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Corpos espalhados perto de vala comum, vigiada pelas FDS, na Gorongosa

Pelo menos 15 corpos estão visíveis, espalhados ao abandono na região da Gorongosa, perto de uma vala comum denunciada à agência Lusa por camponeses, numa zona fortemente vigiada por militares das Forças de Defesa e Segurança, testemunhou a Lusa no local. A presença dos militares não permite o acesso à vala comum onde, segundo camponeses, se encontram mais de cem corpos, mas são visíveis dezena e meia de cadáveres nas imediações, espalhados pelo mato e alguns deles despidos.

Dos 15 corpos encontrados por um pequeno grupo de jornalistas no local, quatro foram largados numa pequena savana, a cerca de 200 metros do cruzamento de Macossa para o interior, e os outros foram deixados debaixo de uma ponte próxima da Estrada Nacional 1 (EN1), a principal estrada de Moçambique.

O local onde foram depositados estes corpos fica a seguir à ponte sobre o rio Muare, no sentido Gorongosa-Caia, e onde se tem feito, ainda que de forma tímida, extração ilegal de ouro.

Os cadáveres são de mulheres e homens jovens, uns deixados recentemente no lugar e outros sem roupas, entre a presença de abutres. As autoridades locais desmentiram a existência da vala comum, denunciada à Lusa por camponeses na quinta-feira.

Mas as testemunhas reiteram a sua versão. “É verdade, vimos os corpos”, afirmou um dos camponeses, que não se quis identificar, contando que o grupo em que seguia foi atraído pelo forte cheiro de putrefacção exalado pelos cadáveres. Estavam “a deitar na cova, nós chegámos lá e vimos [os corpos] serem comidos pelos passarinhos”, descreveu o camponês, sem comentar a origem dos mortos, muitos deles também sem roupas e em diferentes estados de decomposição.

Segundo os camponeses, a vala comum, com uma centena de cadáveres, localiza-se na zona 76, entre Muare e Tropa, no posto administrativo de Canda, distrito da Gorongosa, uma região que se mantém sob vigilância de militares e da polícia e que tem sido marcada por confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).

O administrador da Gorongosa contrariou na sexta-feira o relato do grupo de camponeses que, no dia anterior, asseguraram à Lusa terem observado a vala comum.

Segundo Manuel Jamaca, uma equipa do governo distrital foi enviada ao local, mas não encontrou nada e o Governo provincial de Sofala também negou a existência de uma vala comum na região da Gorongosa.

A polícia de Sofala anunciou, na sexta-feira, que vai iniciar uma investigação para apurar a veracidade da descoberta.

Apesar do desmentido, a Comissão de Direitos Humanos de Moçambique quer apurar a veracidade dos relatos, adiantado que, a confirmarem-se, é um caso “muito preocupante” e instando o Ministério Público a investigar.

Também o líder do terceiro partido moçambicano no parlamento, Movimento Democrático de Moçambique (MDM), exige o envolvimento da justiça e da Assembleia da República no esclarecimento da denúncia dos camponeses.

Daviz Simango, líder do MDM, disse à Lusa que os relatos estão alinhados com as informações em posse do seu partido e o desaparecimento de pessoas na região, mas que “as autoridades vão sempre desmentir”.

O grupo de camponeses que conduziu os jornalistas disse ter medo de falar com pessoas que não são da região, à semelhança de todas as comunidades locais, que evitam falar sobre qualquer assunto com estranhos, mesmo que o assunto não seja sobre os problemas de segurança.

“Com esta situação militar, as coisas mudaram”, afirmou um dos camponeses.

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