Algumas pessoas, não poucas, consomem, diariamente, o sal não iodado, adquirido, sobretudo, no mercado informal em condições de venda anti-higiénicas. Contudo, não imaginam sequer os perigos que esta prática acarreta para a sua saúde. A nutricionista do Ministério da Saúde, Yara Ngovene, adverte que consumir sal não iodado traz vários problemas tais como atraso mental, redução da capacidade de trabalhar, surdez, mudez, abortos espontâneos, nascimento de bebés pequenos, apáticos, doentes e com o corpo deformado e bócio.
Segundo a nutricionista, a maioria da população moçambicana não sabe que a falta de iodo no sal e noutros alimentos degrada o cérebro. A sua consciencialização para que perceba a importância do uso do sal iodado é um dos grandes desafios porque em parte factores como as crenças culturais, o desconhecimento das vantagens do iodo para a saúde e a falta de informação influenciam bastante nas pessoas.
O iodo é um elemento relevante para a saúde do homem porque contém cloreto de sódio e íones úteis para a sobrevivência dos seres humanos, através da regulação de água no organismo. A glândula tiroide, por exemplo, produz hormonas graças ao iodo recebido dos alimentos, essenciais para o desenvolvimento e funcionamento normal do cérebro, do sistema nervoso central, manutenção da temperatura do corpo e o crescimento.
Yara Ngovene aconselha aos cidadãos para que sempre que forem comprar sal, verifiquem se é ou não iodado. Todos devem consumi-lo, principalmente, os jovens, os adultos, os idosos e as mulheres em idade reprodutiva ou grávidas. As necessidades de Iodo aumentam nas crianças e adolescentes porque estão a crescer, e nas mulheres durante a gravidez e quando estão a amamentar. Por isso, as crianças e as mulheres são as mais afectadas pelas doenças devido a falta de Iodo.
As vantagens do seu consumo são várias para o organismo: reduz o risco de atraso mental, garante o bom desenvolvimento físico dos bebés recém-nascidos e combate o surgimento do bócio, uma doença que se manifesta através do inchaço no pescoço. O sal sem Iodo traz problemas como de dificuldades de aprendizagem, redução da capacidade de trabalhar, surdez e mudez, abortos espontâneos, nascimento do bebé com baixo peso.
O bócio é o aumento do tamanho da glândula tiróide que se encontra no pescoço. Quando existe pouco Iodo no corpo, esta glândula aumenta o seu volume ao tentar recolher mais Iodo. Muitas vezes o tamanho do bócio cresce nas mulheres durante a gravidez, porque o seu corpo precisa de mais Iodo para o crescimento do bebé.
De acordo com a nutricionista, um estudo realizado pela Repartição de Nutrição no Ministério da Saúde em 2004, as crianças em idade escolar dos seis aos 12 meses de vida, estimado em 15 porcento sofrem de bócio. As províncias do Niassa, Nampula, Tete e Zambézia são as mais afectadas. Os problemas derivados da falta do iodo no organismo aumentam gastos relacionados com a saúde e educação, uma vez que concorre para o incremento das taxas de repetição e evasão escolar.
E mais, a insuficiência do iodo associada à desnutrição proteico- -calórica é ainda prevalecente em Moçambique e faz com que se perpetue o ciclo de pobreza que impede o desenvolvimento humano e acarreta prejuízos socioeconómicos aos cofres do Estado, concluiu.
Governo capacita produtores em matéria de iodização do sal
De acordo com o Programa Nacional de Iodização do Sal, implementado pelo Governo com o apoio do UNICEF e parceiros, os produtores nacionais têm sido capacitados sobre a importância e as técnicas de iodização. Esta intervenção inclui o apoio na aquisição de iodato de potássio e no fornecimento de laboratórios portáteis para os próprios produtores testarem os níveis de iodo.
Actualmente só há um laboratório nacional, localizado em Maputo. Entretanto, as autoridades nacionais referem que persiste a resistência ao uso do sal iodado, devido, em parte, à fraca disponibilidade deste mesmo condimento alimentar no mercado nacional. Os dados do último Inquérito Sobre Indicadores Múltiplos (MICS) de 2008 indicam que no país 58 porcento dos agregados familiares usam sal pouco iodado e outros 25 porcento consomem sal devidamente iodado.
Um estudo do Ministério da Saúde, que abrangeu cerca de 500 mulheres em idade reprodutiva na província de Nampula, constatou que o conhecimento de que o sal iodado melhora o desempenho escolar aumentou de 9 para 35 porcento num espaço de um ano e meio naquela parcela do país.
O cidadão na primeira pessoa
João Machel reside no bairro do Xipamanine. Ele é um dos poucos que sabem que o consumo do sal sem iodo atenta contra a saúde.
“As pessoas com conhecimento de que o consumo do sal iodado é vantajoso devem engajar-se na divulgação e promoção de informações a respeito deste assunto, e envolver diferentes faixas etárias e os próprios vendedores de sal”.
Marta Chaúque é vendedeira de sal não iodado no Mercado do Xipamanine. Afirma que tem muita procura porque por dia chega a vender em média três sacos de 10 quilogramas cada, ou seja, 30 quilos. Ela disse que não sabe o perigo que o consumo de sal não iodado traz para o organismo humano.
“Da forma como as pessoas compram o sal, demonstra que não há nenhum risco para a saúde. Ninguém quer arriscar a sua vida”, considerou, sem no entanto a noção de que os seus clientes não têm informação de que se deve evitar ao máximo o sal sem iodo.
Segundo ela, para além de ainda não ter conhecimento de casos de pessoas com problemas de saúde por causa do consumo de sal não iodado, algumas pessoas “não gostam do sal embalado (tratado e com iodo) porque afirmam que altera o gosto e reduz o apetite”.
Manuel Manhiça, morador do bairro da Malhangalene “B”, considera que “não existe melhor sal do que o natural, retirado directamente da salina para panela porque nele nada se perde. Durante a refinação ou iodização há desperdícios. Não há necessidade para consumir sal iodado uma vez que contém substâncias químicas. Para mim a ciência perdeu credibilidade pois diz algo hoje e no dia seguinte contradiz. Já consumi tantos quilos de sal não iodado mas ainda me sinto bem. Não sofro de nenhum problema”.
O que é sal iodado?
O sal iodado é aquele que contém Iodo. O Iodo é um mineral essencial para o crescimento e desenvolvimento do corpo humano. Sem ele, o corpo e o cérebro não se desenvolvem adequadamente. A sua falta considerada é a causa mais comum da deficiência mental no mundo, mas pode ser prevenida.
A quantidade diária de Iodo que o organismo precisa é muito pequena. O total que uma pessoa precisa durante toda a sua vida é uma quantidade equivalente a uma colher de chá.
O Iodo está disponível nos alimentos do mar, como o peixe, mariscos, mas como o acesso a estes alimentos é difícil em muitos casos, decidiu-se pôr o iodo no sal, de modo a enfrentarmos os problemas causados pela sua falta.