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Comunidades em Tacuane e Muabanama vivem em harmonia com a floresta

Comunidades em Tacuane e Muabanama vivem em harmonia com a floresta

Foto cedida pela Justiça AmbientalMais do que nunca o mundo sente os efeitos dos danos que o Homem tem causado à Terra, da exploração desenfreada dos recursos naturais à poluição, passando pela extinção de outros seres vivos com quem deveríamos viver em harmonia, como vivem alguns moçambicanos numa espécie de paraíso existente na província da Zambézia onde, “não precisamos regar nem adubar, a terra é muito fértil”.

Calisto André e Alberto Matanje são residentes desta espécie de paraíso, que resistiu aos anos da guerra civil, tenta resistir ao boom económico que se vive em Moçambique com a exploração não sustentável daquilo que a Mãe Terra nos deu de borla: água, solos férteis, árvores, ar não poluído.

Vivem em comunidade desde sempre em Tacuane e Muabanama, onde os seus país e avós também viveram, postos administrativos do distrito de Lugela, que se localizam nos arredores do monte Mabu uma região onde existe uma floresta tropical, até há dez anos desconhecida.

Da terra, com enxadas e outros instrumentos rudimentares, tiram-se a comida necessária para a alimentação da família e ainda produzem-se excedente, que vendem na sede do distrito onde adquirem alguns bens que a natureza não dá como o sal, vestuário ou mesmo recargas de telemóvel.

Como é que conseguem produzir a terra sem necessidade de adubos, tractores ou outros meios industriais?

A proximidade da floresta tropical, que segundo especialistas encontra-se em excelente estado de preservação, é o segredo. “A floresta actua na regulação da quantidade e qualidade da água que alimenta os rios que nascem no monte, além de armazenar água para que rios e riachos continuem a fluir tanto na estação chuvosa como na seca” segundo uma publicação da ONG Fauna & Flora International.

“Quando os turistas chegam trazem as suas garrafas de água mas depois descobrem que a água aqui é fria e muito boa” afirma Calisto que refere que a sua comunidade, e outras três, organizadas em Associação locais que juntam alguns milhares de moçambicanos, “reuniram, debateram e pensaram em ter uma área de conservação”, onde pretendem criar abelhas, fazer agricultura e, quando conseguirem o respectivo direito legal de uso e aproveitamento da terra (DUAT), erguerem uma unidade hoteleira eco-turística.

Foto cedida pela Justiça AmbientalAlém da água esta floresta de sete mil hectares, a maior de média altitude tropical na África Austral, guarda plantas, de algumas espécies antes desconhecidas, e também animais selvagens, que incluem aves raras, borboletas novas, macacos, leões, leopardos, cobras, uma delas de uma nova espécie gigante identificados por uma expedição de cientistas em 2008 visitou o local, após descobrirem a floresta em 2005 com recurso ao aplicativo de mapas Google Earth.

Desde a descoberta da floresta, além de biólogos e outros estudiosos, tem escalado a região outros visitantes, que acabam por trazer as suas tendas e meios de subsistência o que pode contribuir para a não preservação do ecossistema, daí surgiu a ideia de investir no eco-turismo que poderá também contribuir para o desenvolvimento sócio-económico das comunidades.

Ao contrário de várias outras regiões do nosso país onde é habitual ouvir falar-se em conflito Homem vs Animal nesta comunidades a floresta, e tudo que nela existe, é respeitado. “Nesta idade que estou nunca vi uma pessoa ser comida por leão” confidencia-nos Calisto que tem 45 anos de idade. “Há leis tradicionais, por exemplo a comunidade quando vai caçar (veados para alimentação), antes de iniciarem um velho explica as leis, há árvores que não se pode aproximar.”

Essas leis ajudam, segundo ele, a evitar vários dos perigos da floresta, “para as cobras, que na nossa língua tradicional chamamos nhoa, lá na floresta não usamos esse nome dizemos mungoi, quer dizer corda. Também não se pode caçar de camisa e sapatos. Até as pedras não chamamos por esse nome dizemos muchen. Na floresta também encontras bananeiras e ananazeiros, mas não podes comer os dois, tens que escolher uma das frutas”.

“Nós estamos felizes” e, nem mesmo a inexistência de energia eléctrica, ou o facto do posto de saúde mais próximo das comunidades estar há mais de 20 quilómetros de distância, ou estrada de terra “precisar de ser mais batida” ou ainda a falta de uma moagem, fazem com que Calisto e Alberto ambicionem viver numa cidade, como Maputo onde os encontramos a participarem num seminário internacional que a Justiça Ambiental está a promover sobre mudanças climáticas.

Enquanto o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Kin Moon, apela a comunidade global, por ocasião do “Dia da Mãe Terra”, que nesta quarta-feira(22) se comemorou, para que faça do ano de 2015 “o ano em que os nossos filhos e netos se irão lembrar como o ano em que escolhemos construir um futuro sustentável e resiliente” as comunidades em Tacuane e Muabanama já vivem de forma sustentável há séculos e assim pretendem continuar se os nossos governantes permitirem.

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