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“Coronavírus trouxe-nos a pior crise de todos os tempos” agricultor de Alto-Molócue

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O cumprimento escrupuloso das medidas de prevenção e combate à pandemia da covid-19 deixou milhares de agricultores do Distrito de Alto-Molócue sem local para venderem a sua produção. “O coronavírus trouxe-nos a pior crise de todos os tempos, nós colocávamos os nossos produtos lá na nossa localidade em feiras que eram realizadas aos sábados, mas foram canceladas”, lamentou Evaristo Murassama.

Nem mesmo a dramática 3ª vaga da pandemia respiratória assustou os habitantes do Distrito de Alto-Molócue, dos cerca de 124 mil habitantes apenas 107 testaram positivo para o SARS-CoV-2 desde o seu início em Março de 2020. No entanto quase todos sentem no quotidiano as medidas de prevenção e combate afectaram a economia desta região fundamentalmente agrária.

“O coronavírus trouxe-nos a pior crise de todos os tempos, nós colocávamos os nossos produtos lá na nossa localidade em feiras que eram realizadas aos sábados, mas foram canceladas. Somos obrigados a sair de noite e em grupo para ir vender na sede do distrito ou pelo menos para conseguir algo em troca”, disse ao @Verdade Evaristo Murassama, pequeno agricultor de 53 anos de idade que reside na localidade de Nauela com os seus nove filhos e esposa.

Com os celeiros cheios de milho, feijões e mandioca da campanha agrária passada Evaristo Murassama e outros agricultores pedalam quase 50 quilómetros até a sede do distrito transportando o máximo de produtos que a bicicleta permite no intuito de vender e conseguir adquirir pelo menos o sal, açúcar, sabão e óleo alimentar para a sua família.

Para além da distância as sobrecarregadas bicicletas enfrentam vias de terra batida em mau estado. “Não temos outra alternativa, senão carregar os nossos produtos em pequenas quantidades para a sede do distrito, porque com as feiras muitos comerciantes se deslocavam para nossa localidade a fim de comprar os nossos produtos. Agora se não trouxermos de bicicletas corremos o risco de perder todo excedente resultante da campanha agrícola”, relatou Mário Santo, outro pequeno agricultor da localidade de Nauela.

Emiliano Namuraha, outro pequeno agricultor, explicou que a esta altura priorizam a venda de feijões porque o mercado assim o dita, “por exemplo, um saco de 50 quilograma de milho vendemos a 1000 meticais enquanto pela mesma quantidade de feijões conseguimos 3 mil meticais da mesma quantidade de feijão manteiga”.

Mas apesar dos poucos casos diagnosticados o “barulho sobre a covid” gerou alguma desconfiança e discriminação para quem tem de se movimentar pelo distrito. “Nós que arriscamos a ir até à vila sede quando regressamos somos descriminados, são poucas as pessoas que chegam em nossas casas, somos suspeitos de ter carregado connosco o vírus, e isso afecta igualmente as nossas famílias, que são proibidas em chegar em algumas casas vizinhas”, revelou ainda Emiliano Namuraha acrescentando que até houve um encontro com a liderança tradicional onde foram avisados para evitar as viagens em busca do sustento.

Diante destas dificuldades para encontrar compradores para a sua produção os pequenos agricultores perspectivam reduzir a produção na nova campanha que se avizinha pois alguma da produção começa a deteriorar-se nos celeiros.

Custo de vida aumenta em Alto Molócue devido a covid-19

Na sede do Distrito de Alto Molócue, concretamente no mercado informal do terminal de transportes ao longo da Estrada Nacional nº1, que liga as províncias do Centro e Norte do país, há escassez de produtos agrícolas e por isso os preços dispararam.

“Saíamos daqui para as localidades levando óleo, açúcar, sal, insumos agrícolas entre outros para vender nas feiras semanais onde comprávamos feijões, milho, mandioca, batata, galinhas e outros produtos dos agricultores, mas com a doença tudo parou”, lembrou Amido Adolfo, um jovem comerciante de 27 anos de idade, residente no bairro 1º de Maio na sede do Distrito de Alto Molócue.

Mariamo Júlio, outra comerciante informal, recorda “abracei o comercio informal há mais de 5 anos, vendia feijão manteiga e milho que eu adquiria pelas localidades. Com os lucros consegui construir minha casa de alvenaria e conseguia manter as minhas crianças na escola”.

“Antes da covid-19 conseguia em média diária 2 mil meticais, actualmente as coisas mudaram, há escassez de produtos e por outro lado, os preços subiram, para não ficar parada preferi abdicar dos cereais e vendo mais hortícolas, assim que as coisas votarem a normalidade irei dar continuidade” desabafou a comerciante que cria sozinha duas meninas no bairro Mucaca.

Do Governo os empobrecidos residentes do Distrito de Alto Molócue apenas ouvem “sensibilização”, “lavar as mãos”, apoios sociais e a actividade produtiva nem ver.

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