.
Desafiar Israel e as potências ocidentais cai bem entre muitos eleitores na nação de 76 milhões de habitantes. Israel, cuja agência de inteligência Mossad tem um histórico de assassinatos secretos no exterior, não quis comentar o atentado desta Quarta-feira.
O porta-voz da Casa Branca Tommy Vietor negou qualquer envolvimento do seu país no assassinato do cientista iraniano.
“Os Estados Unidos não tiveram absolutamente nada a ver com isso”, afirmou Vietor. “Nós condenamos fortemente todos os actos de violência, incluindo actos de violência como o que está a ser relatado, Quarta-feira”.
A Grã-Bretanha, cuja embaixada em Teerão foi saqueada em Novembro, descreveu as sugestões dum envolvimento de Londres como “infundadas” e condenou o assassinato de civis.
De qualquer forma, o ataque traz algumas marcas do trabalho das agências de inteligência sofisticadas, capazes de driblar o extenso aparato de segurança do Irão e também de mostrar cuidado em limitar os danos aos passantes.