Uma mulher sudanesa que foi poupada de uma sentença de morte por se converter do islamismo para o cristianismo, mas estava proibida de deixar o Sudão, voou para Roma nesta quinta-feira num avião do governo italiano. Mariam Yahya Ibrahim, cuja sentença e prisão desencadearam uma comoção internacional, saiu da aeronave com seu bebé no colo e foi saudada pelo primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi. Horas depois, ela, o marido e os dois filhos foram recebidos pelo Papa Francisco num encontro privado, no Vaticano.
“O Papa a agradeceu pelo seu testemunho de fé”, disse o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
Não foram divulgados detalhes sobre o que levou à saída da jovem de 27 anos do país, após um mês com a situação indefinida em Cartum, mas um alto funcionário sudanês disse que a sua partida havia sido autorizada pelo governo. “As autoridades não evitaram a saída dela, que era conhecida e foi aprovada com antecedência”, disse o funcionário à Reuters sob condição de anonimato.
Mariam foi acompanhada no avião pelo vice-ministro de Relações Exteriores da Itália, Lapo Pistelli. Ele disse a jornalistas no aeroporto Ciampino, em Roma, que a Itália estava em “constante diálogo” com o Sudão, mas não deu mais detalhes sobre o papel de Roma na remoção da mulher do país africano. Ele publicou uma fotografia na sua página no Facebook dele com Mariam e os seus dois filhos no avião, com a legenda: “A alguns minutos de distância de Roma. Missão cumprida”.
Mariam foi sentenciada à morte em maio sob a acusação de ter se convertido do Islã para a fé cristã e ter se casado com um sul-suldanês com cidadania norte-americana, também cristão. A condenação foi suspensa no mês passado, mas o governo do Sudão a acusou de mentir para deixar o país com papéis falsificados, e a impediu de partir para os Estados Unidos com o marido e dois filhos. Ela foi inicialmente detida, e então libertada e alocada na embaixada dos Estados Unidos em Cartum.
Pistelli disse a repórteres no aeroporto que a família estava em boa saúde e ficaria na Itália por alguns dias antes de ir para os Estados Unidos. O ministro, que carregava um dos filhos de Mariam no avião, disse esperar que ela tenha algumas “importantes reuniões” durante o seu período na Itália.
Mariam diz ter nascido cristã e criada como cristã por uma família etíope no Sudão, e mais tarde sequestrada por uma família muçulmana sudanesa.
Mulheres muçulmanas não podem casar com homens cristãos sob a lei islâmica no Sudão.