O maratonista Guor Marial fugiu do Sudão, país africano devastado por uma guerra civil, temendo pela sua vida, mas disse que a luta pela sobrevivência deu-lhe forças para se tornar um competidor olímpico. A jornada extraordinária de Marial da guerra no Sudão de 14 anos atrás aos Jogos de 2012 culmina neste domingo, quando ele competir como um maratonista sem pátria e refugiado na prova de 42 quilómetros.
Enquanto se prepara para a prova, a sua família, que ele não vê desde 1993, está a viajar 48 km, do seu vilarejo sem eletricidade ou telefone até a cidade de Panrieng, no Sudão do Sul, para assistir ao evento na televisão.
Marial, de 28 anos, disse que está correndo por eles e para chamar atenção sobre os refugiados e a sua nação, o país mais novo do mundo e que conquistou a independência em julho do ano passado após um acordo de paz estabelecido com o Sudão em 2005.
O Sudão do Sul ainda não criou um comité olímpico, e por isso não pôde enviar uma delegação aos Jogos de Londres. Marial compete como atleta independente sob a bandeira olímpica. Sequestrado duas vezes no Sudão, Marial perdeu 28 familiares no conflito e disse que carregará o seu país “nos ombros” no domingo.
“Crescer durante a guerra foi perigoso e difícil. Era uma questão de sobrevivência do mais apto”, disse ele numa coletiva de imprensa nesta sexta-feira. “Sinto-me afortunado de ter esse histórico, isso ajudou-me com a corrida e com o cotidiano.”
Depois de fugir do Sudão, Marial foi para o Egito e dali para os Estados Unidos em 2001, então com 16 anos, e hoje vive em Flagstaff, no Arizona. Marial afirmou que nunca correu por prazer no Sudão, e o seu professor de ginástica teve algum trabalho para convencê-lo a abraçar o desporto.
“Em casa, quando corre, você corre do perigo”, disse Marial, diplomado em química. “Mas isso se tornou algo que eu amo e quero continuar a fazer.”
Marial obteve a marca para se classificar para a Olimpíada em outubro passado e aprimorou seu melhor tempo na Califórnia no mês passado, terminando a prova em 2h12min55s – o recorde mundial é 2h03min38s.
Autoridades olímpicas sugeriram que Marial corresse pelo Sudão em Londres, mas ele se recusou, dizendo que seria uma traição ao seu país, à sua família e a todos que morreram na guerra.
Uma semana antes dos Jogos, o Comité Olímpico Internacional (COI) concordou em permitir que ele competisse como atleta independente sob a bandeira olímpica. Marial é um dos quatro desportistas nessa condição em Londres, a terceira Olimpíada a receber atletas com esse status, depois de Barcelona-1992 e Sydney-2000. Os outros três são das ex-Antilhas Holandesas.