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Congo debate status cultural de Tintin às vésperas da cúpula

Qualquer fã de Tintin iria sentir-se em casa no pequeno galpão de madeira numa rua afastada da capital da República Democrática do Congo, Kinshasa, onde as prateleiras estão repletas de estátuas pintadas das aventuras do famoso personagem belga.

Rostos amigáveis estão em toda a parte – Tintin com os seus tufos de cabelos, o barbudo Capitão Haddock e os policiais trapalhões Thomson & Thompson -, carinhosamente esculpidos em madeira e pintados cuidadosamente com cores ousadas.

Mas com o país a preparar-se para receber uma enxurrada de visitantes para um fórum internacional de nações de língua francesa, próximo mês, alguns estão a questionar se o Congo deveria virar as costas para o jovem jornalista, cujas aventuras ficcionais na então colónia belga mostram os africanos como tolos e infantis.

A relação de Tintin com o Congo remonta a 1930 quando o seu criador, Georges Remi – mais conhecido pelo pseudónimo, Hergé -, escreveu pela primeira vez “Tintim no Congo”, em que o intrépido repórter e o seu cachorrinho branco enfrentam animais selvagens, caçadores, contrabandistas de diamante e chefes tribais.

As estátuas de Tintin – que podem ser compradas por entre 15 dólares e 1.500 dólares – são parte do grande comércio no Congo de artigos itens coleccionáveis de quadrinhos, um negócio que poderia receber um impulso, próximo mês, com a presença dos delegados de 56 países de língua francesa em Kinshasa para a cúpula da Francofonia.

Mas é a representação muito estereotipada dos africanos como selvagens infantis de lábios gordos que torna Tintin uma figura cultural controversa para um país que tenta virar as costas para um passado colonial brutal, seguido por décadas de ditadura e de conflito, de acordo com o professor Joseph Ibongo Gilungule, diretor do Museu Nacional do Congo.

“O Tintin é uma imagem criada pelos ocidentais, e isso prova a ignorância dessas pessoas, a falta de compreensão dos nossos valores”, disse Ibongo à Reuters.

Ibongo quer que mais pessoas celebrem as culturas ricas dos cerca de 250 grupos étnicos do país. O professor não é contra a preservação de relíquias do passado colonial do Congo – ele está a tentar encontrar o dinheiro para restaurar a imagem do polémico explorador colonial britânico Henry Morton Stanley, que se encontra caída atrás de um galpão no museu.

Mas com tantas pessoas a deverem visitar o país para a cúpula da Francofonia, em Outubro, ele acredita que o Congo deveria encontrar um garoto-propaganda melhor do que Tintin.

“Há outras imagens fortes que falam positivamente do país, dos seus povos… Seria mais respeitoso ao Congo e a toda a África se falássemos de imagens que valorizam o Congo, e não de Tintin”, acrescentou Ibongo.

O próprio criador de Tintin posteriormente reescreveu partes da história, suavizando os estereótipos mais extremos que surgiram da colonização belga do Congo, que foi brutal mesmo para os padrões da época.

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