Mais de 120 manifestantes ficaram feridos em confrontos com a polícia do Barein nesta semana, disseram ativistas esta quarta-feira, e um dirigente da oposição afirmou que o governo começou a sondar a possibilidade de um diálogo para resolver a crise iniciada há um ano. Ativistas sob o nome de “Coligação Juvenil 14 de Fevereiro” convocaram mais manifestações, um dia depois dos protestos que marcaram o primeiro aniversário de um movimento pró-democracia que foi reprimido com violência pelo reino, e que tinha um subtexto de confronto sectário entre xiitas e sunitas.
Houve confrontos em Musalla, perto de Manama (capital), e na turbulenta localidade de Sitra. Em Sanabis, aldeia xiita nos arredores da capital, e em Budaiya, um bairro na periferia de Manama, a polícia ia de casa em casa detendo pessoas.
“Houve mais de 100 casos (de feridos) na terça-feira, e 37 deles são graves, com lesões na cabeça e fraturas”, disse um paramédico que trabalha em uma organização internacional e que pediu para não ser identificado.
“Na segunda-feira, tivemos 20 pessoas (feridas) em aldeias de todo o país.” Essa fonte disse que vários feridos foram atingidos por armas de caça, que a polícia do Barein nega empregar.
A maioria das vítimas recebeu atendimento em domicílios ou clínicas privadas, porque os manifestantes da maioria xiita receiam ser presos se forem a hospitais públicos.
O Barein, um pequeno país insular, tem população com maioria xiita, mas é governado por uma família real sunita. No ano passado, o governo pediu a intervenção de tropas sauditas para esmagar uma revolta que durou um mês.
Pelo menos 35 pessoas morreram nos protestos de 2011, que foram parte da chamada Primavera Árabe.
Confrontos entre manifestantes xiitas e a tropa de choque da polícia continuam a ser frequentes, enquanto governo e oposição se acusam mutuamente de rejeitar o diálogo.
Mas Abduljalil Khalil, chefe de um grupo parlamentar do partido xiita Wefaq, o principal da oposição, disse que, a convite do governo, três dirigentes da oposição se reuniram há duas semanas com o ministro da Corte Real, xeique Khaled bin Ahmed, personalidade poderosa dentro da família governante Al Khalifa.
Khalil disse que os oposicionistas reiteram a reivindicação, adotada em outubro no chamado Documento de Manama, por um referendo que leve o país a uma democracia parlamentar plena. Esse tipo de medida destinada a restringir os poderes de uma dinastia monárquica seria algo inédito no golfo Pérsico.
“Ele (Ahmed) perguntou se estamos prontos para o diálogo, dissemos que sim, mas um que seja sério e construtivo”, disse Khalil. “Apresentamos nossas visões sobre como sair desta confusão. Ele disse que vai nos responder … Agora estamos no primeiro aniversário do 14 de fevereiro, e a ação de segurança não funcionou. Eles percebem que precisam ter uma solução política.”
Num sinal de divisões dentro da oposição, alguns ativistas criticaram o Wefaq por dialogar com Ahmed, visto como mentor de uma suposta política -negada pelo governo- que consistiria em atrair imigrantes do Paquistão e de países árabes para aumentar a presença de sunitas na população.